Primeiro Capítulo

2.9K 142 39
                                    

Kitanohara Shun guardou sua katana na bainha, fixando o pôr-do-sol no horizonte. Estava coberto de suor e seus músculos estavam retesados do exercício exaustivo. No entanto, cada célula de seu corpo parecia alerta, gritando por vingança.

"Amanhã", repetiu a si mesmo.

— Já desistiu de treinar?

Ele virou-se e sorriu ao ver a figura imponente de seu melhor amigo, Miyamoto Jin.

Devia-lhe muito mais do que poderia pagar naquela vida, não importava o quanto se esforçasse em tentar. Ele o havia resgatado quando todas as portas lhe haviam sido fechadas e sua vida estava por um fio. Mesmo sendo apenas um garotinho à época, seu coração puro já mostrava os sinais do homem valoroso em que se converteria.

De fato, Jin tornou-se um homem forte e decidido. O talento inato para a espada e a liderança natural acabaram transformando-o no mais jovem general dos clãs do Norte. Após seu casamento com a filha do Daimyo Miyamoto — o homem que o adotara como filho quando ele perdera seus pais ainda recém-nascido —, ele ficou ainda mais poderoso, sendo apontado como seu futuro sucessor.

Diferente do amigo, Shun não havia crescido ali. Nascera em um outro clã, do outro lado do Rio Hei, no território conhecido como Miyako. Era filho do general do Daimyo local, Aomori, e havia aprendido o uso da espada ao lado dos herdeiros daquela casa. Porém, após anos de dedicação integral a seu senhor, seu pai fora acusado de traição.

Ao lado da mãe e dos irmãos menores, foi obrigado a deixar para trás a casa e a terra em que crescera. O que não esperava era que uma cruel emboscada os aguardasse no meio da estrada que os levava a Taro, uma cidade mais ao norte, onde poderiam pedir abrigo a seus familiares. Sua mãe foi a primeira a sucumbir, jogando-se contra os samurais para defender a vida dos filhos.

— Até que ela é bem nova para uma esposa! — disse um deles, acariciando o corpo pequeno e frágil da mulher.

— O que está dizendo, seu louco? — reclamou o outro, puxando-a com força. — Não pode se divertir com ela! Procure sua própria esposa!

— Estou há muito tempo fora da cidade. Como espera que consiga satisfazer minhas necessidades?

Quando o olhar do homem pousou em seu corpo, Shun sentiu as entranhas revirarem. Não sabia se sua preocupação maior era com seu companheiro, que parecia considerar o comentário, ou com a besta que avançava em sua direção com ar faminto.

— Não! — gritou o outro de repente, rasgando a garganta de sua mãe com a adaga conhecida como wakizashi. — Acabe com eles! Essas são as ordens!

— Okaa-saaaaan! — Shun jamais esqueceu seu grito sofrido naquela noite, nem o sangue quente de seus irmãos derramando-se em seu rosto, doendo tanto quanto a lâmina que penetrava sua própria carne.

— Madoka... Susumu!

Ainda ouviu, por alguns minutos, os gemidos baixos a seu lado, até que não escutou mais nada a não ser a risada dos homens desfazendo-se no vento. Sentindo-se cada vez mais fraco, fechou os olhos úmidos e entregou-se à morte assim como o resto de sua família. Não havia, afinal, mais nenhuma razão para lutar.

A dor, contudo, estava apenas começando.

Acordou em um lugar estranho, barulhento e cheio de gente. Mais tarde pôde perceber que se tratava de uma aldeia. Tão logo tentou erguer-se, sentiu uma dor lancinante em sua barriga.

Imediatamente, um garoto bonito, que aparentava ter sua idade, veio correndo em sua direção.

— Não faça esforço! Está todo costurado.

YAKUSOKU - A promessaOnde histórias criam vida. Descubra agora