Capítulo Dois

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“Por trás de uma lágrima, acredite, você sempre irá encontrar um motivo para sorrir”.

                     - Deane Ramos.

Por um milagre, as aulas passam mais depressa do que o normal, para delírio de todos os presentes. Ane e eu saímos da escola e solicitamos a Dylan, seu motorista, para que nos leve até a academia, que fica a quatro quarteirões da escola. Com toda essa turbulência que se instalou em minha vida, a única maneira que encontrei para extravasar o estresse acumulado é malhando. Exercitamo-nos durante uma hora. Suei a camisa, então vamos para o vestiário, tomo um banho rápido e seguimos para a casa de Ane, onde um chato trabalho de matemática nos aguarda. — Como está a convivência com o seu padrasto? — pergunta Ane enquanto beberica o suco que dividimos dentro da limusine no caminho para a sua casa. Reviro os olhos. Horrível . Não que seja alguma novidade a nossa péssima convivência. Às vezes, eu me pergunto se algum dia iremos viver civilizadamente, e não que eu faça questão, mas mamãe, sem dúvida, agradeceria a paz que reinaria em nosso lar. — A mesma porcaria de sempre. — bufo e dou de ombros. Apanho a garrafa de suco das mãos de Ane e tomo um gole generoso. — Você sabe que eu não gosto de dar palpites sobre o assunto, mas se falo, é pensando em você e na sua mãe. Vocês se davam tão bem, eu sei que gostaria que ela fosse mais presente, que você se sente traída por ela ter refeito a vida, mas você sabe que não foi. Eu não sei o porquê de tanto ódio. Dê uma trégua ao seu padrasto. Se você der uma chance a ele, vai descobrir que ele é um cara legal, sua mãe ficará feliz e você voltará a se relacionar perfeitamente bem com ela. Pense nisso. — diz, dando de ombros. — Ah, deixe-me ver. Será que é pelo simples fato de ele tentar tomar o lugar do meu pai? E não satisfeito, tirar a minha mãe de mim? — digo, furiosa, fitando-a com os olhos cerrados. — Amiga, pare já com isso! Você está agindo como uma criança mimada. — ela me repreende e continua a defesa de Christopher. Se fosse outra pessoa em meu lugar, mudaria rapidamente de opinião a respeito do meu padrasto. Reviro os olhos com a comparação. — Quando sua mãe o conheceu, já havia passado um ano desde que o tio se foi e eu entendo que você sinta a falta dele, que passe o tempo que passar, você sempre estará de luto, mesmo sabendo que todos voltam ao seu estado natural. Mas você não pode impedir que a tia Katherine refaça a vida. Não seja injusta com… — Ah, okay. Vamos mudar de assunto!

— eu a interrompo. — Essa discussão não irá nos levar a lugar algum. Não quero brigar com você, eu tenho uma opinião e você tem outra, então o melhor a fazer é encerrarmos esse assunto. — digo e minha voz soa mais ríspida do que pretendia. — Tudo bem, não precisa ficar irritada. Não está mais aqui quem falou. — diz com as sobrancelhas arqueadas em surpresa com a minha reação. — Ótimo! — digo por fim. Seguimos o restante do percurso em total silêncio. Enquanto estiver na casa de Ane, terei algumas horas de tranquilidade. Fico imersa em pensamentos enquanto o carro percorre o trânsito congestionado da cidade.  Em poucos minutos, chegamos à casa de Ane. Saímos do carro e rapidamente seguimos para a área interna. Ao passarmos pela sala, tudo está em silêncio, então rapidamente subimos para o seu quarto. Almoçamos um delicioso bolo de carne ao molho madeira acompanhado de arroz branco, salada de alface e um maravilhoso suco de tomate com hortelã, que é deliciosamente preparado por Joana, empregada de Ane. — Meninas, se alimentaram bem? — a Sra. Clark adentra a sala vestida com um sobretudo escuro, meias finas pretas e saltos altos. Poe a bolsa na cadeira ao lado e toma seu lugar à mesa, se juntando a nós. — Sim, mamãe! — Estava tudo uma delícia, Sra. Clark. — digo, após dar um generoso gole em meu suco e depositar o copo sobre a mesa. — Ah, ótimo, e a escola? Logo vocês terminam os estudos. Depois que fazermos companhia para a Sra. Clark em seu almoço, eu e Ane voltamos para o quarto, onde passamos a tarde fazendo o trabalho de matemática. Quando dou por mim, o sol já está se pondo, então arrumo o material na mochila e descemos para a sala de televisão para esperar a minha mãe. Sou desperta do meu devaneio quando ouço o meu aparelho celular tocar. Procuro por ele, perdido em meio a bagunça dentro da mochila. — Filha? — diz mamãe quando atendo a ligação. — Oi, mãe! — ainda que esteja chateada com a mamãe por seu casamento descabido, eu a atendo com carinho. — Já terminaram o trabalho? — Há muito tempo. — ironizo. — Ótimo. Esteja pronta, Christopher está passando aí para te buscar. Ah, não, alguém me diz que é mentira. Que saco! Será que é tão difícil ela entender que não suporto o seu marido? — Mãe, sabe que odeio o seu marido. Mande o motorista. — peço, irritada. — Não posso. Irei precisar dos serviços dele e não seja malcriada, ele está sendo gentil em ir buscá-la. — Dispenso gentilezas dele. — digo, frustrada por saber que será em vão todas as minhas lamentações. — Quero saber até quando você irá se comportar como uma menininha mimimada e sem educação. Seu pai não iria gostar nada de ver o seu mau comportamento, Julha. Agora estou sem tempo, mas não pense que vai se livrar de uma boa conversa, mocinha. Ah, que ótimo! Não gosto quando ela faz esse jogo sujo, usando exemplos do que meu pai aprovaria ou não em mim. Se ela não fizesse isso, não seria Katherine Cloney. — Será que só as minhas atitudes que o deixaria decepcionado, mamãe? — rebato. Não gosto de brigar com a minha mãe, mas só quero que ela entenda que não sou obrigada a aceitar esse casamento ridículo. Respeito, mas não aceito, bem diferente. — Não vou discutir com você por telefone, Julha Thompson. Diferente de você, tenho muito trabalho para fazer. Falaremos depois. — ela grita e eu afasto o telefone do ouvido para não ter problemas de audição no futuro. Encerro a ligação com a minha mãe chateada por nossa breve discussão. ArArrumo as minhas coisas e vou, acompanhada de Ane, para a sala de estar aguardar o chato do meu padrasto. Ficamos conversando sobre o encontro que Ane terá dentro de alguns dias com um garoto da escola. Ela está empolgada, e eu preocupada que o garoto não seja mais um babaca como Caleb. Preocupo-me com a minha amiga, sei que Ane é do tipo de garota sonhadora e romântica. Sonha em se casar e ter filhos. Ela não tem muita sorte no amor, segundo suas palavras, mas não desiste de tentar. Ane é diferente de mim. Eu ainda não havia me apaixonado por um garoto, nem penso nisso. Até imaginei a hipótese de perder a virgindade com um cara qualquer só para irritar a minha mãe, mas desisti assim que o babaca do Caleb aprontou com a Ane. É, pensando bem, essa não é uma forma correta de fazer algo que teria que acontecer com uma pessoa especial. Alguém por quem eu me apaixonasse perdidamente e que fizesse valer a pena. Ouço a buzina do carro de Christopher, pego a mochila, me despeço de Ane e vou a caminho do carro do meu padrasto. Tomo meu lugar no banco do passageiro, coloco o cinto de segurança e em poucos minutos o carro percorre as ruas. Coloco meus fones de ouvido, me aconchego sobre o banco, ignorando a presença dele. Ele também me detesta e faz questão de demonstrar isso. Ótimo! Assim nos damos muito bem, ele não gosta de mim e eu muito menos dele. Sendo assim, é desnecessário trocar falsas gentilezas. O trânsito fluí bem, não demoramos muito para chegar em casa. Desço do carro antes mesmo de ele estacionar, bato a porta com tudo porque sei que ele detesta. — Quebra! Garota insuportável… — grita, saindo do carro. Claro que não fico por baixo e grito de volta ainda mais alto.

— Eu também gosto de você. — adentro a casa, passo pela sala, tomo o caminho da escada e sigo para o meu quarto. Exausta e tomada pela irritação que meu padrasto me causa, entro em meu quarto, tiro o uniforme, ficando apenas vestida em minha lingerie, que é completamente transparente. Já estou me preparando para tomar um delicioso banho, quando ouço a porta do quarto sendo aberta bruscamente. — Olhe aqui, garota, eu… Fico estática ao ver Christopher invadir o meu quarto como um furacão. Ficamos nos encarando por alguns minutos, então me dou conta que estou vestindo apenas a minha pequena lingerie quando encontro os seus olhos desejosos queimando sobre o meu corpo. Estremeço, e em seguida corro em busca de algo que possa me salvar do momento constrangedor. Minhas mãos alcançam a primeira coisa que vejo: o cobertor que está sobre a cama. Rapidamente, eu o pego e envolvo em meu corpo, que há minutos estava apenas coberto por minha pequena lingerie, impedindo a visão completa do meu padrasto, que me fita com os olhos famintos. Merda!

O Padrasto 01 (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora