Passei praticamente a tarde toda no quarto mexendo no notebook. No jantar íamos receber minha tia junto com seu marido e minhas primas. Fui tomar um banho, lavei meu cabelo, sequei e fiz uma escova rápida, coloquei um vestido de renda preto bem trevoso como minhas amigas costumavam falar, resolvi passar no rosto uma maquiagem leve, não gostava muito de maquiagem a não ser um bom rímel, eu realmente amava rímel.Eu sabia que uma das minhas primas a Isabela tinha a mesma idade que eu e que iríamos estudar no mesmo colégio. Fazia anos que não a via, me lembro que ela era uma cópia da Barbie, sempre andava de rosa e seu cabelo era liso e loiro com franjinha, será que ela continuava insuportável? Quando éramos pequenas brigávamos muito, ela quebrou uma Barbie minha de propósito porque eu não queria deixar ela brincar, fiquei muito brava e meti a mão na cara dela. Como criança é boba, pensei rindo do passado.
Minha mãe me chamou lá em baixo, acho que eles haviam chegado, dei uma última olhada no espelho e desci. Quando fui descendo as escadas logo vi de longe o cabelo loiro chamativo da Isabela, ela estava de costas sentada no sofá mas pude a reconhecer, minha tia me viu e disse um pouco alto.
— Aí está ela, meu Deus como você cresceu Sasa. — Odiava esse apelido que minha família costumava me chamar, mas dei um sorriso como se estivesse gostado. Abracei minha tia e cumprimentei meu tio, ao lado dele estava a minha prima mais nova Maria Júlia, era a primeira vez que eu a via, ela era uma cópia fiel da Isabela quando mais nova.
— E você deve ser a Maria Júlia certo? — Disse abaixando.— Maju, eu sou a Maju, seu batom é bonito passa em mim? — Ela disse passando o dedo nos meus lábios e depois no dela, todos riram exceto a Isabela que continuava de costas mexendo no celular.
— Claro, daqui a pouco vamos lá em cima e eu passo em você ok?
— Tá bom. — Disse ela e logo depois saiu correndo.
— Bela olha a Savannah vem falar com ela filha. — Ela levantou do sofá onde estava e teve a mesma reação que eu. Bela não parecia mais a Barbie muito pelo contrário, ela tinha o mesmo estilo que eu, nosso vestido era praticamente idêntico, se não fosse o cabelo estávamos iguais. Ela deu um sorriso meio que surpresa e eu retribui.
— Oi Barbie, parece que você não gosta mais de Barbies não é? — Disse ela me abraçando.
— Não era eu que me vestia toda de rosa da cabeça aos pés era? — Eu disse rindo. Ela parecia ser legal.
— Você sabe que nossas mães adoravam fazer a gente de Barbie humana né? Que cafona cara. — Ela disse baixinho pra nossas mães não ouvirem.
—Aquilo era terrível mesmo. — Ela deu uma breve risada e sentou novamente, dessa vez não de costas. Eles começaram a conversar, meu pai contou sobre nossa vida em São Paulo e como era lá, meu tio estava interessado, as pessoas do litoral tinham muita curiosidade de conhecer a cidade. Até que a conversa chegou em um assunto que eu evitava a muito tempo.
— Savannah você ainda toca? — Perguntou minha tia. Senti minhas pernas estremecerem.
— Claro que sim, Savannah porque você não pega seu violão? Está lá no meu quarto, quer que eu pegue?
— Pai já faz muito tempo que eu não toco. — Eu disse querendo desconversar e rezando para ele parar.
— Porque você não tenta? Aposto que iria conseguir você tocava tão bem gatinha e cantava igual um an...
— Pai não por favor, eu não quero entendeu? — Eu disse um pouco arrogante. Bela parou de mexer no celular e olhou assustada para mim. Todos eles sabiam porque eu havia parado de tocar mas sempre tentavam me forçar a voltar para a música.
— Savannah não precisar ser grossa. — Disse a minha mãe.
