Dominic - II

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- Cidade Sem Azul -

Caindo lentamente, observava meu amigo na varanda, com a máscara azul me sorrindo maliciosamente, não entendia nada daquilo, será que eu ia morrer?

Só conseguia ver que tudo parecia girar, e minha queda estava lenta demais, alguma coisa estava errada. Culpa daquele maldito sorriso, que me deixa sem noção, somos dois malditos.

Da minha varanda no 43° andar eu não havia passado muito mais que dois andares, era como se estivesse em câmera lenta, até eu vir aquele carro surgindo, vindo em minha direção, era róseo e verde, e buzinava pra mim, como se eu pudesse parar de cair para desviar, até alguém colocar uma mão para fora do carro, ou melhor, uma pata peluda e laranja, com listras que lembravam um tigre. De repente a queda parou, e eu fiquei em pé, no nada, que se transformou em uma estrada colorida de pedras, e o carro parou.

- Meow - falou uma voz ríspida - como vai Dominic?

E me puxou com força para dentro do carro, sem abrir a porta, eu consegui "atravessar" a parte sólida e me sentei no assento do passageiro. O cinto era uma serpente, listrada como um arco íris. Aquela variedade de cores por onde eu olhava era nauseante, me deixava com enjôo.

- Que diabos é isso? - eu falei mais a voz soou como um tipo de piada, pois o ser que lembrava um tigre riu de forma estridente.

- Dominic, Dominic, faz tanto tempo assim que não nós víamos? Esqueceu da nossa viagem? - ele falou de uma maneira um tanto quanto suspeita.

Eu lembrei, era engraçado o efeito que aquilo me dava, maldito LSD, confundido tudo que já estava confuso. Viagem... O ser quase tigre sempre estava lá quando eu estava drogado, o que me deixa mais engraçado, de poder ter e não ter consciência daquilo.

O carro sucumbiu, fazendo minha cabeça bater contra o teto, e o teto se abrir, num estranho degradê colorido.

- "Por favor, que eu morra logo, não aguento mais isso" - eu pensei.

Minha cabeça poderia explodir, apesar de que de fato ela irá explodir quando eu cair, mas poderia adiantar o processo.

O carro continuou a sucumbir, e o quase tigre falou:

- Esse fim era o esperado, desde o começo, quando você resolveu me usar, agora aceite e morra com a culpa pela sua covardia, seu medo, morra com você mesmo, você se matou.

Então o carro se desfez, e eu continuei a cair, olhando pro céu, agora cinza, sem cor, sem vida. Tentava lembrar fatos da minha vida, algo que eu possa ter vivido ou sentido, mas no fim só consegui ver cinza. Um mundo ser cor...

E eu pude sentir meu crânio se partir, assim como o resto do corpo. Separando cada pedaço de osso, cada artéria arrebentando e a pele se desfigurando. A queda acabou e lá do alto ele me observava, e o céu escurecia mais, e todas as visões mirabolantes que eu tivera cessaram, e o grande Dominic chegará ao fim também.

E o meu corpo jazia ali, não sei se era minha consciência, alma, ou algo do tipo, mas mesmo jogado ali, talvez morto, eu pude observar a chegada das pessoas curiosas, se perguntando o que levaria alguém a se atirar daquele prédio colossal. As ambulâncias também chegaram e o observavam meu corpo atirado e o meu olhar inerte.

- Pobre coitado - suspirou o paramédico.

"Pobres pessoas..." - Pensei.

...

3 Anos Antes...

- Ei Dominic! - a voz suave me chamava - Acorda Dominic!

Sonolento eu ergui minha cabeça, o rosto marcado pelos objetos em cima da mesa, e o cabelo cobrindo o rosto.

- Você precisa cortar esse cabelo, ou vai ficar igual uma mulher.

- Não me pertube com isso Christie...

Christie era a secretária da D. Evolution Company, apesar de seus 21 anos de idade, sua responsabilidade era excepcional, e sempre me acordava dos meus rotineiros cochilos durante o trabalho. Seu marido, Louis, que era francês, já morava há mais de 10 anos e já havia passado por vários Estados até chegar em Washington há dois anos, e com seu currículo perfeito, não poderia não fazer parte da minha empresa,e é claro, sua esposa também. Ambos eram excepcionais em suas funções, Louis era chefe da equipe de modelagem e criação da D. Evolution Company.

Minha empresa era uma construtora de edifícios, os mais colossais de Washington, e líder do mercado. O que surpreendia a todos, era seu sucesso e o fato de um jovem a comandar, pois eu com apenas 22 anos era um dos mais ricos e bem sucedidos empresários do ramo, eu nunca me vangloriava disso , mas era um fato. A D. Evolution Company havia surgido no mercado há tempo, mas nunca havia subido, até que meu primo, Oscar, por algum motivo deixara sua fortuna para mim, e me deu instruções para comprar a não promissora empresa, eu obedeci e a transformei na maior do ramo, e essa era minha vida agora, o grande Dominic como me chamavam.

- Bom dia, senhor - a moça entrou na sala enquanto Christie me mostrava a planilha de planejamento para o mês - posso falar com o senhor por um minuto?

- Qual o seu nome? - Christie perguntou educadamente.

- Eu me chamo Valerie, mas gostaria de falar com o senhor Dominic a sós se possível.

- É claro, nos dê licença Christie.

Christie assentiu. Era curioso, ninguém aparecia sem marcar horário.

- Estarei aguardando em minha sala se precisar Dominic - Christie falou enquanto se retirava.

Fiz menção para a moça sentar-se e ela aproximou- se. Ela era um tanto quanto curiosa, seu olhar perdido, mas ao mesmo tempo seguro.

- Pois bem, do que se trata?

- Dominic? Não é? Posso chama-lo apenas assim? - e eu assenti - eu moro no Darwin Palace, e queria falar direto com você, pois aconteceu algo muito estranho essa semana.

- Prossiga - ela parecia assustada.

- Sabe, eu pensei ir a Polícia, mas acredito que ninguém iria acreditar, aconteceu o seguinte - ela suspirou - eu havia saído com meu namorado a noite, e voltei por volta das 22 horas, meu namorado foi embora e eu subi para meu apartamento, e quando entrei, havia alguém lá, eu ouvi, e a parede da hall de entrada estava suja de tinta, e entrando mais um pouco, a sala estava revirada e na parede estava escrito...

- O quê? - ela hesitou.

- Estava escrito: "Dominic, o grande!" e embaixo havia um sorriso e um "Descanse em paz"

Eu me peguei olhando fixo para ela, era inacreditável, e o pior, ela não parecia mentir.

- Eu não sei o que isso significa, e eu desci rápido para avisar alguém, e por coincidência meu namorado havia voltado para buscar seu terno que tinha esquecido, eu o agarrei pelo braço e subimos novamente, mas tudo estava normal, tudo limpo e no seu lugar, ele entrou e vasculhou todo o apartamento estava no lugar.

- Você contou para ele? O que você viu? - perguntei um tanto quanto desesperado.

- Eu contei que havia escutado algo, e pensei que havia um ladrão, e insisti para ele ficar, e no dia seguinte me lembrei quem poderia ser Dominic, o único que chamam de Grande Dominic. E eu resolvi vir aqui, até por que tudo estava normal, não há indícios de que alguém esteve lá, e preferi lhe avisar diretamente - ela terminou e seus olhos estavam fixos nos meus, um tanto quanto preocupada.

Eu ainda não acreditava no que estava ouvindo, alguém havia mandado um recado pra mim, no prédio construído pela minha empresa, e esse recado previa a minha morte, eu engoli em seco. E continuei a fitar descrente o olhar de Valerie.

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⏰ Última atualização: Oct 12, 2016 ⏰

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