Prólogo

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Estar nesse lugar não era bem minha visão do fim de semana ideal, porém, era o casamento da minha irmã e estava muito feliz. Desde criança, Nicole sempre quis ser uma princesa e encontrar o príncipe encantado. Por uma grande pegadinha do destino, ela acabou casando—se com um, ou melhor, com o príncipe da Inglaterra. Logo após o aceito e o famoso "pode beijar a noiva", os dois caminharam até a entrada na igreja, absurdamente cheia de paparazzi querendo uma foto do príncipe e da nova princesa. Sai sorrateiramente do meio daquela bagunça, entrei em uma limusine, exclusiva da família real, e fui para a festa, onde todos seriam apresentados.

Cheguei ao local, sendo atacada pelos abutres com câmeras que mais pareciam armas querendo me acertar, e escondi meu rosto com as mãos. Assim que entrei no salão, percebi todos os olhares em mim e não entendi muito bem o problema. Será que meus peitos estavam de fora? Eu estava fedendo? Olhei para o meu vestido e não percebi nada demais, a não ser que, todas as mulheres presentes trajavam roupas em cores pastel e eu usava um vestido azul comprido, com o top preto de couro. Sorri, mantendo a compostura, e sentei bem longe daquelas pessoas.

Olhar Nicole sorrindo daquela forma e abraçando o marido enchia meu coração de amor e também um pouco de inveja, admito. Vê—la tão feliz me deixava muito feliz. Ela sempre lutou muito por nós duas, ainda mais que não somos a família dos sonhos e os problemas com meus pais eram crescentes. De longe, acenou para mim e abriu um grande sorriso, vindo em minha direção, com os braços já abertos.

—Parabéns, Nick, estou tão feliz por você — apartei—a forte em meus braços, tentando controlar as malditas lágrimas que queriam descer.

— Obrigada, Lola! — me apertou também — Você não tem noção do quanto eu estou feliz agora que casei com o homem que amo.

— Eu imagino que esteja. Espero que tenha uma vida maravilhosa, que todos os seus sonhos e desejos se realizem! Vou sentir muito sua falta e eu te amo mais que tudo no mundo, você sabe — a abracei novamente, escondendo meu rosto em seus ombros, ouvindo um fungado vindo dela.

— Também te amo muito, Lola. Vou estar aqui sempre que precisar e também morrerei de saudades — me soltou e enxugou algumas lágrimas.

— Ok, agora vai lá pro seu marido que ele te espera — apontei para Daniel, todo sorridente acenando para os convidados, e ela concordou, me dando um último abraço e andando em direção á ele, com o longo vestido branco.

Focalizei as pessoas me olhando torto e percebi que aquele não era meu lugar. O apoio a minha irmã foi dado, já tinha fotos suficientes para postar no meu instagram pelos próximos cinco anos, então, olhei para a enorme janela ao meu lado e reparei no jardim: muito bonito, bem cuidado e chamativo. Coloquei meu celular na clutch e fui para fora. Andei por alguns metros e vi um labirinto. No mesmo momento, uma curiosidade me veio. Nunca havia visto e/ou estado em um, por que não entrar?

Enquanto caminhava, parei alguns instantes e tirei mais algumas fotos. Não era todo dia que tinha lugares e paisagens tão bonitas à minha disposição desse modo. Cheguei ao centro do mesmo e vi uma fonte toda iluminada com uma luz rosa e branca. Fotografei outra vez e sentei ali mesmo, para tomar um pouco de ar, até que ouvi um barulho de galhos sendo quebrados e meu cação sair pela boca ali mesmo.

Levantei rapidamente, amaldiçoando quem quer que fosse que tirava meus momentos de paz. Um homem alto entrou no labirinto, distraído acendendo um cigarro nos lábios, demorou uma fração de segundos até que ele me encarasse com seus grandes olhos azuis. Tragou e soltou a fumaça calmamente antes de abrir um sorriso digno de propaganda politica.

— Desculpe ter te assustado, não esperava encontrar ninguém aqui. — falou.

— Tudo bem, eu só queria respirar um pouco.

— É fácil mesmo se sentir sufocado lá dentro. — o homem deu de ombros se aproximando enquanto tragava o cigarro novamente.

— É, achei que um pouco de ar puro faria bem. — respondi olhando sugestivamente para seus dedos.

— Acho que não devo te oferecer um, então. — ele sorriu, jogando o cigarro no chão e pisando em cima com o bico do seu sapato que provavelmente custavam mais que a casa onde eu e Nicole crescemos.

— Tenho certeza. — rebati rápida enquanto ele se sentava do meu lado.

Em outras circunstâncias eu não me incomodaria em socializar com um homem, especialmente um bonito assim, mas além do fato de eu estar completamente acabada mental e fisicamente com o cansaço do dia, havia algo na postura dele que não me agradava. Era algo que oscilava entre o cordial e o zombeteiro, algo que me lembrava de que eu não pertencia ao castelo e não era nada parecida com essas pessoas, as pessoas "nobres" como esse homem. Fiquei olhando para os sapatos caros enquanto ele falava.

— Não me lembro de você e tenho certeza que jamais me esqueceria se tivéssemos nos conhecido antes. — disse galanteador e eu evitei revirar os olhos. — Como se chama?

— Na verdade, acho que devo voltar para festa, minha irmã deve estar me procurando. — desviei do assunto e tentei me levantar.

— Espere! — colocou a mão em meu ombro e eu não pude me mover. Não foi um toque brusco, podia me desvencilhar facilmente, mas o que me incomodou foi a atitude. Quem ele pensava que era para tentar de impedir de qualquer coisa? E as próximas palavras confirmaram meus pressentimentos sobre a postura dele. — Acho que você não está me reconhecendo, minha linda, se você ficar aqui eu posso te mostrar uma parte do castelo que você não conhece.

— Acho que é você quem não está entendendo, meu lindo. Não estou interessada e não ligo se é duque, conde, amigo de infância do príncipe ou o rei da cocada preta. Com licença! — levantei bruscamente. Hoje definitivamente não é o meu dia.

— Ei, você não devia falar assim comigo... — assim que senti as mãos quentes sobre meu ombro de novo, agi por impulso.

No segundo seguinte, só o que vi foram as pernas do homem tarado no ar, enquanto ele se debatia dentro da fonte. O empurrei, e como foi pego de surpresa não teve como reagir. Ele cuspia água me olhava como se eu fosse algum tipo de monstro.

— Você é louca! Você é completamente louca! Porra, não acredito que desperdicei um cigarro praticamente inteiro por causa de uma doida!

Com a última frase não pude deixar um riso debochado escapar pelos meus lábios. Virei as costas e sai andando antes que ele saísse da fonte e pudesse me seguir.


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