Prólogo: 1 ano antes.

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 Lembro da Mirelli no banco de trás cantando todas as músicas internacionais que tocavam na rádio. Para uma garota de quatorze anos, ela já tinha o inglês bem fluente. Pelo menos o meu dinheiro não foi jogado no lixo com o curso e o professor particular de inglês.  

Edith segurou minha mão a viagem inteira, como sempre fazia. Suas mãos eram pequenas, mas fortes. Ela não gostava de ficar no carro por muito tempo devido ao acontecido com seus pais, aquele acidente marcou muito e eu a entendia.

Estávamos todos felizes. Eu principalmente, pois férias como essas eram um pouco raras entre nós. A empresa da minha família, após a morte do meu pai, ficou por direito como filho único, sob a minha responsabilidade. E vamos combinar, aquilo era muito cansativo e se a Edith não insistisse sobre essas férias, com certeza eu ainda estaria preso naquele arranha-céu de trinta andares. 

A casa de campo da família da Edith, não ficava tão longe. Apenas alguns quilômetros da cidade. Não tivemos tempo de anunciar nossa chegada para os zeladores da casa. Portanto tive que descer do carro para abrir o portão central de entrada. 

 Surgiu então uma dor impactante na minha cabeça e o resto foi tudo como se fosse em câmera lenta. Caí no chão com um peso sobre as costas. Consegui ver os olhos amedrontados de Edith e ouvir os gritos agudos de Mirelli. Dois homens com máscaras pretas retiram as duas do carro, enquanto eu tentava lutar com a dor presente na cabeça e o homem que me segurava. 

Com um pouco mais de esforço. Tentei me desvencilhar do homem e me arrastar para um pouco mais perto, sem sucesso. Minha esposa e filha estavam sendo espancadas brutalmente e eu estava sendo segurado. O choro alto de Mirelli fizeram instantaneamente lágrimas saltarem dos meus olhos. Sem parar de lutar, abaixei o olhar, mas o homem atrás de mim, ergueu minha cabeça fazendo com que minha visão ficasse ampla. Ele queria que eu assistisse a tal cena.
        

Foi como se eu tivesse morrido ali, quando um deles, o mais baixo, sacou uma arma e atirou com frieza, sem piedade nas duas mulheres da minha vida.

Vendetta. – O que me segurava falou em uma língua diferente e logo depois me largou, ali mesmo, no chão.
  Tudo ficou embaçado, não sei se pelas dores ou pelas lágrimas que escorriam sem nenhum esforço.

 Quando cheguei perto de Edith, ela ainda respirava. 

— Não, não, não. – Eu só conseguia repetir essa palavra enquanto a segurava nos braços.
            

O tiro havia pego perto do coração e o seu sangue jorrava.

— Você não pode, – Tentei respirar e conseguir terminar a frase tão doída. — morrer. Meu amor, eu te amo tanto. — Eu a abraçava como se isso fosse impedir o que estava prestes a acontecer.
 

Os olhos azuis amedrontados de um rosto tão belo, haviam se acalmado com a minha chegada, estavam encharcados, mas não produziam mais lágrimas. Edith tentou sorrir, como sempre fizera em toda vida, mas não conseguiu. Senti sua mão encontrar a minha, mas para ela não haviam mais forças. Foi ficando sem expressão até sua respiração parar.

 Senti o meu peito se apertar tanto, que quase não pude respirar. Olhei um pouco mais para frente e fui de encontro a minha filha de apenas quatorze anos morta com um tiro na nuca. Uma poça de sangue se formava cada vez mais ao seu redor. Dei um último beijo em sua testa, como sempre fazia quando a colocava para dormir. 

Meu peito estava prestes a explodir, não cabia tanta dor dentro de um ser-humano. Ouvi um som, anunciando a chegada da polícia e depois tudo ficou preto.

 Acordei no hospital, com uma faixa na cabeça, com o coração destroçado e com uma sede que se tornava insaciável a cada minuto, minha boca e todo o meu corpo pediam por vingança.


Redenção - "Renda-se ao improvável..."Onde histórias criam vida. Descubra agora