Prólogo - Sob a mesma lua

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Já passavam de 8 horas da noite e nós quatro continuávamos ali, em pé, formando um quadrado ao lado do ginásio da escola, todos olhando para o chão tentando entender o que iria acontecer dali em diante, e como as coisas haviam chegado naquele ponto. Só o idiota do Fred, parecia avesso ao clima sombrio que se instalou após a conversa, contando suas piadas e falando um monte de besteira.

Olhando para mim, ele tirou seus óculos embaçados da cara, e falou daquele jeito que se fala com algum novato:

- Você entende o que está acontecendo agora Ivan, e o que vai acontecer quando eles voltarem?

Tive que respirar fundo e, olhando para o céu, respondi que sim balançando a cabeça, mas na realidade, eu ainda estava tentando entender tudo aquilo, quanto mais eu pensava, tudo o que havia ocorrido de estranho nos últimos meses passava a fazer sentido.

E Fred continuou falando, sempre que seu sorriso cínico:

- E você sabe o que cada um de nós terá que fazer quando os três voltarem? Até lá as meninas já saberão de tudo, e com certeza ficarão ao lado dele, já que ele vai oferecer muitas coisas em troca e elas aceitaram, com certeza, sem questionar.

Mais uma vez eu acenei com a cabeça. Agora, eu só pensava nas meninas, Isabel e Lilian, do outro lado do rio, naquela ilha. Eu deveria estar lá também, Isabel passou a semana tentando me convencer a ir com eles, mas acabei desistindo em cima da hora, na manhã daquela terça-feira, pois eu sabia que algo estava errado naquela viagem, mas não sabia exatamente o que era. Agora eu sei.

Meus outros dois amigos estavam calados, todo esse tempo, e olhando para mim, será que eles pensam que eu vou resolver tudo isso sozinho? Entrei aqui para estudar e não para virar um membro da Inquisição e finalmente.

Rick chutou uma pedra do chão e falou:

- Bom, o que vocês decidirem fazer, eu ajudo. Não quero ver nada daquilo acontecer de novo.

Samuel era o mais velho na escola, e o que mais sabia sobre tudo o que havia ocorrido anos atrás, ele respirou fundo e falou:

- Isso tem que acabar, ele não pode conseguir, ele não pode vencer de novo, não podemos errar em nada.

Mas não seria fácil vencê-lo, além das meninas, seu objetivo principal, ele tinha ao seu lado um grupo de amigo que fariam qualquer coisa para atrapalhar nós quatro. Teríamos que jogar o jogo dele se quiséssemos ter alguma chance.

A tática proposta por Samuel era "dividir e conquistar", separar o grupo de amigos em dois e deixar claro para ele, que eles sabiam de tudo, apesar de nem mesmo eles saberem quem estavam, de fato, enfrentando.

Aquilo tudo parecia perigoso demais pra mim, afinal, segundo o que Samuel me falou, nós iríamos combater algo que já estava na escola há pelo menos sessenta anos, o que quatro adolescentes poderiam fazer "aquilo"?

Depois desta conversa, todos nós fomos embora, cada um para uma direção. Teríamos apenas três dias, até que eles voltassem da ilha, para nos prepararmos para enfrentá-lo, mas, sem nenhum de nós saber, era naquela escola que estava escondido a única coisa que poderia destruí-lo.

Ao mesmo tempo, na ilha do outro lado do rio, "Ele" já saboreava sua vitória, as meninas haviam feito o ritual exatamente como ele mandou sem se dar conta do real objetivo dele. Havia sido fácil demais para Klaus, era este o nome que ele usava, afinal ele era o "namorado" de uma delas e o "melhor amigo" da outra, pelo menos era isso que elas pensavam. Foi ele que as convenceu a ir para esta viagem, pois seria lá que ele mostraria o seu verdadeiro poder para elas, e as convenceria de que teriam o mesmo poder se ficassem ao lado deles. Infelizmente, cada uma delas tinha convidado um amigo, mas eu não fui e seria fácil para ele se livrar do Sérgio, o amigo convidado de Lilian, na noite do ritual, Sérgio dormia profundamente na praia, e na manhã seguinte, seria mais um amigo fiel de Klaus.

Mas para ele, Isabel e Lilian, não eram a namorada e a melhor amiga, elas eram as meninas 11 e 12, as últimas que ele precisava completar o ritual e para, finalmente, estar com ela.

- Logo, logo, estaremos juntos meu amor! Ele pensava.

- Finalmente, Ele sorriu, estarei livre daquela escola, daqueles moleques insuportáveis e terei a minha vingança, nada e ninguém irá me impedir.

Ele ainda sorria, enquanto as meninas, sem saber de nada, tomavam banho no mar sob a luz da lua, mas nem elas e nem "Ele" podiam imaginar o que estava por vir.

Naquela noite, como de costume, eu cheguei tarde em casa, e também como de costume, todos já estavam dormindo, por isso ninguém estranhou que, ao invés do habitual barulho na cozinha que eu fazia ao chegar procurando algo para comer, fui direto para o meu quarto, pensando em tudo o que havia acontecido em sua vida até aquele momento. Quando fui aprovado para a Escola Técnica, jamais pensou que algo assim podia acontecer, há um ano tudo parecia tão normal, mas eu sabia que precisava fazer algo, pois alguém de quem gostava muito corria perigo, muito perigo.

Por isso, naquela noite, eu não dormi, pois sabia que tinha apenas três dias para se preparar, tinha que descobrir o máximo de informações sobre quem realmente era Klaus, assim eu me preparei para aquilo que fazia de melhor: Peguei todos os recortes de jornal e livros antigos que Samuel tinha me dado e comecei a estudar.


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