PARTE QUATRO

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O caso estava praticamente resolvido. O zelador não tinha nem um álibi que provasse onde estava no momento do crime e como se isso não fosse o suficiente, havia os dois frascos de sedativos para cachorro que ele guardava em sua casa. Dois frascos bem peculiares, na verdade: Medetomidina e Tartarato de Butorfanol. Os mesmos encontrados no corpo.

— Por que ele não se desfez dos sedativos? – um dos policiais na viatura disse enquanto eles rumavam para a igreja.

— Porque na vida real as pessoas não são tão detalhistas como nos filmes. – Rocha respondeu – Acho que ele nunca pensou que descobriríamos as substâncias no corpo.

— Você não acha que ele já fugiu uma hora dessas?

— Tenho certeza que não. A vida dele é aquela igreja. Ele não sairia de lá por nada. Por isso, podem considera-lo um provável suicida. Todo cuidado é pouco.

Ao todo, oito policias seguiam em duas viaturas rumo a igreja. Rocha planejava fazer a prisão o quanto antes. Já estava cansado daquele caso. O transito interferiu um pouco, mas chegaram ao destino antes do anoitecer.

Quando os carros pararam em frente ao jardim, Rocha olhou para a torre de onde o padre havia sido jogado. Teve uma surpresa. O zelador estava lá, preso por cabos em uma espécie de balanço de parque infantil, limpando o grande relógio. O investigador olhou aquela cena por alguns instantes, enquanto os policiais se preparavam para sair.

— Puta que pariu! – ele disse, de repente.

— O que houve, Rocha. – outro policial perguntou.

— Acabei de descobrir quem é o assassino.

— Ué... Não foi o zelador?

— Fiquem aqui.

— Mas... Nós não vamos lá para...

— Fiquem aqui!

O investigador saiu da viatura e contornou a igreja, seguindo em direção a casa paroquial. O portão estava trancado, mas ele não teve muitas dificuldades em quebrá-lo com o pé. Com o barulho, o padre e dois coroinhas saíram correndo de dentro da casa, para ver o que estava acontecendo.

— Mas o que...

— Parado aí, padre Alfredo. – Rocha sacou a pistola e a apontou para o religioso – Você está preso pelo assassinato do padre Fernando Melo.

— O que? Do que você está falando?

— Você quase me enganou, padre. Quase mesmo. Eu estava a ponto de prender o zelador.

— Olha, policial... Eu realmente não sei do que você está falando. Eu tenho que celebrar uma missa daqui a pouco e...

— Eu sei como você o matou.

— Pelo amor de Deus, homem! Eu estava na igreja quando tudo aconteceu. Centenas de pessoas podem comprovar isso.

— E eu tenho que te parabenizar por isso. Foi um truque de mestre! Me impressionou muito mesmo.

— Eu já disse que...

— Você descobriu o que ele estava fazendo com os garotos, não foi? E é claro que não podia tolerar isso dentro da sua igreja. Então você foi falar com ele, mas não conseguiu chegar a lugar nenhum. Então você o matou.

— Padre... Do que ele está falando? – um dos coroinhas disse ao ver que os olhos do padre estavam se enchendo de lágrimas.

— Você usou os sedativos para fazer com que ele desmaiasse e é aí que vem a parte interessante. Você não podia simplesmente matá-lo. Tinha que bolar alguma coisa... Mas da onde veio a ideia?

O Padre que Caiu do CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora