Prólogo

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O Padrasto I

"Viva cada dia de sua vida como se fosse o último. Você não sabe quanto tempo lhe resta e tudo pode mudar em frações de segundos."

- Deane Ramos

Dezembro, 2014 Eu realmente sou uma garota abençoada por Deus. Sim, eu sou! Não que eu seja uma garota religiosa, mas como poderia ser?
Cresci ouvindo mamãe me dizer, dia após dia, que Deus nada mais é do que uma pessoa inventada pelos homens para fazer com que as pessoas fracassadas tenham onde depositar toda a confiança de que suas frustrantes vidas irão prosperar.
E enquanto isso, a vovó Iolanda sempre fora uma mulher de muita fé, e me dizia que Deus é um ser supremo e que Ele é quem sopra sobre nós o fôlego de vida todos os dias, e que nada em nossas vidas acontece se não for com a sua permissão.

É muito lindo quando ouço vovó falar emocionada sobre Deus. É como se ela o conhecesse tão bem, que quem a ouve falar se emociona. Contanto que a mamãe não descubra a minha admiração por Ele, ou eu teria que ouvi-la dizer que sou tão tola ou mais que a minha vó, prefiro mantê-la longe dos meus assuntos com a dona Iolanda, afinal, a convivência entre as duas não é das melhores.
Amo tanto a mamãe quanto a vovó, e mesmo que a convivência das duas seja insuportável, ainda assim prefiro não tomar partido e fico em cima do muro como forma de protesto dessa briga declarada entre elas.
Tenho uma família normal, como qualquer outra. Meus pais são maravilhosos e tenho muito orgulho deles e os amo muito, sem me esquecer de dona Iolanda, minha avó paterna, que é a minha maior inspiração como pessoa. Mas para evitar longas horas de disdiscussão com a mamãe, eu não a visito com a frequência que gostaria. Já o meu avô paterno, Gary Thompson, era falecido quando eu nasci, mas as coisas que vovó e papai sempre me contam sobre ele faz com que eu tenha muito orgulho dele, mesmo não o tendo conhecido. Às vezes eu me pego pensando como teria sido a minha vida ao lado dele se eu o tivesse conhecido.
Meus tios, Joseph, irmão de papai, e Margareth, não sei por qual razão, preferem manter distância da nossa família e por esse motivo, não tenho muito contato com os meus primos, Lucca e Mia. Tenho boas lembranças de quando éramos crianças e todos nós íamos passar as férias na casa de vovó, era muito divertido. Não sei como as nossas vidas tomaram rumos tão diferentes, mas segui o conselho de papai, que me disse para não me envolver nos assuntos dos adultos.
Claro que, como uma filha obediente que sou, não houve problema algum
para atender ao seu pedido. Amo muito meus pais, daria minha vida por eles, e não tenho dúvidas de que eles me amam com a mesma intensidade. Papai é sempre tão carinhoso e tem sido muito atencioso comigo nos últimos dias, me colocando em primeiro lugar em tudo na sua vida, e mesmo que muitas vezes eu me sinta sozinha, é como mamãe sempre diz: "Nem sempre podemos ter tudo o que queremos."
Mesmo tendo papai sempre por perto, sinto falta da companhia de mamãe, que passa boa parte do tempo em longas viagens a trabalho e nunca está presente nos momentos em que eu mais preciso dela. Mas ainda assim, sou muito feliz. Não que eu esteja reclamando, seria injusto da minha parte se o fizesse porque eu sei o quanto ela e papai amam o trabalho e tenho consciência de que se sacrificam para dar todo o conforto do qual eu desfruto. Será que é pedir muito que ela diminua sua carga de trabalho, como papai fizera, e assim possa passar mais tempo conosco? Sim. Para Katherine Thompson, a sua maior paixão é o trabalho. Muitas vezes penso que o amor que ela sente por seu trabalho é muito maior do que ela diz sentir por nós. Estou sendo injusta? Talvez. Mamãe é uma mulher determinada e sempre vai em busca de seus sonhos. Segundo suas palavras, seu nome é Katherine, sobrenome, trabalho. Reviro os olhos mentalmente e um sorriso divertido rola por sobre meus lábios, quando me vem à mente a sua resposta de todos os questionamentos por ela estar ausente na maior parte do tempo.
Em nossa última discussão na mesa do café da manhã, ela declarou o seu amor por mim e por papai, porém, eu tinha que aprender desde cedo que ninguém vive só de amor e que ela precisa trabalhar para sustentar todos os meus caprichos.

O Padrasto 01 (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora