Ontem peguei no sono as 2:00am, totalmente normal para a rotina desregrada que possuo, mas o anormal foi o sonho.
As chamas dançavam pela casa em uma música composta pelos gritos aterrorizados, eu estava escondida de baixo da mesa de mogno puro, nada aconselhável nas situações do momento mas eu não tinha controle sobre nada, por que não era um real sonho, era mais como se eu estivesse somente dentro do corpo do personagem principal de um filme. Pés corriam a minha frente, os barulhos de pancadas contra algum vidro indicavam a inútil tentativa das visitas de quebrar alguma das janelas, mas, como disse, era inútil.
O fogo começou a rodear a mesa, óbvio que isso iria acontecer, desde o início desse duro sonho eu, estranhamente, sabia o que aconteceria. O fogo já estava queimando ao meu redor, eu tinha somente duas opções: ou ficava ali e morria cremada, ou eu me queimava e saia de lá.
Escolhi a segunda.
Eu já estava correndo e arrevessando o fogo quando esses pensamentos investiram minha mente.
Não havia mais tempo.
O fogo tocou minha pele e eu senti a dor insuportável atingir meus nervos, e então eu acordei.
Estava sentada na cama suando frio e minha garganta seca e arranhada insinuava que minha respiração estava fria e totalmente irregular. Estava em choque pelo sonho e fiquei olhando a parede branca nua a minha frente.
Levantei-me mesmo contra a vontade do meu corpo. A academia que eu havia feito na noite passada definitivamente não havia sido uma boa escolha.
Dirigi-me para a porta de vidro que levava a pequena varanda do quarto enquanto limpava com a mão minha testa e nuca úmidas. Juntamente abri as duas partes da cortina esperado que o forte sol de janeiro inundasse meu corpo e quarto ao meu redor purificando tudo o que tocasse, mas não foi essa minha sensação e nem minha visão.
Ao abrir de vagar meus olhos, como se realmente tivesse acabado de acordar, a primeira coisa que vi foi o breu. Aquele céu escuro e nublado como em um filme em preto e branco não transmitia nenhuma felicidade ou incentivo de começar um bom dia, mas esse era o primeiro dia de aula do ano, então se estivesse escuro ou claro não me importaria, eu mesma teria de fazer que este dia fosse bom! Deixei de lado a frágil esperança de assistir ao lindo nascer do sol e fui para o meu armário. Ao chegar lá, observei a roupa que havia separado no dia anterior para usar hoje e sorri. Realmente havia sido uma boa escolha. Revisei meu material e somente então entrei no banheiro para me cuidar.
Tomei um banho quente para tentar relaxar os músculos contraídos pela dura noite de pesadelos. Eu já tinha aquele mesmo pesadelo de uma lembrança a muito tempo, quando não eram sobre outras partes da mesma tragédia, como se fossem outras visões da mesma cena deste triste filme. Mas não importava se fosse de alguém fora da casa, dentro tentado sair ou até mesmo a pessoa embaixo da mesa, a sensação sempre era a mesma: dor, medo, desespero...
Mas não era hora para me importar com isso, afinal, já deveria até ter se tornado normal pelo número de vezes que já havia ocorrido, mas eu ainda não adquirira a capacidade de levar a dor e o sofrimento como algo normal. Neste momento eu tinha que me concentrar em ficar, quer dizer, parecer bem para ir à escola.
Sai do box ainda com o corpo molhado, peguei minha toalha e sequei-me, sai com ela junto ao corpo e escovei os dentes. Voltei para o quarto e já ao lado da minha cama peguei meu conjunto de lingerie e coloquei, vesti minha calça jeans levemente apertada para favorecer as curvas do corpo e permaneci sem camisa ainda.
Meus cabelos, marrons e crespos com os cachos bem abertos, chegam a altura da cintura o que significa que tenho um pouco de trabalho para cuidar deles. Após acabar de arruma-los coloquei a camisa e passei lápis de olho bem fraco na linha d'água. Meu rosto sempre foi algo que me impressionou, sou bem branca, mas só sou salva de parecer um cadáver pelas sardas espalhadas pelo meu nariz e pelas maçãs do rosto que dão vida a ele.Peguei minha bolsa e fiquei a frente da porta do closet que possuía um espelho cobrindo-lhe. Fechei meus olhos e respirei fundo. Fingi estar pintando uma tela em branco, utilizando cores felizes e desenhando coisas com o mesmo gênero. Quando voltei a abrir meus olhos eu analisei meu sorriso que agora estava exposto para que todos vissem, um sorriso que eu aprendi a formar ao longo do tempo.... Eu usei o bendito aparelho fixo por 5 ANOS! Tinha que aproveitar nem que fosse forçando a mim mesma aquela expressão, não é? Passei um fixador imaginário naquele sorriso para que ele durasse o dia todo e desci as escadas para a parte inferior da casa.
Ao chegar na cozinha percebi o azul intercalando entre o escuro e o claro por todo o cômodo graças ao efeito que o passar dos minutos fazia na paisagem. Eu nunca gostei do escuro, mas sempre que quero ficar sozinha é para lá que eu vou, mas nem me pergunte o porquê, nem eu sei....Peguei uma barrinha de proteína e comi tranquilamente, joguei a embalagem no lixo, esperei o gosto do chocolate grudento sair da minha boca e logo após coloquei um chiclete na boca para melhorar o hálito, porque não tinha tempo para escovar os dentes novamente. Sai de casa andando até a escola.
Ao chegar lá vários pensamentos já haviam passado pela minha mente, sobre como todos iriam estar ou até mesmo como seria o dia, afinal este era a primeira vez que eu veria muitos deles após 3 meses, mas todos os pensamentos se dissiparam e desapareceram no ar ao ver todas as pessoas do colégio. Quando você vai para o segundo ano do colegial você pensa que tudo mudará, até porque não é o primeiro, não é o terceiro, é o segundo. Não seria igual a nenhum ano, mas a minha faixa visão de todos até agora era exatamente a mesma do ano passado, e do anterior, e do anterior do anterior.... Parei à frente do colégio observando aquela estrutura gasta e mal pintada que estava daquele modo desde de quando consigo me lembrar. Eu não conseguia mais imaginar como seria aquele dia. Estava pensando em coisas boas e mudanças positivas a pouco, mas agora... A escola parecia sombria do mesmo modo que tudo neste dia. Parecia sugar toda a energia, tanto boa quanto ruim, de tudo que possuísse vida que ousasse se aproximar dela. Mas era tudo somente uma bobagem minha. Ou não era? ....
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Sequestrador de Sonhos
LosoweDe um lado a beleza, a popularidade, os amigos, o namorado, os talentos... A perfeição. Do outro a desordem, a audácia, o sofrimento, as máscaras caindo, desilusão.... As revelações. Todos temos escolhas. Cada um de nós constrói sua própria vida e...