POV Camila Cabello
O flash de luz atingiu meus olhos, forçando minhas pálpebras a se fecharem novamente. No mesmo instante, uma tontura atordoou minha cabeça, carregando comigo as lembranças da última noite.
A chuva grossa e gelada caía como pedaços de pedra do céu. Não lembrava o quão pesado aquele colete estava... O quão inconsequente eu estava sendo naquela perseguição, ao ponto de deixar Mark para trás e seguir com toda a ganância de pegar Brow.
- Camila, como está se sentindo esta manhã? – Perguntou o doutor, afastando a lanterna da pupila.
- Eu? - Olhei para o doutor, que atentamente me observa, aguardando minha resposta. - Estou bem, me sinto bem melhor.
- Tem certeza? - Questionou mais uma vez. Seu olhar desceu para minhas mãos, que se fechavam com força. Não havia percebido que as havia fechado ainda com tanta força; bastou abri-las para sentir o ardor do machucado que as unhas deixaram.
- Sim, - abri um sorriso fraco - eu só quero ir para casa.
Seu olhar preocupado e seu suspiro pesado deixaram claro que eu teria mais uma diária nesse inferno branco.
- Veja bem, Camila, você passou por um momento muito traumático...
- Eu sei, doutor! Eu sei muito bem... - pisquei com força, tentando evitar qualquer requisito de lágrima, de vulnerabilidade.
- Justamente, então você sabe que precisa estar aqui - desviei meu olhar do seu; não queria aceitar, não quero ficar presa nesse lugar, não está me ajudando. - Olha, Camila, o que mais quero como seu médico é te dar alta, mas no momento a resposta é não. Quero ter a certeza de que você vai sair bem daqui, para que não tenha que voltar.
Tenho noção da criança mimada que estou transparecendo ser, mas está sendo realmente difícil. Ando tendo lembranças daquele dia. Às vezes, me vejo direto naquela rua sem saída e eu sei que é só minha cabeça pregando uma peça, fazendo relembrar todo esse trauma, mas parece tão real... Os pingos da chuva parecem tão verdadeiros que até sinto minha pele tremer. Sei que tenho de me abrir, dizer desse assombro, mas não consigo...
- Quanto tempo? - Questionei, voltando meu olhar ao doutor.
- Só mais alguns dias, Camila. – Respondeu, abrindo um sorriso antes de anotar algo em meu prontuário. – Mas, se te deixa feliz, vou liberar algumas visitas para você.
Suspirei aliviada, ao menos isso. Acho que ver rostos conhecidos pode me ajudar na recuperação, fazer-me sentir mais em casa e até mesmo me abrir em relação às minhas lembranças.
- Ao menos uma notícia boa, - suspirei de alívio - mas não é o suficiente.
- E o que seria suficiente? - Suas sobrancelhas se arquearam.
- Quero comer, mas não essa comida de hospital - seu rosto relaxou no mesmo instante e um sorriso se expandiu. - Posso ligar para uma amiga me trazer as refeições?
– Tudo bem, pode ligar para ela.
- Obrigada! – Agradeci um pouco mais animada.
- Bom... Vou deixá-la descansar; mais tarde voltarei e solicitarei alguns exames. - Concordei com a cabeça enquanto o via se retirar do quarto, me deixando mais uma vez sozinha.
Me recostei na cama e olhei para o relógio; os ponteiros marcavam 12:15 am. Isso explica meu estômago roncando. Me inclinei na cama para pegar o telefone quando ouvi duas batidas na porta.
- Pode entrar – a porta se abriu, mas tive que me levantar um pouco para ver quem estava entrando. Um garotinho passou pela porta com um buquê de rosas nas mãos. O buquê, grande, quase o cobria por completo, e suas mãozinhas eram tão pequenas que ele tinha que segurá-lo com as duas mãos. Foi inevitável não rir quando ele quase tropeçou com suas perninhas desengonçadas. – Olá.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dark Paradise
FanfictionVocê tem a sua moral e seu princípios acima de tudo, você anda na lei, paga todos seus impostos e pela obra divina ou não, cruza em seu caminho alguém que te faz engolir tudo isso, alguém que faz seu mundo virar de cabeça para baixo, alguém que te v...