Prológo

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Primeiro, houve um silêncio...

No espaço entre o Céu e a Queda, nas profundezas da distância desconhecida, houve um momento onde o canto glorioso do Céu desapareceu e foi substituído por um silêncio tão profundo que a alma de Caroline esforçou-se para captar qualquer som.

Então veio a sensação de queda... uma queda que nem suas asas puderam evitar, como se o Trono tivesse desabilitado suas asas. Mal batiam, e quando o faziam, não causavam impacto algum em sua descida.

Para onde ela ia? Não havia nada perante, nem atrás dela. Nada acima e nada abaixo. Apenas uma escuridão espessa e o contorno borrado do que havia restado da alma de Caroline.

a ausência de som, sua imaginação tomou conta. Encheu sua cabeça com algo além do som, algo inevitável: as palavras assombrosas da maldição de Uriel

Ela irá morrer... Nunca passará da adolescência - morrerá repetidamente no momento preciso em que se relembrar da sua escolha. Nunca Voltara a ver Mica

Fora a imprecação maligna de Uriel, seu acréscimo amargurado à sentença que o Trono passara na Clareira Celestial. Agora a morte aproximava-se . Conseguiria Caroline impedi-la? Poderia reconhecê-la?
Uma vez que, o que sabia um anjo sobre a morte? Caroline a testemunhara chegando calmamente para a nova raça mortal chamada de humanos, mas a morte não preocupava os anjos.

Morte e adolescência: as duas certezas da Maldição de Uriel Nenhuma das duas significava algo para Caroline.

Tudo o que sabia era que ficar separado de Mica não era uma punição que pudesse enfrentar. Elas tinham de ficar juntos protegendo uma a outra.

- Mica - gritou ela.

Sua alma devia ter se aquecido assim que pensou nela, mas havia apenas uma ausência excruciante, a abundância de um vazio.

Ela deveria ter sido capaz de sentir seus irmãos ao seu redor, todos aqueles que tinham feito a escolha errada ou tarde demais; que não tinham tomado decisão alguma e tinham sido expulsos por indecisão. Ela sabia que não estava realmente sozinha; tantos haviam caídos quando o chão abaixo deles abriu-se para o nada.

Mas ela não conseguia ver nem sentir mais ninguém. Antes deste momento, ela nunca tinha ficado sozinha. Parecia que era o último anjo em todos os mundos.

Não pense nisso. Vai acabar consigo mesmo.
Ela tentou se segurar... Mica, a chamada, Mica, a escolha... mas à medida em que caia, ficava mais difícil se lembrar. Quais, por exemplo, tinham sido as últimas palavras que ela ouviu serem ditas pelo Trono...
Os Portões do Paraíso...
Os Portões do Paraíso estão...
Ela não conseguia se lembrar do que vinha depois, podia apenas se lembrar vagamente como a grande luz tremeluziu e um frio duríssimo varreu a Clareira, e as árvores no Pomar caíram uma sobre as outras, ocasionando ondas de perturbações furiosas que foram sentidas por todo o cosmo, tsunamis de nuvens de poeira que cegaram os anjos e esmagaram sua glória.

Houvera algo a mais, algo logo antes da obliteração da Clareira, algo como uma...
União.

Um anjo com um forte brilho havia planado durante a chamada, dizendo que era Caroline vinda do futuro.

Havia uma tristeza em seus olhos que parecia tão antiga. Este anjo, esta... versão da alma de Caroline, havia realmente sofrido? Mica também?
Caroline borbulhou de raiva. Ela acharia Uriel, o anjo que residia no final de todas as ideias. Caroline não temia o traidor que outrora fora a Estrela da Manhã.

Tão logo chegasse ao fim desta queda, Caroline teria sua vingança. Mas antes ele encontraria Mica, uma vez que sem ela nada tinha importância. Sem o amor dela, nada era possível.

O único lado que ele poderia escolher era o dela. Então agora Caroline pagaria por esta escolha, mas ela ainda não entendia a forma que sua punição tomaria.

Apenas que ela não mais estava no lugar onde pertencia: do lado dela.
A dor de separar-se de sua única parentesca fluiu repentinamente por Caroline, afiada e brutal. Ela gemeu incompreensivelmente, sua mente obstruída, e de repente, assustadoramente, não conseguia se lembrar do por que.

Ela continuou a cair pela escuridão profunda.
Não conseguia mais ver ou sentir ou se lembrar de como tinha vindo parar aqui, no nada, esbarrando no vazio... em que direção? Por quanto tempo?
Sua memória foi interrompida e se desvaiu. Era cada vez mais difícil lembrar-se daquelas palavras ditas pelo anjo na clareira branca que lembrava tanto... Com quem o anjo se parecia? E o que ela tinha dito que era tão importante? Caroline não sabia, não sabia de mais nada.

Apenas que estava caindo no vácuo.
Ela se encheu de uma necessidade de achar algo... alguém. Uma necessidade de se sentir inteiro de novo... Mas havia apenas escuridão dentro da escuridão. Silêncio afogando seus pensamentos. Um nada que na verdade era tudo.

Caroline caiu.

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