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Passamos o dia todo como normalmente passaríamos: caminhamos pelo terreno do sítio, nadamos na piscina, comemos cachorro quente e assistimos à televisão lá pelo final do dia, até que, finalmente, chegou a hora de todos irmos para a cama. Cada um, então, foi para o seu quarto, eu junto com meus pais, meus avós para o deles, meus tios em um e meus primos em outro.
E, é claro, e um pouco apreensiva, foi também Joana para o quarto.
Eu estava só esperando a hora de Joana me chamar. Estava quase cem por cento certo de que seria eu quem ela iria chamar caso ficasse com medo.
E não me enganei: pouco depois de meia hora, ví a mensagem dela no meu celular: dizia pedrinho, vc pode vim aki pfv?
Então, eu me levantei da cama, com cuidado para não acordar meus pais, saí do quarto, fechando a porta atrás de mim, e caminhei lenta e calmente a curta distância entre o quarto meu e dos meus pais e o novo quarto de Joana. Ao chegar, bati na porta do quarto.
Sem resposta.
Bati mais uma vez, dessa vez um pouco mais forte.
Novamente, sem resposta.
Decidi então que iria entrar, pois, se continuasse aumentando a força das batidas, ia acabar acordando alguém na casa. Então, entrei no quarto.
O cômodo estava totalmente escuro, exceto pela luz do celular de Joana, que estava iluminando seu rosto. Logo quando entrei, ela se virou para mim, e mostrou uma expressão que me assustou: estava com os olhos arregalados, e estava pálida.
Achei estranho. Nunca ela tinha ficado assim dessa forma, mesmo quando ficava muito assustada.
O que devia ter acontecido naquele quarto para assustá-la daquela forma, pensei eu, deveria ter sido realmente aterrorizante.
- Joana? - Perguntei, apreensivo - O que... O que foi?
- Pedrinho... - Ela me respondeu, com uma voz trêmula de medo - tem alguém dentro do meu armário.
Quando ela disse isso, eu congelei. Eu sei, que na idade dela isso é perfeitamente normal, de dizer que tem algo no armário, ou embaixo da cama, mas uma coisa é simplesmente dizer isso com uma certa apreensão no olhar, enquanto outra é estar branca de medo, mal piscando, como estava Joana, e falar com uma voz tão trêmula que não pode estar sentindo nada a não ser medo.
E mais: ela não disse que tinha algo
no armário.
Disse que tinha alguém.
- Joana... Quê isso... Você sabe que não tem nada no seu armário - Eu disse, tentando manter a calma na voz e me aproximando, para acalmá-la.
Porém, quando eu cheguei perto o bastante, ela me surpreendeu: agarrou o meu braço, com uma força que nunca havia usado em mim, oulhou-me no fundo dos olhos e repetiu:
- Pedrinho... Tem. Alguém. No. Meu. Armário.
Isso foi o bastante para me assustar de verdade. Ela já havia várias vezes me pedido para checar no armário para ver se tinha alguma coisa, mas nunca da forma que estava me pedindo agora.
E também nunca havia me pedido para ver se tinha alguém no armário.
- Joana... Para com isso - Eu disse, ainda tentando manter a calma - Você... Você quer que eu olhe pra você?
Apreensivamente, ela assentiu com a cabeça.
E então, lá fui eu: Respirei fundo e, lentamente, andei em direção ao armário.
Parei logo após chegar na frente do móvel. Com uma certa dificuldade, por causa do medo, estendi minha mão para a maçaneta e, usando mais força do que eu tinha pretendido usar, puxei a porta do armário.
E ví Joana lá dentro, com a luz do celular iluminando o rosto, e, quando olhou pra mim, disse:
- Pedrinho... Tem alguém na minha cama.
Ao ouvir isso, quem ficou branco de medo e arregalou os olhos fui eu.
Não fazia sentido. Se Joana estava naquele armário...
Quem é que estava na cama?

O Armário de JoanaOnde histórias criam vida. Descubra agora