Capítulo 2

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Estou sentada no colchão de palha, há um ruído ensurdecedor do anunciador da colônia.

Meu coração acelera, e minha cabeça dói como se alguém tivesse me dado uma surra. Não consigo ouvir nada do que Peter está falando. Não consigo tapar meus ouvidos. Eu não sei o que está acontecendo.

Vozes se misturam com o ruído, mesmo que ainda esteja escuro, consigo sentir a apreensão da sala.

Algumas pessoas se levantam, ligam as suas lanternas tão fracas quanto a minha, e correm para verificar se as portas e janelas da casa continuam trancadas. É claro que continuam – penso, os militantes não fariam cerimônias para invadir. Entrariam atirando.

O ruído se cessa.

Meus olhos pairam por toda a sala, a procura dos meus amigos. Continuo sentada, porque sei que se eu levantasse, cairia. Estou com medo.

- acabou? – Alguém cochicha.

Tiros.

Levanto-me de supetão.

Gritos.

Peter segura meus braços com força, tento me soltar, mas não consigo. Sacudo-me, grito junto com os gritos ensurdecedores e os barulhos de tiros. Peter me abraça, na esperança de que isso me acalme.

"Está tudo bem" ele diz. Começo a chorar toda a minha alma.

"Está tudo bem"- ele cochicha em meus ouvidos novamente.

Mas não está tudo bem.

Estou desesperada.

Sinto uma dor que não posso descrever. Como o mundo pode ter se tornado um lugar tão horrível de se viver?

"Está tudo bem". Peter diz o tempo todo: "está tudo bem".

Como ele consegue ser tão forte, quando não há de onde tirar forças?

O som que sai do anunciador, não é mais o ensurdecedor e agonizante de ruídos, ao contrário, ouço gritos, suplicas e dor. Pessoas gritam o tempo todo. Como se fizessem uma sinfonia.

Eles estão anunciando o nome de algumas colônias, depois, torturando as pessoas que vivem nesse lugar, há barulho de balas sendo chocadas contra corpos. E silêncio. Muito silêncio...

Quando acho que irão cessar eles passam para a próxima colônia, e tudo volta a acontecer.

Separo-me de Peter, escoro-me na estante de livros que está ao meu lado para que eu não caia, fecho meus olhos, e balanço a cabeça tentando recuperar os pensamentos. Aperto com força a estante, sinto um nó na garganta, uma vontade incessante de tentar ajuda-los. Mas, não posso. Eu não posso fazer absolutamente anda, além de continuar aqui, enquanto pessoas morrem.

Os gritos se intensificam.

Meu Deus faça parar.

Respiro e solto o ar tentando parar de chorar, tentando fazer com que essa ânsia que sinto passe, que essa ansiedade vá embora. Mas, a única coisa que consigo fazer é suplicar em meus pensamentos por misericórdia.

Mais tiros.

Mais gritos.

Silêncio.

Mais pessoas mortas.

Levanto minha cabeça e tento procurar por Tereza, Matth e Goes.

Pego a minha lanterna do bolso, e ilumino a sala onde estou. Vejo meus amigos ajudando uns aos outros, e pessoas paralisadas. Outras chorando. Tereza está pior do que eu. Seu semblante é de pavor. Thomas a consola, como se fosse à coisa mais importante que poderia fazer. Me falta ar.

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