Entreatos: Maria Flor

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" Mas eu, sendo pobre, só tenho os meus sonhos. Estendi os meus sonhos sob os teus pés. Caminha suavemente, pois caminhas sobre os meus sonhos."

William Butler Yeats


Seis meses depois...

Eu entro aos prantos no quarto. Minhas lágrimas quase não me deixam ver os móveis a minha frente. A única coisa que quero é entrar no chuveiro e implorar para que as águas que cairão da ducha limpem a minha alma. Me sinto suja. Usada. Caí na escuridão desde que me permiti amá-lo.

Não seguro os meus soluços e aos prantos tiro minhas roupas e caio prostrada no chão do box.

Estou transtornada.

Só consigo pensar que quando somos crianças acreditamos em conto de fadas...

... Eu cresci acreditando em conto de fadas!

Repito como um mantra essa doce ilusão que hoje se desfez completamente e acabou com meu mundo.

Abraço as minhas pernas e sinto que estou perdendo o ar de tanta dor que se aglomera em meu âmago.

O problema em crescer acreditando em conto de fadas é que eu realmente achei que quando encontrasse o amor, ele cuidaria de mim, assim como eu cuidaria dele. O amor chegou: fulminante, intenso, arrebatador. E eu me entreguei completamente a ele. Mas, não existem contos de fadas! Ele não é meu príncipe encantado... ele se tornou meu carrasco.

Tudo bem... ele não precisava ser meu príncipe, contudo poderia ser ao menos humano. Não um ser que se mostrou desprovido de sentimentos. Cruel.

Me vem a lembrança os acontecimentos dessa tarde e mais uma vez falta-me o ar. A dor da verdade machuca tanto que não consigo ter forças nas pernas para levantar-me do chão gelado do box.

As lágrimas descem quentes sobre minha face e eu engulo meus soluços tentando entender como eu me perdi tanto assim e permiti que ele dominasse todas as esferas da minha vida. Até a minha procura por ela. Meu deus! Por ele eu deixei de procurar a minha irmã. Por que eu acreditei que ele assumiria essa missão por mim. Que ele me ajudaria.

Mas durante todos esses meses ele só fez perder a crença que eu tinha em mim mesma. Com suas palavras e ações manipuladoras, me fez sentir inadequada para tudo o mais que não fosse amá-lo de forma submissa.

Mas hoje eu me libertarei.

Com essa certeza eu consigo me acalmar. Levanto o rosto para a água do chuveiro que cai abundante e faço uma segunda promessa:

Voltarei a ser eu mesma nem que para isso tenha que fugir dele.

Saio do chuveiro, me seco e enrolo uma toalha sobre meu corpo. Mecanicamente sento-me na cama e como em um filme revejo em minha mente a noite em que eu o conheci naquele maldito piano-bar em Londres.

Me lembro do exato momento em que me apaixonei a primeira vista por Salvatori.





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⏰ Última atualização: Feb 21, 2016 ⏰

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