Estava escuro, eu estava sozinha correndo pela floresta, fugindo. Do quê?
O clã dos licantropos, mais conhecidos como Licans, um certo tipo de monstro com a capacidade de se metamorfosear, suas formas variam de homens, para Lobos gigantes.
Eu corria desesperadamente pela minha vida. A brisa noturna dançava pelo meu rosto sujo de sangue e lama, meus longos cabelos negros esvoaçavam conforme eu avançava em meio a floresta...Eu podia ouvir seus uivos, eles estavam próximos.
Seria esse o meu fim?
Senti meu pé prender em uma raiz enquanto eu corria, fiquei suspensa no ar durante alguns segundos.
Então eu cai, e rolei pelo pequeno declínio no terreno da floresta.
Ótimo, meu dia não poderia ficar melhor.
Fiquei ainda mais suja de terra e lama, limpei meu rosto com a mão, um misto de lama e sangue estavam nela.
Tentei levantar, senti uma forte pontada de dor no tornozelo esquerdo, olhei pra baixo e vi meu pé torcido.
Os uivos ficaram mais altos, assim como o som de suas patas tocando o chão, é...Acho que esse é o fim.
Não, eu não podia desistir desta forma...Pelo meu povo, eu deveria ser firme, e forte!
Fui me arrastando, seguindo em frente, adentrando mais e mais a floresta.
Até que ouvi um som diferente da cantoria dos grilos e sapos, e os uivos dos lobos. Parecia com...O crepitar de chamas?
Fogo.
Respirei fundo, o cheiro de fumaça e carne queimando havia preenchido meus pulmões.
Havia alguém ali, talvez eu pudesse ser salva.
Continuei me arrastando, minha mão atingiu um ponto em falso e eu rolei novamente.
Brooooom.
Um trovão rasgou o céu, abrindo alas para a forte chuva que começou a cair, eu não parava de rolar, me sentia uma esfera.
Bati de costas em uma árvore, e parei, finalmente.
Meu pé ainda doía, eu estava tonta, e não acho que era só por conta de ter rolado ladeira abaixo.
As gotas de chuva corriam pelo meu corpo, enquanto eu arfava, cansada, tonta, com fome...
Crec.
Olhei para o lado e estreitei os olhos ao ouvir o barulho similar ao de um galho se quebrando, não consegui enxergar claramente, mas certamente havia a silhueta de uma pessoa ali.
Broooooom.
Mais um trovão rasgou o céu, por cima da silhueta do ser paralelo a minha direção, o clarão do trovão revelou que o ser, era um homem, alto e forte, cabelos loiros, não consegui enxergar a cor dos seus olhos, mas ele tinha uma cicatriz no olho direito, que se estendia da sobrancelha, até a sua bochecha.
Sua expressão demonstrava preocupação.
Ele veio até mim em silêncio, não falei nada apenas esperei pra ver o que ele iria fazer.
Ele se ajoelhou ao meu lado, e me envolveu em seus braços, com extremo cuidado e gentileza, me pegando no colo.
Fiquei surpresa, mas permaneci em silêncio, ele caminhou comigo por alguns segundos, percebi que a chuva já não nós molhava, e que ele havia me trazido pra uma espécie de caverna, ou gruta, não sei dizer.
Lá dentro era quentinho, e estava claro por causa da fogueira.
Ele me deitou sobre uma pele de urso que estava estendida no chão.
Permaneci deitada, o observando.
Agora eu podia vê-lo claramente, ele tinha cabelos loiros e lisos até os ombros, com uma trança fina no lado esquerdo. Seus olhos eram roxos, e intensos, era como olhar a imensidão do céu, ou do mar. Sua barba estava por fazer, e seus lábios eram um pouco cheios. Ele me observava em silêncio.
-Er...Oi...Obrigada por...Me abrigar - quebrei o silêncio, um pouco sem graça.
Ele continuou a me observar e acenou com a cabeça.
-Ahm...Er...Prazer meu nome é...
-Seu nome é Julianne. - respondeu ele, me cortando, arqueei a sobrancelha.
-Como você sabe meu nome? - perguntei curiosa.
-Um palpite, eu diria - ele sorriu - Meu nome é Kharis Stefan.
O sorriso dele era belo, muito encantador.
- Palpite? A partir de quê, você chegou a essa conclusão? - comecei a interrogá-lo.
Ele suspirou.
- A partir daquelas coisas lá fora, que estão rondando a caverna procurando você.
