Capítulo 1

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1 de Janeiro de 2072,

É o primeiro ano novo que passo sem ele. Me lembro como se fosse ontem que os médicos me ligaram para dar a notícia que temia ouvir. No momento em que o telefone tocou, já veio em mente o que estava acontecendo.
Quando o médico me disse o que aconteceu naquela manhã, fiquei em choque, minha visão ficou embaçada devido as lágrimas que transbordavam de meus olhos. Tem vezes que eu penso, quantas coisas na vida não tem explicação, e a morte de meu marido tem explicação? Estava na hora de acontecer?

As dores que estava sentindo durante aquele período eram tantas que resolvi ligar para minha irmã Melissa e ver o que ela tinha para me dizer. Ficamos conversando por alguns minutos e então tomei coragem e pedi se poderia ir para Boston e ficar um tempo com ela e com seu marido Peter. Minha irmã era uma mulher fantástica, era acolhedora e com um coração enorme, e acabou deixando eu ir passar um tempo em sua casa. Então corri para o quarto e comecei a fazer minhas malas, abri o armário que ficava na frente da cama e me deparei com algumas caixas. Abri a primeira que vi e nela continha várias fotos de minha juventude. Depois de ter vasculhado as fotos, achei uma foto minha e de meu marido na faculdade de Los Angeles, naquela época meu cabelo era uma cascata de cachos ruivos e meus olhos eram azuis mediterrâneo. Agora tenho fios brancos misturados com fios arruivados e meus olhos estão acinzentados, percebo o quanto minha aparência mudou, mas continuo a mesma Riley que sempre fui. Já ele, na época, tinha cabelos pretos caindo sobre os ombros e seus olhos eram castanhos, um castanho encantador. Analisei muito aquela foto até que senti um aperto no peito e decidi guardar e partir para a próxima caixa. Peguei uma que estava bem no fundo, um pouco maior que a das fotos, quando a abri aquele aperto voltou, nela estavam todos meus antigos diários.
Peguei o primeiro diário que havia dentro daquela enorme caixa. Lembro-me que ganhei esse diário quando completei 6 anos de idade. Naquela época não tinha muitos fatos a serem escritos e acho que foi por isso que enchi algumas páginas com desenhos e rabiscos. Tive a sorte da minha irmã Melissa ter nascido alguns dias depois, pelo simples motivo de ter algo de importante para pôr no papel. Melissa sempre foi bonita, ela tinha lindos cachos castanhos e olhos azuis-celestes, era igual a mamãe.
Quando ganhei o diário, deixei de lado muitas coisas, pois eu tinha o costume de que quando ganhava algo novo só queria saber daquilo, e posso dizer que aquele diário era maravilhoso. Ele era todo cor-de-rosa e tinha uma caixinha roxa onde guardava a chave. Como eu era muito possessiva, não gostava que pegassem meu diário, muito menos a chave, e talvez foi por isso que passei a esconder a chave dentro de um ursinho de pelúcia verde que ficava em cima da minha cama. Meu quarto na época era todo decorado com tons pastel, então queria que todos meus brinquedos tivessem a mesma cor da decoração, e aquele ursinho se destacava por ter um verde intenso, era o meu favorito e por isso o escolhi como esconderijo.
Depois de um tempo folheando meu diário, decidi dar uma pausa. Peguei uma roupa quente, fui ao banheiro e quando olhei ao espelho, percebi como envelheci, não tinha mais aquele olhar encantador que tinha alguns anos atrás. Depois de me encarar por alguns minutos, decidi tomar um banho. Deixei que minha roupa caísse no chão e logo em seguida entrei no chuveiro.
Terminando o banho, me enrolei em uma toalha, me sequei e coloquei um pijama. Olhei pela janela, vi a cerração e a chuva que caia, estava um dia frio, um dia perfeito para ficar em casa, tomando um café e lendo. Fui até o quarto, peguei a caixa e a levei para sala, fui para cozinha fazer um café, depois me sentei no sofá, puxei da caixa o próximo diário e comecei a ler. Lendo diário após diário, senti falta da emoção de ter um, de escrever pensamentos íntimos e coisas interessantes que acontecem no dia a dia. Perdida em pensamentos, tive a ideia escrever um diário, meu último diário. Procurei por um caderno para usá-lo como rascunho. Pensei no que faria e como começaria, e aqui estou, caro leitor, contando para você minha história. E minha história realmente começa aos 14 anos, o dia que mudaria a vida da minha família. E a minha.

