Prólogo

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Maria Flor

Acordo me sentindo perdida, sem reconhecer o quarto onde me encontro. Por um instante o pânico toma conta de mim, não consigo respirar. Sento-me na cama e puxo ar, olho ao redor e então me lembro:

- Estou em Londres!

Com uma risada me levanto e nua (durmo assim) vou ao toalete.

- Um bom banho de banheira me ajudará a começar o dia.

Após relaxar por quase uma hora, em um delicioso banho de espuma, resolvo tomar meu café na sacada. Afinal, é a primeira vez que tenho um quarto tão elegante a minha disposição. Por que meu trabalho como cantora nos pianos-bares dos hotéis, nunca me possibilitaram tal luxo.

Mas, a mais ou menos um mês atrás, a vida sorriu para mim. Estava no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, executando um trabalho temporário de pianista, quando a cantora que iria fazer o show naquela noite, sofreu um acidente. Eu assumi o palco, cantei basicamente um repertório da Bossa Nova, fui vista por um antigo amigo do meu pai, que gerenciava uma rede de hotéis de luxo em Londres e aqui estou.

Oportunidade melhor não poderia aparecer. Meus pais foram contra. Tivemos uma discussão feia. Para eles ser cantora no Brasil era seguro, afinal eles apesar de não serem famosos, são conhecidos e respeitados nas noites cariocas. Já, ganhar a vida longe do meu país, era um risco que eles não queriam que eu corresse. Passamos por muitas tragédias e por isso eram muito protetores comigo.

Talvez eu devesse voltar e esquecer todo esse pesadelo que me acompanha desde meus 15 anos. Sei que eles me receberão de braços abertos. Afinal sou a filha amada deles. Nossa... quantas saudades!

Quando fecho meus olhos e respiro fundo posso sentir na lembrança o cheiro do mar, a música alegre vinda do quintal e a voz angelical da minha mãe. Sorrio com a lembrança. Porém, nelas estão contidas outras imagens que me perseguem e não me deixam esquecer. Respiro fundo, abro os olhos e me acalmo. Já se passaram 6 anos. Tenho que seguir em frente e continuar procurando...

... Dessa vez a encontro!


Salvatori

Faz três malditos dias que estou em Londres para resolver a compra de uma cadeia de hotéis. Mesmo tendo trazido comigo uma das minhas amantes, não consigo relaxar. Aliás, estou cada vez mais irritado. Gostaria de compreender porque meu irmão caçula Pietros, resolveu que seria vantajoso para os negócios se ampliássemos para o ramo hoteleiro.

Observo que estamos na metade da manhã e ainda nada foi decidido sobre a cláusula que o antigo proprietário insiste em manter. Ele é brasileiro e prima pela cultura do seu país. Sendo assim, quer que mantenhamos seu projeto do piano-bar. Para ele é um momento onde os hospedes conseguem relaxar e aproveitar para matar a saudade do Brasil.

Tento não ser mal educado com o velho brasileiro. Mas não consigo entender essa mania que os latinos têm de serem tão expansivos e sentimentais. Homens não são assim. Principalmente no mundo dos negócios. Se você demonstra qualquer sentimento, com certeza, ele será usado contra você.

Só não desisto dessa aquisição, porque a cadeia de hotéis é a única rede brasileira cinco estrelas que tem franquia em todos os continente. Pietros tem razão, será um ótimo negócio.

Após três horas de negociações na mesa de reuniões, finalmente entramos em um consenso. Me levanto, comprimento os antigos proprietários e ordeno aos meus advogados que cuidem dos detalhes do contrato de compra e venda. Tudo automático e sem emoção, como deve ser.

- Salvatori!

Chama-me o velho brasileiro.

- Pois não senhor Moraes?

O senhor se aproxima de mim e fala emocionado:

- Venha conosco essa noite ao piano-bar para comemorarmos sua compra e para que você compreenda a dinâmica no meu antigo hotel.

Essa eu não poderia recusar. Marcamos de nos encontrarmos para um drink e depois jantar.

Preciso relaxar. Deixo a sala de reuniões apressado. Pego meu Blackberry disco para Antonella, minha amante, que atende no primeiro toque.

- Ciao bello!

- Onde você está?

- No spa querido.

Reviro os olhos para o jeito manhoso que ela fala comigo. Tentando criar uma intimidade que nunca teremos. Apesar de ser uma modelo italiana muito bonita, dela eu só quero a foda e a obediência.

- Te espero agora na minha suíte. Tenho planos para você.



Insano por vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora