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Um puxão e um roxo haviam sido feitos naquele momento. Resmunguei contra o ato, aquilo havia realmente me machucado, mais do que o cheiro e a aparência daquele lugar. Não que eu seja modernista, não era esse o caso, mas a partir do momento que pus meus pés neste chão, meu olhos lagrimejaram e me senti zonza. Talvez eu só esteja triste.

Levantei meus olhos para encarar o homem a minha frente. Ele mantinha seu olhos sério, tentando manter sua atenção em mim e em o que eu carregava. Suas mãos passavam rapidamente a procura de algo e seus olhos tentavam não falhar em sua procura. Após retirar tudo aquilo eu necessitaria, mas poderia ser perigoso, me entregou somente o que eu precisava e uma trouxa de roupas. Até as roupas me deixavam tristes ainda. Ele pediu para o seguisse e assim mesmo eu fiz. Saímos daquele escura e deprimente sala e entramos em um novo mundo. 

Parecia que tudo se passava em câmera lenta e em preto e branco. Era como se o mundo parasse e fosse finalmente percebesse que havia chegado no fundo do poço. Aquele era o fundo do poço. E eu havia caído nele. Voltei meu olhar para baixo tentando não me exaltar e me concentrar em nada. Somente eu e o chão. Até que o homem a minha frente parou e esticou a mão ao seu lado direito, me mostrando uma sala um pouco mais alegre, mas ainda perturbadora.

- Este é o refeitório. Passará a maior parte do tempo aqui. Aqui também é ponto de encontro para pegar seus remédios, que serão entregues todo final de semana. - disse e abriu um pequeno espaço para eu poder enxergar.

Ouvia e via tudo. Risadas, sorrisos, lagrimas, soluços, gritos, talheres, conversas, passos. Tudo. Eu estava apenas ficando mais perturbada ainda. Me recuei e virei meu rosto para baixo. Novamente, somente eu e o chão. Após um tempo, paramos em outra sala, agora mais quieta e sozinha, organizada, mas ainda sim podia-se ver alguns papéis espalhados pela mesa.

- Escritório do seu psiquiatra. Cada paciente aqui possui o seu, apenas se pagar uma taxa separada. Senão, nos providenciamos um psiquiatra para o paciente, mas isto também lhe causa um valor maior na "mensalidade". Iremos lhe informar quando seus horários de consulta chegarem. - ele fechou a porta e virou-se para mim com um sorriso cínico. Parece que o papai e mamãe tem dinheiro para pagar a saúde da princesa. Sorte sua, criança. - se voltou para frente e continuou a andar.

Novamente, somente eu e o chão. Não se exalte Amelia. Não pense em nada. Somente tu e o chão. E enfim andamos por mais um longo tempo. Tentei não prestar atenção as pessoas ao meu lado, que passavam por mim, por mais que também escutasse eles rindo e chorando. Nunca tentei me controlar tanto quanto aquela caminhada. Somente consegui tirar meus olhos do chão quando chegamos a uma grande e forte, porta de metal, o guarda ao meu lado rapidamente pegou a chave rapidamente e a abriu para eu poder entrar. Tudo parecia deprimente. As camas. Os lençóis. O chão. A pequena janela. O travesseiro. Tudo

- Cada paciente possui seu próprio quarto. Especialmente os mais graves. Checamos os quartos a cada dois dias na parte da noite, antes do toque de recolher. - disse e eu assenti. 

Girei meu corpo para tentar ver algum lado positivo naquele quarto, mas não havia conseguido nada. Frustada, sentei na minha cama e cruzei meus dedos e comecei a brincar com eles, aquilo era a unica distração menos triste naquele lugar. Ele, enfim, suspirou e fechou a porta

- Como hoje é seu primeiro dia, deite-se e tente relaxar. Amanhã talvez se sinta melhor. Iremos te acordar as 8 amanhã para o café, então durma. Boa noite - disse através da porta e retirou-se

Como no inferno eu vou conseguir dormir no lugar desse. Parece que cada canto que eu olho vou ficar maluca. Mas, no final das contas, é por isso que estou aqui afinal. Eu só quero voltar pra casa. Mas, normal.

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⏰ Última atualização: Nov 05, 2015 ⏰

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