Amigo de sol

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Sentado no quintal de sua casa num simples banquinho de madeira, Benjamin reclamava de sua vida como se fosse um adulto. Mesmo com seus imensos problemas e dificuldades que enfrentava no seu dia a dia, sua mãe dizia que não era motivo tão grave para viver reclamando pois era apenas uma criança. E ele falava sempre a mesma coisa:

- Posso até ser uma criança, mas não sou normal. Eu sou cego!

- Meu filho, você tendo deficiência visual não se torna diferente dos outros, apenas não enxerga o que eles enxergam. - Falou Susana, mãe de Benjamin sentando ao lado dele.

- Não é isso o que Erick fala comigo, ele fala que sou problemático.

- Não liga para o que seu irmão fala, ele sofreu pelo pai de vocês ter saído de casa após você nascer e hoje ele põe a culpa toda em você.

- Mas eu sou mesmo problemático?

- Não, não! Claro que não. É apenas um obstáculo que Deus colocou em nossas vidas.

- Esse nome de novo?! A Senhora sempre fala sobre esse Deus e que ele vai nos ajudar, mas até hoje nada.

- Você um dia entenderá. Eu preciso te explicar mas não sei como e nem a hora certa.

Depois dessa conversa entre mãe e filho, os dois se levantaram do banco e entraram para dentro de casa. Susana ainda pensava e sofria junto com seu filho em ver o que ele estava passando e sentindo, mas vivia repetindo para Benjamin:

- Espere em Deus, que ele virá e nos abençoará.

Benjamin não entendia nada, apenas entrou, acompanhado de sua mãe e foi direto para o seu quarto. Sentou-se na cama e ficava indignado pelo fato de não poder ver nada, mas naquele momento, o sol bateu em seu rosto e ele se sentiu maravilhado. Para ele foi uma sensação prazerosa sentir aquele calor intocável espalhando em sua face, ele não dizia nada, apenas sorria encarando os raios solares que ele não podia ver ao menos o reflexo.

Susana passou pela porta do quarto e se deparou com aquela cena. Ver seu filho sorrindo era uma das melhores sensações em que sentia em seu coração maternal.

- É o que sempre falo pra você Ben.

- O quê mamãe?

- Você enxerga o que está refletindo em seu rosto?

- Não, só vejo faíscas brancas em meio escuridão.

- Então! Você não precisa ver nada para expressar seus sentimentos. Eu tenho certeza que você está pensando em milhares de coisas neste exato momento.

- Eu me vejo agora lá em cima das nuvens, procurando o sol para fazer amizade com ele. Já que não tenho amigos. - Benjamin abaixou a cabeça e mudou sua afeição.

- Não fique triste, você tem vários coleguinhas.

- Mas esses "coleguinhas" me batem e colocam apelidos em mim.

Susana quase chorava sempre que Ben falava isso, então ela o abraçou e deu um beijo em sua bochecha como um gesto de carinho e consolo.

- Então, que tal fazer amizade com sol? Assim, você talvez consiga entender e conhecer Deus.

- Boa ideia! Quero muito ter um sol como amigo! - Benjamin começou a rir ainda mais e foi contagiante.

Erick, seu irmão ouviu a conversa toda e entrou no quarto bastante arrogante:

- Seus tolos, como que o Ben vai conseguir fazer amizade com o sol, se nem amigos normais ele tem? E além do mais esse tal de Deus nem deve existir.

- Cala a boca Erick! Seu... seu...! Isso é tudo questão de imaginação! E você sabe muito bem que Deus existe sim, desde pequeno eu te ensino e falo dele.

Erick riu ironicamente da cara deles e saiu dali como se nada havia dito ou acontecido. Susana pensou em ir atrás e brigar com ele, mas Benjamin a barrou com o braço e falou:

- Deixa mamãe, já me acostumei com essas atitudes, depois conversa com ele.

Benjamin, mesmo depois de ter ouvido aquilo, não perdeu aquele brilhante e contagiante sorriso. Ele apenas se levantou da cama e foi direto para a janela, apoiou os braços nela, e repetiu o que sua mãe havia falado:

- Tudo é questão de imaginação.

Alguém Para ConversarOnde histórias criam vida. Descubra agora