Intellectual Badass l.h

1º Capítulo - Abaixo do bolor

Suspiro e deixo-me cair no banco corrido e pintado de vermelho, que fazem conjunto com as mesas brancas do refeitório.

Outra manha infernal, em que eu sou gozado por todos. Creio que na escala social da Universidade, estou abaixo do bolor da casa de banho dos balneários. Se é que eu lá entro sequer.

Levanto os olhos calmamente do meu tabuleiro de comida e poiso o olhar na agitada, mesa dos populares.

O meu olhar encontra o belo cabelo preto de Eveline, e deixo que ele descaia pelo corpo dela. Volto a subir o olhar, para ver o seu belo sorriso. Os olhos verdes clarinhos dela encontram os meus azuis, e eu automaticamente sinto o meu ser corar intensamente. Baixo os olhos de novo para a minha comida, e sinto o meu coração bater rapidamente devido ao nervosismo, e á felicidade de ela ter sequer olhado para mim.

- Devias realmente falar com ela. - Lilian sugere assim que se senta ao meu lado.

Lilian, nome da única amiga que tenho em toda a Universidade. Única rapariga cuja vida social é tão lastimável quanto a minha, embora a sua beleza exótica a coloque no nível acima do meu e do meu desleal concorrente bolor do WC. Nem sei como não olham para ela, com aquela beleza marroquina, mas para que estou a falar? Eu também não. Estou mais ocupado encantado com a Eveline.

- Deves estar doida... Só pode... Eu respondo finalmente.

- Porquê? Ela é uma pessoa como outra qualquer. Tens o direito de falar com ela à mesma. - Lilian responde dando uma garfada no comer.

- A Eveline não é uma pessoa normal! Ela é uma princesa, que merece apenas dar-se com as melhores pessoas, e não com falhados como eu. - Esclareço como se fosse óbvio.

O que se pensarmos bem nisso, até é.

- Ela é um 10 e eu sou um menos 10. - Concluo com um suspiro frustrado.

Como é possível a Lili, dizer sequer, que, eu poderia dirigir-me a um 10!? Ela é doida! Nunca na vida, eu, Luke Hemmings, teria uma rapariga daquelas ao meu lado. Nem que fosse o rapaz mais bonito á face da terra. Nunca um 10, popular ainda por cima, se, enrolaria com um nerd. É a lei da vida. Isso seria quebrar todas as leis espaço-cosmo do mundo da Universidade.

- Sabes... - Lili interrompe-se para dar um gole no copo de água. - O primeiro passo para ter uma desilusão com alguém, é pensar que ele é perfeito. - Ela poisa o copo e olha-me atentamente. - Ganha tomates, e vai falar com ela.

Suspiro, e desvio o olhar de Lilian. Ela não entende. Apesar de ser uma nerd é bonita, e está acima do bolor da casa de banho. Ela não entende o meu desespero e frustração.

- Esquece Lilian... Eu não vou falar com ela...

- Bem... Então não andes aí todo de monca caída. - Ela sorri. - Vamos embora. - Ela levanta-se, e eu faço o mesmo.

Ambos poisamos os tabuleiros, nos carrinhos e encaminhamo-nos para a saída do refeitório.

- HEI IDIOTA! PENSA RÁPIDO! - Um popular qualquer grita e atira-me a bola de rugby que me acerta em cheio na cara. Até me saltaram os óculos... - BEM! PARECE QUE SÓ PENSAS RÁPIDO EM MATEMÁTICA! - Ele grita rindo, e todo o refeitório se junta a ele.

- E SE VOLTASSES PARA DEBAIXO DAS SAIAS DA MÃE COBARDE DE MERDA!? - Lilian exclama passada dos carretos enquanto eu apanho os meus óculos partidos do chão. A minha mãe vai-se passar... São os terceiros óculos que me partem desde o início das aulas...

- UIIIIII VEJAM SÓ QUEM ARRANJOU UMA GUARDA COSTAS! TROUXE UMA MARROQUINA! E SE ME VIESSES CHUPAR AO INVÉS DE ESTARES AI FEITA CANICHE STRESSADO? - Um outro popular grita para ela.

Suspiro, e agarro-a antes que ela começasse a dirigir-se a ele. Acreditem, não queiram ver esta marroquina zangada. Parte a tromba a alguém se for preciso.

- Deixa Lilian. Eles não merecem resposta. Sabes que és superior a isso. Anda embora. - Murmuro para a acalmar.

- VOU MATAR-TE FILHO DA PUTA! COBARDE! CABRÃO DE MERDA! VAIS LEVAR TANTAS NA TROMBA QUE VAIS CUSPIR OS DENTES TODOS! - Ela grita enquanto eu a empurro para fora do refeitório.

- Já chega Lilian! - Exclamo já farto de a ouvir reclamar enquanto me seguia.

- Mas! Eles têm de perceber que não nos podem tratar assim Luke! Somos tratados abaixo de cão, desde o início das aulas! Isso foi á quatro meses atrás! - Ela exclama frustrada e eu suspiro.

- Esquece Lilian. O melhor é ignorar. Agora eles vão fazer pior por verem que nos importamos.

- Mas... - Ela suspira. - Ok... Desculpa... - Ela responde e eu puxo-a para um abraço.

- Temos de admitir que foi engraçado a maneira como se calaram todos por te ver dizer tanta asneira - Admito rindo, e ela rapidamente esboça um sorriso.

- Claro que sim. És meu amigo. Defendo-te com unhas e dentes se tiver de ser. - Sorriu por ouvir as suas palavras. Mais vale só ter um amigo e saber que ele é verdadeiro, do que estar rodeado de facadas nas costas. Como os populares. Apenas eles não se apercebem disso. - Além ele estava a pedi-las! - Ela conclui com as sobrancelhas franzidas e um ar amuado e eu ri ligeiramente.

- Vamos mas é para a aula. - Digo encaminhando-nos para o corredor, e ela sorri assentindo com a cabeça.

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