Duas garotas, um segredo.

Primeiro dia

O despertador tocou, tão alto que mesmo depois de ter parado eu ainda podia ouvi-lo. 6:00 da manhã, em ponto.
Me sentei na cama e fiquei um tempo olhando pro nada, sabe, tempo pra raciocinar, acordar, de verdade. Fui até o banheiro, escovei os dentes, e fiquei me encarando no espelho. Tentando me dar forças, afinal, estava sozinha nessa. Melissa infelizmente estava longe demais e eu havia prometido a ela que só iria ligar se houvesse um problema ou algo que definitivamente ela gostaria de saber, e não acho que um simples estresse seja algo relevante. A roupa era um problema, bom, eu não sabia de nada sobre as pessoas desse lugar, ou como se vestiam. Então, resolvi colocar roupas básicas. Camisa de manga preta, calça jeans azul, e um all star branco. Ok, tudo certo, nada de pânico.
Peguei a mochila e desci pra tomar café. Bryan e Caio estavam na mesa.
- Bom dia Ana - disse o Caio.
- Ah, bom dia irmãozinho.
- Vai pra escola com a gente?
- Eu tenho outra escolha?
- Chega de gentileza vocês dois! - disse minha mãe ao entrar na cozinha. Ela estava com um aspecto diferente, não sei dizer, parecia estar, estranhamente, feliz.
Terminei o café e fui indo em direção a porta, quando a mamãe me chamou.
- Ei Ana, não vai esperar seus irmãos?
- Sei andar sozinha, relaxa mãe!
Então sai andando, coloquei os fones nos ouvidos e segui até a escola.
Era enorme, maior que qualquer escola que já estudei na vida. Tinha um chafariz gigante na frente e um prédio muito alto.
As calçadas estavam lotadas de adolescentes, conversando, falando no celular, se beijando. Era tudo muito estranho pra mim. Nas outras escolas era tudo tão calmo, tão.. Sem graça.
Mas aqui não, parecia sei lá, ter uma energia pairando no ar, uma energia boa. E aquele estresse de alguns minutos atrás, havia desaparecido.
Eu não sabia bem pra onde ir, na verdade não dava pra diferenciar entrada e saída, estava muito cheio e confuso demais pra mim. Apenas continuei andando sem rumo.
Parei um momento pra tentar me localizar, olhei pros lados mas parecia que tinha me perdido. Até que uma pessoa esbarrou em mim e eu cai no chão. Minha cabeça bateu forte em alguma coisa e eu mal podia enxergar porque estava escorrendo muito sangue.
Doía muito. Foi como se alguem tivesse me nocauteado.
Ainda no chão ouvia alguém falando, bem lá no fundo. Não dava pra entender absolutamente nada. Abri os olhos, vi uma garota completamente desesperada, e ela estava me chacoalhando muito. De repente tudo escureceu.
- Hei, você está bem? Acorda, por favor!
- É.. Eu acho que o meu crânio se partiu em pedacinhos, mas eu to legal.
- Olha eu não te vi, eu tava com pressa, me desculpa, mesmo!
- Não, tudo bem.. Mas onde eu to?
- Enfermaria do colégio, você ficou desacordada, e sua cabeça estava sangrando muito.
- Comecei bem o meu primeiro dia..
- Primeiro dia? Bom, acho que vai ter que tentar de novo amanhã.
- Como assim?
- Você vai pro médico, e depois pra casa. Pro bem de todos.
- Que maravilha.
- Desculpa, de novo. Eu sou muito desastrada.
- Eu nem sei oque aconteceu, então, vamos esquecer isso.
- Tudo bem então.. Qual é o seu nome?
- Ana, meu nome é Ana. E o seu?
- Lua, mais conhecida como garota do espaço.
- Por que?
- Vivo por lá. Talvez seja por isso que você ta aqui.
- Já disse pra esquecer isso.
- Ta, eu vou indo, pra aula. Se cuida Ana..
Ela era meio alta, tinha cabelo curto, preto e meio bagunçado. Usava um sobretudo todo preto com alguns adesivos e bottons grudados. Botas estilo vaqueiro, e colares bem diferentes, pra não dizer estranhos.
Fui pra casa depois de ter ido no médico fazer uma chapa da minha cabeça porque segundo eles a batida foi preocupante.
Bom, não havia nada de errado, eles me liberaram em uma hora ou menos. Mas me pediram repouso, absoluto, e disseram a minha mãe que se eu tivesse febre ou algo estranho era pra retornar.
Fui pro meu quarto, me deitei e fiquei imaginando o porque de eu ter tanta má sorte. Não podia ser só um dia normal? Droga.
Aquela garota, ela é mais uma conspiração do destino. Hora errada, lugar errado, tudo errado. Tenho que me manter bem afastada dela se quiser continuar respirando. Bem afastada..