-Os Licans? Como você sabe que eles não são simples lobos? - ele sabia demais...Certamente ele não era mais um humano normal, me concentrei e tentei sentir a essência dele. Nada. Não havia nada. Okay, isso é assustador, ele não tem essência, ou seja ele não tem uma alma ou espírito ou algo assim.
-Isso não vem ao caso - ele jogou a bainha de couro de uma faca pra mim - Você vai precisar disso.
-Ahm? Porquê? Stefan o que você vai fazer? - antes que ele me respondesse, suas mãos já estavam em meu pé esquerdo, e com um único e doloroso movimento ele o pôs no lugar, e eu deixei um lindo berro escapar.
-Eu falei que você ia precisar disso - ele indicou a bainha. Me sentei, gemendo de dor, e tentei dar um tapa no ombro dele, o tapa mal fez barulho e tudo que ele fez foi rir.
-Doeu seu bruto! - choraminguei.
-Sabe o que vai doer por causa do seu grito? Aquilo ali - ele apontou o dedo para a entrada da caverna, onde alguns olhos amarelos brilhavam em meio à escuridão.
Arregalei os olhos e comecei a tremer, eu e ele estávamos encurralados naquela caverna, com um bando de Licans na entrada. Lentamente e inconscientemente fui recuando para trás, até que fui interrompida pela parede da caverna.
Kharis sorria.
Um par de olhos amarelos se elevou um pouco e saiu das sombras, andando como homem.
O Lican adentrou a caverna e parou a poucos metros de nós dois.
-Princesa Julianne, preciso que me acompanhe - o homem sorria mostrando seus dentes levemente pontiagudos, seu sorriso era honesto, porém seu olhar, era de um assassino.
-Não to afim não senhor - falei de imediato, Kharis apoiou a testa na mão rindo da situação.
-Ora, mas eu preciso, e o uso de força foi autorizado pelo conselho de Exhodus. - Ele ergueu a mão e um dedo, exibindo uma garra.
-Você precisa, mas não vai - Kharis se levantou. - Minha paciente ainda está se recuperando.
-E quem seria você meu caro? Um curandeiro? Em uma caverna no meio do nada? - ele riu sarcasticamente.
-Ele é meu curandeiro particular e mora nesta caverna - falei com confiança.
-Na verdade, eu não sou um curandeiro. - sem que eu ao menos visse, Kharis havia se movido para a frente do Lican - Eu sou o que você teme. Eu sou o que criaturas como você temem. Eu sou um Fallen.
Ele empurrou o Lican com a mão direita, o jogando para fora da caverna, olhei para ele incrédula.
-Não seja louco o que você está fazendo?
-Estou salvando você - disse ele caminhando para fora da caverna, perdi a silhueta dele em meio a escuridão e só pude ouvir rosnados e o som de algo rasgando, gemidos das criaturas, madeira quebrando, uma batalha violenta parecia ocorrer do lado de fora, um relâmpago irrompeu dos céus, clareando momentaneamente o lado de fora, clareando tempo suficiente para eu ver a figura de Kharis no meio da floresta, segurando um lobo gigante pelo pescoço, o erguendo do chão, enquanto os outros estavam espalhados pelo chão, mortos e desfigurados. Aquela cena ficou gravada em minha mente, corri até o canto da caverna e vomitei, aquilo era nojento.
Alguns minutos depois o silêncio dominou o local.
Isso me preocupava.
-Kharis?
Chamei. Silêncio.
-Senhor Lican?
Silêncio.
Peguei uma tora de madeira da fogueira e caminhei até a entrada da caverna, ergui a tocha improvisada acima da minha cabeça, a luz revelou que Kharis estava debruçado sobre o Lican, arrancando suas entranhas, e as devorando.
Ele olhou por cima do ombro devagar, seus olhos estavam vermelhos e pretos.
Deixei a tocha cair no chão e voltei para dentro da caverna, me sentei no canto oposto a entrada, abraçando meus próprios joelhos, me balançando para frente e para trás devagar.
"vai acabar logo" "ele não vai me ferir"
Meus olhos estavam fechados, mas logo que senti uma mão forte em minha cabeça, olhei para cima devagar.
Kharis estava a minha frente, sujo de sangue, sorrindo sadicamente para mim, seus caninos eram pontiagudos, e seu sorriso era vermelho sangue.
Gritei e desmaiei.
-Hehehe eu adoro fazer isso - disse Kharis limpando a boca.