— Desculpe papai, só não toque mais nesse assunto por favor.
— A culpa foi minha, perdão eu não sabia que ela ainda tinha receio. — Disse minha tia. Tudo o que eu mais queria era sair dali.
— Tudo bem, porque não vamos até a cozinha para você conhecerem e depois no jardim? — Todos concordaram.
— Savannah porque você não mostra seu quarto para a Bela? — Disse minha mãe.
— Tá afim? — Disse para ela.
— Qualquer coisa para me livrar do papo chato dos nossos pais. — Ela disse baixinho para ninguém ouvi e eu ri.
Abri a porta do meu quarto e sentei na cama. A bela entrou e foi tirando algo entranho da sua bolsa de franjas, era alguma coisa enrolada em um papelzinho, depois de um tempo entendi o que era, arregalei meus olhos e disse surpresa:
— Você fuma?
— Ah não, fico com maconha na bolsa só pra ficar olhando para ela mesmo. — ela disse ironicamente. — Cê não liga se eu fumar aqui né? — Eu simplesmente odiava qualquer tipo de droga, muita gente que eu conhecia já tinha morrido por causa disso e me dava ânsia só de pensar em alguém usando do meu lado.
— É... Bom, daqui a pouco vamos descer e se você fumar aqui todos vão perceber, inclusive meus pais e acredite eles são um saco quanto a isso. — Ela olhou pra mim e sorriu.
— Você tem razão Barbie, meus pais são meio lerdos, nunca perceberam. — Ela disse e logo em seguida se jogou na cama.
— Aquilo lá em baixo... Deve ser mó barra passar pelo o que você passou em? Eu não sei como seria se fosse comigo. — Ela disse me olhando seria.
— Foi horrível, ela era tão pequena, tinha a idade da Maju e ah meu Deus eu sinto tanta falta. — Me esforcei para ser forte e não deixar as lágrimas rolarem.
— Teu quarto é um luxo em, mas porque tá tão vazio? — Ela disse mudando de assunto e observando tudo.
— Ah, eu ainda vou decorar ele todo, meu antigo quarto era menor e eu não tinha muita coisa.
— Hum... Entendi, se quiser eu te ajudo a decorar, sei umas lojas que tem umas mobílias incríveis, você vai gostar.
— É pode ser. — Ficamos em silêncio alguns minutos até que ela quebrou.
— Deve ser legal morar em São Paulo né? Cidade grande, muitos lugares, gente bonita.
— É maneiro, mas parece legal morar aqui também.
— É legal até, mas aqui não é muito grande, não importa aonde você vai sempre vai ter alguém do colégio lá, é um saco odeio ver as mesmas pessoas.
— Deve ser chato mesmo. — Nunca fui muito de sair, sempre era da escola para casa, da casa para escola, exceto quando ia pro shopping ou algo parecido, tirando isso nunca saia.
— E o colégio, lá é legal? — Perguntei.
— Barbie pra que você quer saber de colégio gata? Férias estamos de férias, para de esquentar a cabeça.
— Ela disse pegando uma travesseiro e jogando na minha cara.— Aí eu só estou curiosa. — Dei uma risada e joguei de volta na cara dela. — Só queria saber se é legal e para de me chamar de Barbie você que se parece com ela.
— Pra mim você sempre vai ser a Barbie, como uma garotinha conseguia ter uma coleção tão imensa? — Eu realmente tinha muitas Barbies quando era nova.
— Na verdade eu tenho até hoje, estão todas ali naquela caixa enorme.
— Ai tá vendo, depois fala que não é a Barbie, nem delas você consegue se desfazer. — Ela riu e me fez rir também. Minha mãe nos chamou para jantar e nós descemos. Bela era legal, mais do que eu pensava e talvez não seria tão ruim morar no litoral.
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Um amor para recordar
ספרות נוערMeu nome é Savannah Curtis e tenho 17 anos. Esta é a minha história e prometo contar tudo. No início você vai sorrir e, depois chorar não diga que não avisei.