Capítulo 1

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ARIZONA, 1998

― Como assim fugir? Me explica o que está acontecendo Paul, por favor!? ― Ana boceja, ela está morrendo de sono. ― E... O que houve com seu cabelo? Por que o cortou?

― Ana, cortei para não sermos identificados com facilidade. Querida, não temos muito tempo. Se o seu pai escuta o barulho que estamos fazendo, estaremos ferrados. ― Ele se aproxima e beija de leve sua testa, sem olhá-la nos olhos. ― No caminho eu te explico tudo. Anda logo, linda.

É madrugada e seu namorado está dizendo que eles precisam fugir rápido, Ana não consegue entender nada. Ele chegou à sua casa batendo na janela do seu quarto, como de costume e quando abriu ele soltou essa bomba em cima de dela. Agora, está andando de um lado para o outro depois de ter jogado uma mala que tinha trazido consigo sobre a cama, ter aberto seu armário e jogado algumas peças de roupas dentro. Ele está muito nervoso, estranho e perdido num ambiente que lhe deveria ser familiar.

Ana franze o cenho.

― Mas, por que isso agora? Paul, eu estou assustada.

Não tinha muitas horas que ele havia saído daquele mesmo quarto onde se entregaram a ardente paixão que existe entre eles. Ele para de andar, coloca as mãos na cintura e bufa impaciente, mas não a olha.

― Ana, presta atenção: nossos pais são contra nosso relacionamento e não aceitam o amor que sentimos um pelo outro, talvez nunca aceitem. Chegou a hora de decidirmos essa situação. Arrume essa mala e vamos embora, no caminho eu explico meus planos para nós e tudo vai ficar bem, eu prometo.

Ana olhou a cena com desconfiança, mas estava sentindo o corpo um pouco pesado de sono e cansaço. Vinha sentindo isso há um tempo e não sabia o que podia ser, talvez estivesse prestes a pegar um resfriado. Mesmo assustada e confusa ela arrumou tudo rapidamente, colocando apenas coisas de extrema necessidade diante da pressa.

Saíram como dois fugitivos, no meio da noite, sem avisar a ninguém e levando apenas o essencial. Ela apenas deixou um bilhete para sua mãe sobre sua escrivaninha.

Ana que estivera sonolenta acabou adormecendo no banco do carona da caminhonete, assim que saíram da fazenda. Ela começou a despertar quando eles enfim estavam na estrada um pouco afastados de tudo e de todos. Confusa pediu explicações ao namorado.

― Vai me falar agora qual é o seu plano e por que não me disse nada antes? Eu poderia ter arrumado as coisas com mais calma, conversado e pedido ajuda pra mamãe. Sabe que mesmo sendo contra fugir assim, ela não nos deixaria sem apoio algum ― disse exasperada.

O homem ao seu lado ficou visivelmente tenso, apertando o volante com força. Engolindo em seco ele começou a se explicar.

― Ana, eu... Eu não sou o Paul.

Alarmada, Ana riu em descrença, olhou na direção dele.

― O quê? Como assim não é o Paul? Claro que é.

Que absurdo era aquele? Ela achava que Paul tinha enlouquecido ou bebido, já que estava tão nervoso, começava a pensar que tinha errado em fugir assim na calada da noite sem planos concretos.

― Sério mesmo que não sou diferente dele em nada? ― lamentou ele praticamente gritando.

Ela voltou seu olhar para a estrada e pensou, aos poucos a realidade começou a clarear em sua mente. Mas ela não queria acreditar.

"Oh Não! Mas, como?", pensava ela confusa.

"O irmão de Paul estava na Carolina do Norte estudando, não estava?" Não, isso não podia ser verdade.

Ana não conseguia acreditar que havia sido enganada pelo seu cunhado, que é irmão gêmeo de Paul.

Eles são gêmeos idênticos, mas somente na aparência, pois por dentro são completamente diferentes. Enquanto Paul é amável e responsável, Charlie é um grosso e inconsequente.

Eles cresceram juntos, estudaram no mesmo colégio. Quando criança eles eram mais próximos, porém que na adolescência Charlie foi mudando e se tornando o ser desprezível que é hoje e, assim, Ana se afastou dele por completo. Aos poucos Paul foi se aproximando mais e mais, mostrando que sempre gostou dela. Paul e Ana namoram há três anos e planejam se casar... foi então que tudo mudou.

Ana soltou um grito desesperado. Não podia ter sido enganada assim. "Oh, Paul vai ficar muito irritado com tudo isso."

― Oh meu Deus! Não, eu não posso acreditar nisso. Isso só pode ser um pesadelo ― dizia ela com as mãos por entre os cabelos e balançando a cabeça de um lado para o outro.

― Não querida, não é ― falou ele num tom sarcástico. ― E eu sou de carne e osso, posso te mostrar mais tarde.

― Para a droga do carro agora, Charlie! ― esbravejou ela.

― Ana, você gostava de mim ― começou a falar num sussurro.

― Gostava sim. Mas você mudou tanto, eu não te conheço mais. O que diabos pensa que está fazendo me sequestrando? Para a porra do carro, agora. ― gritou mais uma vez seu pedido.

― Não vou parar droga nenhuma... Nós vamos embora... ― disse como se estivesse alucinado. ― Eu Te Amo, Ana! Sempre te amei, eu fui me descontrolado, admito. Não aguentava ver você ficando cada dia mais linda, chamando a atenção de outros caras, sendo cobiçada por eles, recebendo presentinhos. Você estava gostando e nem ligando mais pra mim.

― Ficou louco? Nós éramos amigos, eu sempre amei você como amigo. Nunca te dei esperança de nada mais que isso. E só aceitei presentes do seu irmão, meu namorado ― defendeu-se.

― Não, nunca me deu esperança. Você nunca me deu a porra de uma chance. E eu sempre estive ali pra você.

Charlie já estava descontrolado, batendo no volante com raiva. Vendo isso, Ana resolveu tentar acalmar a situação maluca em que estava.

― Para o carro, Charlie ― pediu com a voz mansa. ― Vamos conversar com calma.

Porém ele não a ouvia, estava focado na estrada. Ela olhou de ao redor e sem esperar por uma boa atitude vindo da parte Charlie, Ana simplesmente agarrou a direção e lutou com ele. O carro perdeu o controle na pista, mudando de faixa como um louco.

Um caminhão que vinha no sentido contrário chocou-se contra o carro em que eles estavam. O veículo capotou diversas vezes. Por sorte, Ana usava o cinto de segurança e se salvou, seu cunhado, Charlie, não teve a mesma sorte.

Depois dessa noite as coisas não foram às mesmas para Ana, sua vida virou de ponta cabeça. 

Nas Amarras do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora