Parte 1 - Lucas

59 1 0
                                    


Porcaria! Pensou Lucas, ele estava atrasado para a aula da professora mais ranzinza do colégio, e a única que não tolerava atrasos.

Era comum em sua escola os alunos se demorarem pelos corredores, mesmo após ter soado o sinal anunciando o inicio das aulas. Os professores já estavam habituados com essa rotina e nem pegavam no pé dos "atrasildos", que eram a maioria. Lucas particularmente nunca fora um deles, costumava chegar antes do portão de entrada abrir, e ficava encostado no muro, do lado de fora, lendo um de seus livros, até Seu Geraldo, o zelador do colégio, aparecer com o molho de chaves.

O garoto era sempre o primeiro aluno a entrar na escola, se esgueirava para dentro da classe, e sentava-se em sua carteira encostada na parede esquerda. Era a ultima da fileira, e pela janela podia ver as pessoas andando lá fora. O seu motivo era simples, evitar que os outros alunos o vissem andar, isso já acontecia no horário do intervalo, visto que não lhe era permitido permanecer na sala como desejava, enquanto os outros lanchavam. Então, o garoto esperava todos saírem da sala primeiramente, e se forçava a sair logo depois, cruzando o pátio da escola, que dava acesso a área aberta dos fundos, onde normalmente havia menos pessoas.

Sentava em um banco de concreto encostado numa arvore antiga, e deixava o intervalo passar, enquanto lia e fingia não perceber os olhares de gozação lançados em sua direção, ou as piadinhas maldosas que o perseguiam nesse curto trajeto.

Mas nesse dia, fatidicamente numa quarta-feira, dia da aula da temida professora Roseli. Pela primeira vez na vida, estando no segundo colegial. Ele estava atrasado!

Cruzou o portão da entrada tentando andar o mais rápido que sua perna aleijada permitia. A cor fugiu de seu rosto ao deparar-se com o pátio abarrotado de alunos. Eles riam, se cutucava, paqueravam e se divertiam, como sempre ignorando que o sinal já havia soado.

Sentiu aquela fisgada conhecida no estômago ao começar a atravessar o pátio, tentando evitar os tipinhos mais "aparecidos" que vagavam por ali. Só queria se tornar invisível, para variar.

- Hey artilheiro! – chamou Roberto, o capitão do time da escola, que adorava implicar com o garoto. Lucas o odiava, e diariamente tinha que engolir o ódio e ignorar as provocações imaturas dele. Roberto só andava com as garotas mais bonitas, e os caras mais playboys, era um clichê ambulante.

Para variar o bad boy estava rodeado por seu grupinho habitual. Jonas um playboyzinho cheio do dinheiro, que achava que era melhor que Deus e o mundo, por que o papai era um conhecido médico da região. Aline a garota doce da sala de Lucas que namorava Roberto, por incrível que parecesse. Thaila, a melhor amiga de Aline. Além de uma garota nojenta e um rapaz antipático dos quais, Lucas nem sabia o nome.

Ignorou Roberto e seguiu em frente, mas o mesmo interpelou-o, colocando-se a sua frente.

- Para que tanta pressa meu amigo? Eu estava aqui pensando com meus botões, estamos precisando de um cara bom de bola para o time, não tá a fim de se inscrever? – perguntou Roberto. – Com o sorriso mais cínico que conseguiu estampar em sua odiosa face.

Risadas explodiram de seu grupinho, Lucas relanceou o olhar para onde estavam parados, como a plateia de um show. Procurou Aline com os olhos, ela devolveu-lhe o olhar, e nele estava estampado pena e impotência. O olhar que ela sempre lhe lançava nesse tipo de situação, enquanto cutucava a amiga Thaila como repreensão para que parasse de rir, a amiga lançou-lhe um olhar culpado e passou a encarar as unhas.

- Sai da minha frente Roberto! – ordenou Lucas – Olhando novamente para o garoto, mas sua voz soou fraca até aos seus próprios ouvidos. O olhar de Aline ainda gravado em sua retina.

DOCE DE LEITE - Quando a vida te ensina a ser forteOnde histórias criam vida. Descubra agora