A noiva

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Um conto de Sion Dias

Na Romênia, há uma espécie de ser sobrenatural conhecido como strigoi. Um strigoi feminino (strigoaică) pode ser considerado uma bruxa vampírica. Uma das maneiras de se tornar um strigoi é morrer antes de se casar. Na maioria das vezes, em uma situação como esta, o cadáver é casada com outra pessoa solteira em torno da mesma idade para impedi-lo de voltar do túmulo. Caso essa técnica falhe, no entanto, o strigoi voltará e tentará ter relações sexuais com o cônjuge e vai atacar membros da família.

***

         Quando a lua se levantou por detrás dos túmulos, uma figura feminina se ergueu. Meio trêmula ainda pela falta de oxigenação cerebral, ela se sente estranha; seus sentidos estão em confusão. Não podia estar viva, pensa. E mais: como conseguiu deixar daquele caixão? Todavia, sabia que precisava fazer algo: casar-se. Este era o objetivo de sua vida.

        Catherine ainda se lembrava de como foi trancada viva naquele caixote de madeira. Ela quis gritar, mas não pôde. Ninguém percebia que seus olhos estavam abertos e que ela podia ver e sentir tudo! O cheiro sufocante das flores ao redor do caixão, as lágrimas de seu pai e sua mãe, a dor de todos os amigos. Entretanto, não conseguia se mexer, estava viva e não podia dizer a ninguém. Agora estava acordada de novo e poderia reencontrar sua família, reencontrar os seus, sentir novamente a alegria de estar em sua casa. Mas, estranhamente, apesar de conhecer o sentimento, a noiva não sentia alegria. Não sentia nada. Estava inábil emocionalmente como se fosse um simples vaso vazio de onde toda a água havia vertido.

       Deitada no caixão com os olhos vidrados, Catherine viu os pais realizarem uma estranha cerimônia, e agora uma pesada aliança pendia em seu anelar esquerdo. Contudo, aquele rito nada significou para ela. Aquele garoto insosso de 18 anos não era Thomas, seu noivo, e aquilo não tinha nenhuma importância.

      Catherine limpou a terra que ainda cobria seu vestido de noiva e começou a pensar nos últimos acontecimentos, na estranha doença que de súbito a acometeu, dos uivos que ouvia à noite, e que somente ela ouvia. Enlouqueceu; delirou; teve sonhos depravados e profanos. Depois a anemia e a morte rápida aos 18 anos, às vésperas do casamento.

      Morte? Não. Todos achavam que ela estava morta, mas ali estava ela, viva e com muita sede, uma vontade intensa e um calor infernal! Precisava chegar à igreja. Precisava se casar. Estava pronta e fizera um longo e belo enxoval por anos. 

    Catherine cambaleava pelas ruas deserta da noite em direção à única igreja da cidade. O local estava vazio, e ela parou diante à cruz, antes mesmo de subir a pequena escadaria que a levaria até a porta. Quase grunhiu diante do símbolo que se erguia à luz da lua no topo da torre. Ali não era o seu lugar, sentiu. Agora seu caminho seria outro. Queria ir para casa, pegaria um atalho, assim chegaria mais depressa. Contudo, parecia não precisar, andava estranhamente rápido, mas não era para sua casa que estava indo, queria, sobretudo, reencontrar Thomas, seu noivo. Ele a estava esperando.

      Recordava-se de como Thomas a amava e a queria. Catherine o desejou em segredo por anos e esforçou-se para esconder tal sentimento. Era uma boa moça e não deveria pensar em coisas do tipo. O noivado durou três anos. Thomas trabalhava muito longe e estava de volta à cidade para, enfim, se casarem. Eram os planos, e então ela adoeceu...

       Pensar no noivo a excitava, e Catherine não entendeu por que, já que em três anos de noivado, eles nunca tiveram intimidades, e ela nunca experimentara o desejo carnal, embora quisesse muito experimentar. Thomas sempre respeitou seus princípios e a sua família, por isso nunca tomou liberdades que despertassem tais sensações na noiva. Então por que agora? Era o que a jovem perguntava-se enquanto atravessava a cidade, sentindo, com uma nitidez estranha, o cheiro do noivo.

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