Sexto Capítulo

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Masahiko piscou algumas vezes assim que abriu os olhos. Sorriu ao perceber que o sol ainda não havia despontado no horizonte.

Quando criança, o alvorecer era sua visão favorita. Naquela época, ainda vivia a ilusão de um mundo perfeito, sem preocupações ou desigualdades e, por isso, adorava presenciar o nascer de um novo dia.

Ele lhe trazia a possibilidade de ver Shun novamente.

Procurou-o ao seu lado, mas encontrou o lugar vazio. Um aperto no coração o angustiou, como um presságio de que aquela felicidade que vivenciava por quase duas semanas seria apenas passageira.

Não que acreditasse que seria eterna. Mais cedo ou mais tarde, sabia que seriam encontrados e que uma escolha impossível deveria ser feita. Porém, por ora, ainda não estava pronto para separar-se do amado. Não depois de tê-lo reencontrado e reassegurado o amor de infância e adolescência, o amor de toda sua vida.

Levantou-se aflito, a saudade martelando forte dentro de peito. Veio a encontrar o amante à beira do pequeno lago. Estava despido da cintura para cima, os cabelos negros e lisos caindo em uma cascata pelos ombros musculosos.

Movia-se com precisão, executando os movimentos do Iaido, o caminho das armas, a tradicional arte dos golpes certeiros com o mero desembainhar da espada. Lembrava-se de si mesmo, há muitos anos, sentado ao seu lado, assistindo o General Fujisaki em seu treino. Shun tornara-se tão habilidoso na execução dos movimentos que, ao ver o reflexo dos primeiros raios de sol cintilarem sobre as gotas de suor que corriam por sua pele morena, sentiu-se novamente observando o homem a quem costumava chamar afetuosamente de tio.

Incapaz de se mover, apenas admirou a disciplina e a expressão compenetrada do outro.

Desde pequeno, ele atraía para si a atenção das pessoas. Sempre fora bonito, audaz, um líder nato. Masahiko lembrava do tempo em que começou a sentir pelo amigo algo além da amizade. Irritava-o a aproximação do filho do general com qualquer outro que não fosse ele. Não suportava que ele lançasse para outra pessoa o mesmo sorriso fácil e despreocupado que lhe dedicava.

Odiava quando o tocavam ou o olhavam com olhos gulosos. Naquelas horas, perdia a compostura e esquecia o comportamento que a posição de filho do Daimyo lhe impunha. As lágrimas desciam incontidas e inseguras, não importava onde estivesse. E havia sido por causa delas, que Shun ganhara a cicatriz que cobria seu peito.

Já fazia seis dias que não se viam. Mesmo que as obrigações o mantivessem ocupado -ou, como daquela vez, estivesse trancado em seu quarto como punição de ter faltado à aula de caligrafia para ir nadar -, Shun sempre dava um jeito de ir vê-lo, invadindo seu quarto através da janela.

Preocupado, mal o tutor o deixou só, esgueirou-se pelos corredores, esquivando-se com muito custo dos vigilantes. Se fosse pego, teria o castigo redobrado, porém, a possibilidade de reencontrar seu melhor amigo valia a tentativa.

Procurou-o pelos arredores até encontrá-lo no jardim sob a ponte do lago de carpas. Correu até ele animado, porém, não chegou a alcançá-lo. Shun conversava entusiasmado com uma das servas do castelo. A garota era mais velha do que eles quase dez anos, mas exibia-se, atrevida, diante do filho do General, um olhar sonso e um sorriso oferecido no rosto ordinário.

Então, era por uma reles mulher que ele não o havia procurado?

- Estão precisando de ajuda na cozinha. Minha mãe não apreciará saber que uma de suas servas está de namoricos em vez de cumprir suas obrigações. Sabe que sua punição por isso será bastante severa, não é? - o tom era grave e levemente cruel.

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