Vogue

248 24 0
                                    

"Good luck" disse o sarcástico taxista depois de deixar Ian no endereço que Beca lhe informara.

...

- É, acho que precisarei de muita sorte mesmo! - Respondeu Ian consigo mesmo, já que o motorista já havia sumido de vista.

Aos poucos o rapaz foi recuperando a sanidade, o que nessa circunstância não era lá grande coisa, já que seu cérebro voltara a funcionar e processar a situação complicada em que havia se metido: passarei o natal num país estranho, de língua desconhecida e o pior de tudo, bem longe da Beca.

...

Beca ainda não havia parado de rir, se quer conseguia disfarçar o descontrole emocional, fazendo com que as pessoas a sua volta lhe dessem uma olhada de estranheza. Ela estava com a mala no colo e conduzindo sua cadeira de rodas motorizada para a parte de fora do aeroporto, em direção à um táxi, mas fez uma pausa para discar a última chamada e retomar a ligação de Ian.

- Hey! Está melhor? - Perguntou Beca, ao ouvir o "alô" do rapaz.

- Eu estou ferrado, Beca, estou muito ferrado mesmo! - Respondeu Ian com cara de apavorado.

Foi impossível Beca tentar controlar o ataque de risos novamente, deixando Ian boquiaberto com a falta de compaixão da garota.

- Você está rindo? Sério, Beca? - Continuou Ian inconformado.

Beca continuava descontrolada com seu acesso de risos e acabou não demorando muito até que Ian cedesse ao fato no mínimo cômico em que se encontravam.

- Eu não acredito na proeza que conseguimos. - Disse Beca, ainda tentando se recompor.

- Beca, eu não sei se quer pedir água em inglês. Eu tô ferrado! - Retrucou Ian, dando ênfase na última afirmação.

- Relaxa, tenho um amigo brasileiro aí, ele vai te socorrer. - Respondeu Beca.

- Amigo? - Perguntou Ian sismado. - Você nunca me falou que tinha um amigo brasileiro aqui.

- Eram muitas novidades, não dava pra falar tudo de uma vez. - Explicou Beca.

- Hum, tá. - Respondeu Ian, pouco satisfeito com a explicação da garota. - Qual o nome dele, como ele é?

- Fábio e é bem bonitão para ser honesta. - Respondeu Beca, nitidamente satisfeita em perceber o tom ciumento de Ian.

- Você sempre brincando comigo, Maria Rebeca. - Respondeu Ian, tentando descontrair, mas ainda incomodado por haver outro cara na vida de Beca.

Ian nunca fora o tipo de namorado ciumento ou grudento, mas, como desde pequeno esperava o melhor das pessoas, assim como ele as via, temia que esse tal de Fábio poderia ser quem sabe outro cara legal e facilmente se apaixonaria por Beca e por que não, Beca por ele? Beca já era mais desapegada e demorava a perceber alguma coisa que os outros percebiam antes, mas Ian era para ela um livro aberto, Beca reconhecia o humor do rapaz apenas num olhar, ou numa ligação a distância, mas com Fábio, Beca nunca havia reparado se havia algo mais e também não estava preocupada em encontrar outro amor. Ian era suficiente, sempre seria.

- Deixa de besteira, Ian, Fábio é apenas um amigo e é bom você se acostumar, você precisará e muito da ajuda dele. - Respondeu Beca, tentando tranquilizar o rapaz.

- Quando você volta? - Perguntou Ian, ignorando o conselho de Beca.

- Dia 2 de Janeiro. - O Projeto que estou participando já terá retomado as pesquisas, o pessoal não quer perder tempo. - Explicou Beca. - E você?

- Dia 1. - Respondeu Ian, num tom de desapontado.

- Olha aí, teremos pelo menos algumas horinhas juntos! - Celebrou Beca.

- Não será o suficiente. - Retrucou Ian.

- Nunca será suficiente, por isso é amor! O amor sempre pede mais, Ian! - Justificou Beca.

Não há algo mais contraditório do que o amor, quanto mais o temos, mais queremos ter, mais queremos ser saciados e também compartilhar. Sempre queremos demonstrar mais para a outra pessoa o quanto ela é especial e ainda assim ele consegue ser suficiente para completar sorrisos e trazer paz.

- Eu também te amo! - Respondeu Ian. - Mas agora eu preciso desligar, essa ligação vai lhe custar muito. - Lembrou o rapaz.

- Tudo bem. Se o telefone fixo tocar, atenda! - Recomendou Beca. - E Ian, tenta curtir as férias. - Completou Beca.

- Onde você ficará? - Perguntou Ian, lembrando que Beca estava sozinha em solo carioca.

- Num hotel perto do Leblon. Te amo. - Respondeu Beca, se despedindo.

Que a família de Beca era rica, Ian já sabia, sua vida universitária e econômica que o fez se esquecer o quanto.

Ian explorou a casa de Beca, fazendo um reconhecimento de território. Beca dividia a casa com mais uma colega francesa, que também estava viajando, o que significava que a casa era toda do rapaz. A casa era térrea, para facilitar a locomoção de Beca, toda de carpete, com dois quartos, um de frente ao corredor que ligava com a sala e outro na lateral, esse era o de Beca. A cozinha não tinha diferença da arquitetura americana, um balcão dividindo os ambientes, mas com armários todos baixos, também adaptados para ajudar Beca na hora de fazer as refeições.

Ian levou a mochila até o quarto de Beca, a cama minunciosamente arrumada, nada havia fora do lugar, sequer um chinelo, Beca podia ter uma personalidade descontraída, mas era extremamente perfeccionista e gostava de tudo milimetricamente organizado; "eu tô ferrado" pensou Ian, ao analisar o ambiente, o rapaz desde sempre, fora um furacão, por onde passava, deixava seu rastro de destruição, roupas, meias e cuecas, todas jogadas pelos cantos.

Depois de algumas horas, a campainha tocou, Ian estava sentado no sofá da sala, tentando achar algum programa de tv com legenda, ou ao menos uma novela global, que lhe suprisse a abstinência pelo velho idioma. O rapaz parado na porta, era mais alto que Ian, cabelo liso castanho, corpo atlético, parecia modelo capa de revista para a Vogue.

- Pois não? - Disse Ian, ao ver o rapaz.

- Ian? - Perguntou o rapaz.

- Sim. Você é o Fábio? - Perguntou Ian, incrédulo. Beca não mentira quando afirmou sobre a beleza do rapaz.

- Beca me disse que você estava precisando de um socorro. - Sorriu o rapaz com simpatia.

- Ela é uma exagerada. - Disfarçou Ian. - Entre.


Sobre Rodas e SmokingsOnde histórias criam vida. Descubra agora