Uma pergunta complicada

101 6 1
                                    

— De um a dez, o que você acha que é?
meu padrasto perguntou. No momento estou dentro de um carro que eu não queria estar, indo pra um lugar que eu não queria ir, olhando pra rua enquanto estou dentro do porta mala do carro. Eu realmente nunca tinha pensado nisso de saber o quanto eu sou em uma escala de um a dez. Nunca nem se quer pensei em nada dessas coisas. Eu só queria aproveitar meu verão fazendo outras coisas menos isso que vou ser obrigada a fazer, passar na casa de praia do meu padrasto é por isso que estou aqui ouvindo perguntas a qual eu não sei a resposta, com a minha mãe e minha irmã mais velha.
— Lauren, eu quero saber como que você se vê.
meu padrasto me explicou. eu não precisava olhar para trás pra saber que estava sendo observada pelo retrovisor do carro, era sempre assim, ele sempre me olhava com um olhar de que sabe de tudo.
— De um a dez ?
voltou a me perguntar
— não sei.
finalmente o respondi mas saiu como um sussurro, eu não queria tá tendo essa conversa, ela não iria me levar a nada mesmo. Eu não queria saber na verdade quanto sou em uma escala, eu não tenho uma vida miserável e nem sou uma, só fico na minha porque é o melhor a se fazer, eu amo ficar quieta ouvindo minhas musicas preferidas, músicas na qual transmite as coisas que eu sinto. Gosto de ficar na minha bolha sem ninguém me perturbar, posso ser antissocial mas quem iria querer conversar com uma nerd que gosta de falar de política, tirar fotos da natureza e falar em como Lana Del Rey é boa. Quem ia querer minha amizade ? Não estou me fazendo de coitada, até por que detesto drama, mas eu sou realista e na minha realidade as coisas não são lindas como nos filmes.
— Eu não ouvi o que você disse, fale mais alto.
Estava tão concentrada com os meus pensamentos que levei um pequeno susto com meu padrasto voltando a falar. Mas sinceramente eu não sabia onde ele queria chegar, ele nunca fez questão de conversar comigo, na frente da minha mãe se fazia de bom padrasto mas quando ela não estava por perto, ele fingia que nem me via. Eu sinceramente não me importava.
— Eu não sei
respondi elevando um pouco minha voz para que ele possa entender dessa vez.
— O que é que não sabe, como se vê ?
ele me perguntou com um tom irônico — não tem nenhuma opinião, escolha um número de um a dez, fala alguma coisa, escolha um número qualquer.
Ele insistiu. Dei um suspiro, estava ainda vendo a paisagem lá fora, as árvores passando, o céu limpo. Então pensei comigo mesma que alguém lá fora pode está tendo um dia ótimo, maravilhoso, mas que essa pessoa claramente não sou eu. Tentei pensar um pouco nas minhas qualidades, gosto de ouvir the 1975 e Lana Del Rey, é uma ótima banda e uma ótima cantora então isso já é um ponto. Não perturbo ninguém então isso já é outro ponto. Fiquei uns minutos pensando nas minhas qualidades mas não consegui encontrar muitas, então depois de um suspiro, novamente e lhe respondi
— 6.
Me parece ótimo 6 já que consegui achar algumas qualidades em mim, e também não é um número tão alto, então ele poderia facilmente relevar isso e acabar de vez com essa conversa.
Ele deu um sorriso de lado, me olhou pelo retrovisor novamente, balançou a cabeça em negação
— Eu te dou um 3, sabe por que eu te acho isso ? por que desde que comecei a namorar a sua mãe eu não vi você se mexer Lauren.
Nesse momento eu virei para encara-lo. O que ele quer dizer com isso ? Ele não tem que ficar me questionando e nem falando asneiras. Acabei observando a minha mãe dormindo no banco do passageiro. Sua cabeça inclinada para o lado, a respiração lenta, não dá pra ver seu rosto mas parece está em um sonho bom. Minha irmã está deitada no banco de trás, dormindo, parece está em um sonho bom também. Acabo me questionando porque eu não estava dormindo também.
— Você deve se mexer Lauren, conhecer alguém, fazer amizades. Vejo você nunca faz nada, sorte sua que estou te levando pra minha casa de praia, lá talvez você encontre alguém. Vai ser um grande verão pra todos nós.
Disse ele me tirando dos meus pensamentos, ponderei um pouco das suas palavras mas eu não tinha o que responder, pensando melhor talvez ele estivesse certo, bom, não totalmente certo. Desde do dia que meus pais se separam eu não consegui voltar a ser como antes, eu ainda tinha esperança deles voltarem mas minha mãe conheceu meu padrasto e agora estão brincando de família feliz, certamente eu não quero fazer parte dessa brincadeira. Mas talvez eu possa encontrar alguém, mas só talvez. Meu padrasto então me perguntou se eu podia aumentar essa nota que eu me dei e se eu poderia dar motivos pra ele aumentar a nota que me deu. Eu fiquei observando ele, eu não sei se poderia fazer isso, as coisas não são fáceis. Ele ficou me encarando esperando uma resposta minha mas eu nada falei, então me arrumei no meu lugar novamente, coloquei meu fone de ouvido e fiquei admirando a paisagem como estava fazendo antes. Eu não sei como vai ser esse verão, não sei o que ele me reserva então deixaria pra responder essa pergunta dele em outra oportunidade.
Ninguém nunca sabe quando a vida resolve brincar.

O VERÃO ( CAMREN)Onde histórias criam vida. Descubra agora