18 de julho de 2014

Já são 19:00 h e nem comecei a me arrumar, toda sexta-feira eu e minha família saímos, hoje meu pai disse que seria um jantar especial, então acho melhor me arrumar. Peguei meu estojo de maquiagem e corri para o banheiro, comecei passando rímel em meus longos cílios, e em seguida ouvi minha mãe gritar.
-Riley! Venha dar comida para o Wolf.
Wolf é meu "cachorro" de estimação, ganhei ele aos 11 anos, e somos muitos amigos, sempre gostei de animais mas Wolf simplesmente é especial. Ele parece mais um lobo do que um cachorro. É maior que um cachorro normal e sua pelagem é semelhante à de um lobo selvagem. Daí o nome.
-Já vou mãe!- gritei de volta.
Rapidamente coloquei meu melhor vestido, penteei meus longos cabelos e desci as escadas correndo. Peguei o pote vermelho de Wolf e enchi de ração e dei para ele. Depois de o alimentar, continuei a me arrumar. Botei uma bota que combinava com meu vestido preto e florido e peguei um casaco leve.
Quando meu pai chegou em casa, todos estavam prontos para ir. Mel estava com uma saia preta e uma blusa branca, minha mãe vestia um vestido azul-marinho. E meu pai, é claro, usava seu melhor terno. Um terno cinza escuro.
Entramos no carro e nos dirigimos ao Back Bay Harry's Restaurant. Chegando lá, escolhemos uma mesa, fizemos nosso pedido e meu pai já começou falando sua surpresa.
-Tenho uma novidade para vocês -disse meu pai- sabem aquele livro que eu escrevi cujo nome é "Os Mortos''? Então, recebi uma proposta de um dos diretores da empresa de Hollywood de Los Angeles. Na proposta diz que eles gostaram da história do meu livro e ficaram interessados em fazer um filme sobre ele.
Eu e mamãe nos olhamos e sorrimos.
-Parabéns papai, estou orgulhosa de você, espero que você consiga fazer muito sucesso com seu primeiro filme- Falei.
-Mas tem um pequeno problema Riley, teremos que nos mudar para Los Angeles para que isso ocorra- Disse papai com uma estranha voz.
-Não tem problema papai, vou sentir falta daqui é claro, mas nada como ver você realizando seu maior sonho.
-Mas papai- disse Mel- eu não quero sair de Boston.
-Eu sei querida, mas podemos vir visitar a cidade por algumas semanas, tenho certeza de que você vai ficar bem lá e vai se acostumar.
-Está bem.
Depois do garçom anotar nosso pedido, ficou um silêncio por um tempo, foi quando lembrei que teria uma festa neste sábado.
-Mamãe, papai, amanhã tenho uma festa para ir com a Lua, será que posso ir?
-Claro que pode- respondeu mamãe- vai ser na casa dela?
-Não, vai ser em um pavilhão, mas a Sra. Erin vai nos levar e nos buscar, te aviso quando chegar na casa da Lua.
-Está bem, Terrell, o que você acha?- Mamãe perguntou ao papai.
-Por mim não tem problema, desde que a senhorita avise quando chegar na casa da Lua.
-Não é justo- resmungou Melissa- ela pode ir para festa e eu não, por que?
-Querida, você é muito nova ainda, quando tiver a idade da sua irmã você também poderá ir para festas- respondeu papai, suavemente.
-Mas papai...- começou Melissa, que foi interrompida bruscamente por papai.
-Sem mas, Melissa, eu já expliquei o motivo de você não poder ir, não expliquei?
-Sim senhor, desculpe.
Tomei um gole do meu suco natural de laranja e dei um leve sorriso para Melissa.
-Então papai, já tem previsão para a mudança?- perguntei.
-Bom, ainda não, tenho que assinar a papelada primeiro, e queria ver se todas concordavam em se mudar para Los Angeles.
-Vamos levar Wolf junto?- perguntei preocupada.
-Sim Riley, Wolf faz parte da família, não podemos deixar ele para trás.
-Claro que podemos- retrucou Melissa- Wolf só serve para fazer bagunça e me babar toda vez que estamos comendo, ele é um pulguento!
-Você é toda enjoada. Wolf é um companheiro incrível para quem sabe apreciar ele como eu aprecio- respondi nervosa.
-Já chega vocês duas. Melissa, não quero mais ver você falando mal de Wolf, e Riley, não quero mais ver você discutindo com sua irmã, ou você não irá para a festa amanhã- disse mamãe, finalizando a conversa.
Depois de alguns minutos conversando, a comida finalmente chegou, eu já estava morrendo de fome, ou como Melissa diz quando mamãe demora de servir o almoço, meu estômago já estava se digerindo. Pedimos o mesmo prato de sempre, bacalhau com uma porção de camarão frito para Mel.
Depois de degustar todo aquele prato, papai pediu a conta e fomos para casa.
Chegando em casa, já era 22:00 e tivemos uma grande surpresa, Wolf tinha tirado o lixo da cozinha e espalhado pela casa inteira.
-Não disse que esse cachorro era um pulguento?- falou Mel, rindo da minha cara.
-O que nós combinamos Melissa? Pode ir para seu quarto. Amanhã conversamos- falou papai, com raiva- Riley, arruma essa bagunça e depois pode descansar.
-Sim papai.


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⏰ Última atualização: Oct 25, 2015 ⏰

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