Singularidades

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Há quem pense que o amor nem tudo suporta.

...

As últimas palavras de Beca continuavam ecoando na memória de Ian, a namorada lhe dera alguns segundos para que o namorado processasse a informação.

- Por que você não me contou nada, Beca? - Perguntou Ian incrédulo.

- Para ser honesta eu não acreditei que daria certo, muito menos que seria tão rápido. - Explicou Beca.

- Não achou que ainda assim eu merecia saber?

- Não queria te tirar do foco dos estudos. Era importante pra você! - Explicou Beca.

- E o quão importante você acha que isso que temos é para mim? - Retrucou Ian.

- Espero que muito e por isso mesmo espero que você me entenda. - Respondeu Beca.

Havia algo impenetrável nas palavras de Beca, que Ian ainda não havia percebido.

- Você tem ideia do quanto já me deu, Ian? - Continuou Beca. A expressão do namorado era de confusão. - Você me deu pernas para uma dança, aliás, você me deu nossa própria música. - Sorriu Beca, referindo-se a noite do baile. - Você me fez perceber de que as coisas são possíveis para mim também, quando eu não me acha no direito de ter. Se você pudesse sentir como me faz feliz. Se pudesse entender o que é sentir o seu beijo. Você me deu singularidades em meio a uma vida tão complexa. Se tem algo que eu possa fazer para retribuir tudo isso...

- Acho melhor você não continuar, Beca, eu não quero ouvir. - Interrompeu Ian.

- Eu quero que você tenha um futuro, Ian! - Continuou Beca.

- Não! - Retrucou Ian, se desvencilhando das mãos da namorada. - Você quer esse futuro e parece que eu não estou no pacote.

- É claro que eu também quero. Você não acha que eu preferia que você estivesse comigo?

- Você está sendo egoísta, Beca! - Respondeu Ian, com a voz alterada.

- Egoísta? - Repetiu Beca incrédula. - Você sabe o que é ver todos ao seu redor abrindo mão das suas vidas por minha causa? Você tem ideia o que é ver meus pais todos as sextas a noite em casa, só pra cuidar de mim, ao invés de saírem para namorar, ou fazer qualquer coisa que queiram? Sabe o que é olhar para a minha antiga babá e sempre enxergar nela um sentimento de culpa? - Agora Beca havia perdido o controle das lágrimas. - Pela primeira vez, eu posso deixar as pessoas seguirem com seus planos, sem que os meus interfiram, Ian. E sim, estou conquistando alguma coisa com isso também.

Por um momento, mais nada fora dito. O violão do artista começara uma nova canção e sua música parecia correr por toda a praça, até alcançar Ian e Beca.

- Ian! - Chamou Beca.

O garoto a olhou e sabia o que ela queria dizer.

- Segura firme, Beca. - Disse Ian, levantando Beca da cadeira.

Ian e Beca conheceram a música que embalaria o momento de despedida deles, mas nada tão ousado seria capaz de separar as singularidades que havia entre os dois.

"Pra você guardei o amor que sempre quis mostrar, o amor que vive em mim vem visitar, sorrir vem colorir solar, vem esquentar e repartir." (Nando Reis).

- Beca!

Beca ergueu seus olhos.

- Eu te amo!

- Eu também te amo Ian.


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