No Pântano

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Se você quiser entender por que eu deixei o lugar que eu morava, você realmente só vai ter que ouvir toda a história. Você não vai acreditar, é claro. Mas o ceticismo não significa nada. Porque o que eu vi naquela noite no pântano, tem me perturbado desde então. Em minha mente, em meus pensamentos e às vezes até mesmo em meus sonhos.

Ela existe como uma memória perturbadora que eu não consigo me livrar. Isso nunca vai embora enquanto eu estiver vivo. É uma daquelas coisas tão terrível que ainda estará em minha mente no leito de minha morte, uma vez que isso já aconteceu.

Mas mesmo que você não acredite em mim, eu vou contar de qualquer maneira. Talvez possa servir como um alerta ou um apelo por cautela, se você alguma vez encontrar-se perto dos pântanos tarde da noite...

Na época, eu estava trabalhando em uma merda de restaurante fast food.

A única coisa pior do que trabalhar em uma merda de restaurante fast food é trabalhar em uma merda de restaurante fast food no período noturno, sozinho, sem nenhum veículo. Especialmente quando você vive na zona rural. Esse foi o meu caso durante alguns anos, até a noite deste evento.

Nesse período, eu morava a poucas milhas de distância do restaurante que eu trabalhava, devido à minha falta de um veículo ou de qualquer acesso a um sistema público de transporte, eu era dependente de outros para me darem carona ao trabalho.

Uma noite, após uma movimentada noite servindo os clientes, eu fechei a loja e tranquei o restaurante. Quando eu telefonei para minha carona, ninguém atendeu. Agora, eu não estou aqui para dar uma festa de piedade, mas não posso deixar de expressar a raiva com o fato de que a pessoa que dava carona era meu colega de quarto, que tinha um carro, mas não tinha nenhuma merda de trabalho e eu era o único que pagava o aluguel, a única coisa que ele podia fazer era me levar e buscar no trabalho. E esse perdedor teve o descuido de cair no sono, me deixando com a única porra de opção de caminhar até minha casa. Mas está não foi a primeira vez que isso tinha acontecido.

A primeira vez que aconteceu, eu demorei uma hora e meia para chegar em casa, isso que eu estava andando rapidamente. Aqui nós temos um pântano. É basicamente um pântano como qualquer outro. Espesso, escuro, úmido, cheio de sapos, repleto de mosquitos, infestado de jacarés, com cheiro de merda de pântano com grama grossa e alta, taboas, ciprestes e sons de outros animais se debatendo na água verde daqui. Existe uma longa estrada que atravessa o pântano, os poucos postes de iluminação que não estavam quebrados estavam bem distantes um dos outros, não há estradas laterais e as casas por essa rua são bem separadas, às vezes por mais de um quarto de milha de distância.

Não é simplesmente assustador andar por essa estrada durante a noite, é aterrorizante pra caralho! Você ouve sons, reais e imaginários que vem do pântano. Sons repetitivos, de coados, uivos, grunhindo de animais. O farfalhar das folhas e galhos na copa das árvores ciprestes, e os salpicos de água abaixo deles. Isso é o pior: Você pode ouvir o som de algo à espreita nas proximidades enterrar abruptamente sob a água. Pode ser uma tartaruga, uma cobra ou um jacaré. Você nunca sabe; você continua andando, com os dentes e as mãos tremendo, esperando que nada rasteje através da grama alta ao lado de você.

Ou ainda pior do que os sons, são os salpicos repentinos que acontecem quando você está andando e se assusta quando um sapo ou salta para a água. O som faz você quase se borrar e você começa uma maratona de corrida que dura cerca de três segundos antes de perceber o que era e então você fica com o coração batendo tão forte que o som de seu sangue jorrando em seus templos são mais altos que o som natural. Estes são os tipos de coisas que acontecem quando você está no pântano.

Era isso que eu tinha que enfrentar naquela noite, como meu colega de quarto babaca dormia esparramado no sofá, provavelmente com a televisão ligada, em sintonia com reprise dos Três Patetas e os irmãos Marx.

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