SAUDADES

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- Pai?

- Pode ir para o escritório, me espere lá. - ele manda sem olhar para mim, com a voz firme e grave, então de imediato faço o que me disse. Entro no escritório e ligo a luz, quando volto a mirar a sala me deparo com alguns móveis antigos e um retrato de minha mãe na mesa, fecho a porta atrás de mim e me sento em uma das cadeiras.

"Sinto que de hoje não passo, não sei o que meu pai pretende fazer mas nunca o ouvi falar desse jeito comigo, tenho que me desculpar e talvez fazer uma carinha de coitada, quem sabe funcione. A única coisa de que tenho certeza é que não vou mentir, do resto só Deus sabe"

Depois de alguns minutos mirando o nada, ouço a porta abrir e meu pai se aproximar devagar. Ele anda em direção a cadeira maior atrás da mesa que fica de frente pra mim mas não se senta, apenas se apoia e me observa.

- Levy tenho uma pergunta para te fazer. - ele diz e me encara sério - Vamos supor que um pai qualquer deixou sua filha sair para uma festa a noite e ela disse a ele que dormiria na casa da amiga. No dia seguinte, depois de quase 20hs sem dar notícias ao pai ou atender o telefone e fazer ele pensar o que de pior poderia ter acontecido a sua filha, ele descobre que ela passou a noite na casa de um garoto e sabe lá Deus fazendo o que. Na sua opinião o que esse pai deveria fazer com sua filha? - pergunta e pacientemente espera pela minha resposta.

- Bom... eu acho que ele deveria entender o lado dela e deixar pra lá. - digo rápido ao mesmo tempo que passo o olhar por cada canto da sala menos nos olhos do meu pai.

- Ah, então você acha que a menina tem razão em fazer o que fez? - ele indaga curioso e percebo o que está tentando fazer. Ele quer que eu me julgue, que coloque a culpa toda em mim mesmo que isso não seja verdade.

- Não é isso... só acho que ele podia pelo menos escutar a versão da filha e tentar entender melhor o que aconteceu. - respondo firme e fixo meu olhar no seu de modo que ele entenda que não estou brincando ou algo do tipo. Tudo bem que seja meu pai mas ele está tirando conclusões muito precipitadas pro meu gosto. Ele se senta devagar em sua grande cadeira, apoia os braços nas mesa e diz:

- Então qual é essa versão? - engulo em seco com sua pergunta. Está na hora de contar a verdade.

- Talvez ela tenha se deixado levar um pouco e acabou bebendo demais e não prestado atenção nas horas, no final da festa levaram ela para a casa de um amigo que estava sóbrio porque talvez sua amiga tivesse passado mal e não poderia ficar de olho nela. Depois de dormir seu amigo não quis acordá-la por achar que ela deveria estar cansada da festa e deixou que ela acordasse por conta própria. Quando a menina acordou já era de tarde, então só viu as mensagens e ligações depois que pegou sua bolsa pois não havia dormido perto dela e não deve ter ouvido o celular tocar. Preocupada em como seu pai poderia estar ela voltou pra casa assim que leu as mensagens na intenção de poder explicar a ele tudo o que aconteceu e não gerar mais confusão do que já poderia ter gerado. Ela só estava esperando que seu pai pudesse ter um pouco de fé nela e acreditasse no que lhe contaria. Mas será que ele tinha?! - terminei por fim e fiquei o encarando e esperando seu próximo ataque.

- Como ele pode ter fé nela se a mesma não se preocupou em pelo menos avisá-lo do ocorrido? - sinto meu coração acelerar com sua fala.

- Por acaso já deu motivos para fazê-lo duvidar das palavras dela? - pergunto em defesa, mas ele também não recua.

- Ele poderia ter pedido ao motorista para buscá-la e trazê-la de volta em vez de ir para casa de um garoto qualquer. - ele diz ríspido levantando um pouco o tom de voz.

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⏰ Última atualização: Nov 05, 2018 ⏰

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