Alan e as Terras do Norte

Uma viagem de última hora

Meu nome é Alan, hoje é domingo e acabei de receber a notícia que viajaremos para o norte, eu e meus pais, para o Reino Gelado. Eu sou o príncipe herdeiro do Reino da Neve, e meus pais são os reis.

É cedo, e acabei de tomar o café da manhã, o mordomo chegou anunciando que partiremos antes das nove, coloco um moletom azul escuro com capuz, e uma calça jeans marrom com um All Star preto. Finalmente alguma coisa interessante para fazer além de ficar observando a neve caindo, e vou ver Alexia, nós não nos encontramos desde a última vez que eu e meus pais visitamos o Reino Gelado, faz uns três anos, estou com dezesseis agora, eu e ela éramos duas crianças brincando nos jardins do castelo, era o começo do outono, um outono que se transformou em inverno e até agora não acabou.

Eu vou para o banheiro do meu quarto, me olho no espelho, sou um garoto alto e magro, arrumo meu cabelo, ele é cinza, olho para meus olhos azuis e percebo minha boca e nariz finos, meu rosto é fino também. Minha mãe diz que eu sou muito bonito, eu respondo que é manha de mãe, meus amigos me chamam de feio, o que é gozação comigo, as meninas da escola dizem que eu sou bonito, eu penso que é interesse, no fim das contas eu não me acho bonito ou feio.

Saímos do castelo a pé mesmo e, passando pelo vilarejo, vemos as pessoas andando pelas ruas, todas conhecidas e a maioria amigos dos meus pais, o Reino da Neve não é o maior, nem mesmo o mais rico, as casas são em sua maioria de madeira com seus tetos sempre cobertos de neve que nunca derretem. As vezes é melancólico passar pela cidade e ver todos sempre fazendo a mesma coisa. Passamos na padaria para comprar alguma coisa que comer na estrada, ela é uma casinha de pedra sustentada com vigas de madeira e uma porta entre duas janelas que leva ao interior.

Aqui é um bom lugar para viver, tranquilo, com pessoas amigáveis, ou talvez algumas nem tanto, não existem casas muito afastadas, a escola é boa, e há poucos criminosos. Eu nasci e cresci aqui, é com certeza minha casa e eu não trocaria por nada. Sempre morei no castelo brincando com meus amigos e meus primos, eu tenho apenas dois tios, irmãos da minha mãe, e a tia Lúcia, irmã do meu pai.

Você já deve ter imaginado que ser um príncipe é muito bom, mas tem lá suas desvantagens, meus pais estão sempre ocupados com seus trabalhos de governar o país, eles se esforçam o máximo para sempre me dar atenção, e quando eles não podem eu consigo isso sozinho. Na escola é muito difícil não chamar atenção quando se é o futuro rei, é muito fácil achar pessoas falsas tentando ser meu amigo em busca de vantagens, é claro que tenho que ser simpático com todo mundo, mas é só com meus amigos que sou eu mesmo.

Na saída do vilarejo vemos os Campos Brancos cobertos de neve a oeste e a Floresta Invernal a leste, que é o caminho que seguiremos para o norte em direção ao Reino Gelado, uma chuva fina de neve começa a cair, entramos na carruagem guiada por dois cavalos marrons, o cocheiro é um homem de bigode e cabelos negros está coberto com um manto cinza e usa um chapéu, a brisa bate em seu peito.

Minha mãe está distraída olhando para o vazio com seus olhos azuis, sua pele é clara como a neve e os cabelos loiros ela está usando um vestido roxo, seu nome é Nívea, meu pai, o rei Bernardo, tem olhos e cabelos brancos, ele está concentrado lendo cartas de outros reinos. Minha mãe me abraça de lado e me dá um beijo na cabeça.

Já faz tanto tempo que nós não fazemos uma viagem, desculpe termos que sair assim tão depressa, o rei Linus tem assuntos muito importante para tratar - fala minha mãe com um rosto preocupado mas calmo, ela é sempre muito serena - olhe só o Raul está se mexendo aqui dentro - ela coloca a mão na barriga, está grávida do meu irmão.

Ter um irmão para mim é uma novidade, segundo todos, é terrível, mas eu me sinto animado, não acho que seja má ideia.

A estrada que era boa, está se tornando pedregosa agora, ela segue rente a floresta as vezes entrando nela, a chuva de neve está se tornando uma nevasca, e o caminho parece não ter fim, desde que o inverno começou neva muito aqui então o frio já não incomoda tanto.