the wanted

Capítulo 1: Entre Sombras e Segredos

 O vento suave da noite acariciava a orla da Baía de Guanabara, enquanto a luz tênue da lua iluminava a imponente mansão Albuquerque Cavalcanti. Construída há mais de um século, o casarão de pedra possuía uma beleza arquitetônica atemporal, mas quem conhecia sua história sabia que cada parede guardava segredos. Segredos que, naquela noite, seriam finalmente confrontados.

No grande salão da mansão, as elites do Rio de Janeiro se reuniam para o famoso Baile de Máscaras dos Albuquerque. Este evento não era apenas um símbolo de status, mas uma oportunidade para alianças serem formadas, corações partidos e destinos selados. O ar estava carregado de expectativa, não apenas pelos encontros casuais, mas por algo mais profundo — algo que Isabella Albuquerque sentia no fundo de sua alma. Isabella Albuquerque Cavalcanti, a herdeira mais jovem da poderosa família Albuquerque Cavalcanti, era uma figura encantadora e ao mesmo tempo enigmática. Ela carregava em si a beleza clássica que sua mãe, Patricia, havia lhe passado — pele clara como porcelana, olhos de um verde profundo e uma presença magnética. Mas havia algo mais nela, uma dualidade entre sua aparência delicada e a força interior que transparecia em seu olhar. Desde pequena, Isabella sempre se sentiu deslocada no meio da alta sociedade carioca. Apesar do luxo que a cercava, havia uma solidão persistente, alimentada por segredos que sua família jamais explicara. Agora, aos 25 anos, ela estava determinada a descobrir a verdade por trás dos murmúrios sobre pactos antigos e um legado sombrio que envolvia a linhagem de sua família. Naquela noite, Isabella descia as escadas da mansão com passos graciosos, como se estivesse consciente de que todos os olhares estavam voltados para ela. Seu vestido preto com bordados dourados contrastava com sua pele pálida, e a máscara que usava deixava apenas uma sombra de seu rosto à mostra, aumentando o mistério que a rodeava. Mas o que mais perturbava Isabella não era a atmosfera da festa ou os olhares inquisidores dos convidados. Era Gustavo Almeida.

 Gustavo era filho de Lancy Almeida, uma das famílias mais influentes do Rio de Janeiro, conhecidos por suas propriedades e negócios multimilionários. Seu pai era um empresário de renome, mas Gustavo sempre se destacou por seu jeito rebelde e por não seguir as convenções da alta sociedade. Com 30 anos, sua aparência impecável — cabelos negros e olhos castanhos intensos — fazia dele o alvo dos desejos de muitas, mas ele nunca havia se entregado a ninguém por completo.

Havia algo nele que o afastava dos padrões rígidos de sua família, um desejo de liberdade, algo que o fez se aproximar de Isabella. Eles cresceram juntos, sempre participando das mesmas festas, eventos e encontros familiares. Contudo, nos últimos meses, uma tensão diferente surgira entre eles. A atração era inevitável, mas Gustavo sentia que Isabella carregava um fardo que ela ainda não estava pronta para compartilhar.— Você está linda, Isa. — disse Gustavo, quando seus olhos se cruzaram pela primeira vez naquela noite.— Você não está mal também, Gus.— Isabella respondeu, tentando esconder o leve rubor em suas bochechas sob a máscara. Eles sorriam, mas sabiam que havia algo mais naquela troca de olhares. Gustavo sempre fora o protetor de Isabella, mas agora ela sentia que não podia contar a ele tudo o que sabia. E isso a consumia por dentro.

 A mãe de Isabella, Patricia, observava a cena de longe, envolta em uma aura de tranquilidade que escondia um passado turbulento. Casada com Charles Cavalcanti, um empresário frio e distante, Patricia havia aprendido a suportar a solidão em silêncio. Mas sua postura impenetrável escondia cicatrizes profundas.

A separação de Patricia e Charles não veio com o divórcio, mas com a traição que abalou os alicerces de sua vida. Charles foi pego em flagrante com Norina Matarazzo, uma senhora de 62 anos, uma das figuras mais influentes da Igreja, no próprio escritório de Charles. Patricia entrou de surpresa, carregando papéis, e encontrou seu marido aos amassos com a "amiga" da família.
— Amor, não é o que parece! — Charles tentou justificar, mas sua expressão desesperada só intensificou a dor de Patricia.
— Não é o que parece? — Patricia gritava, seus olhos faiscando de ódio. — Traída duas vezes pela mesma mulher? Isso é insuportável! Norina, com um sorriso debochado, ainda conseguiu piorar a situação.
— Ah, querida, chifre deve ser mesmo difícil de engolir, não é? — disse, rindo enquanto se ajeitava.
 A briga resultou em uma rachadura profunda no casamento. Patricia, porém, manteve-se ao lado de Charles — não por amor, mas por poder. Ela sabia que poderia arruinar a carreira de Norina, mas preferiu guardar esse trunfo como uma arma futura. Charles permaneceu na mansão, mas sua relação com Isabella nunca mais foi a mesma. As viagens anuais que faziam juntos, como aquelas para Krikon, tornaram-se memórias distantes e amargas. O homem que Isabella idolatrava transformou-se em um estranho, e a desilusão marcou o coração da garota.