Talvez a madrugada seja feita para pensar e não para dormir

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Vi minha irmã mais nova sair do quarto, ela era minha melhor amiga, sempre estava me apoiando. Pensava se um dia Larinha teria seu coração partido em pedaços, eu não queria que isso acontecesse com minha pequena mas era necessário para aprender, evoluir e enfim crescer, infelizmente as dores e corações partidos vinham incluído no pacote de virar uma adulta.

Lembrava-me do meu tempo de ensino médio, quando não conhecia Fabio aquele bad boy misterioso e irresistível, apenas ficava com os geeks preferia caras intelectuais, um gosto de mistério em Fabio não conseguia conter meu desejo por ele.

Lembrava-me de quando nos conhecemos, minha primeira festa de fraternidade, onde uma nova fase da vida começava. Enquanto eu extravasava, entornando uma garrafa de tequila, dançando com meus amigos Igor e Lais no meio da multidão de estudantes, calouros e veteranos em um salão imenso, percebi alguém em um sofá que me observava apesar de estar rodeado de mulheres, ele fumava e me contemplava com uma expressão fria, era musculoso, cabelos loiros tinha dreads o que pude perceber de longe, até que uma loira o beijou e ele retribuiu, apenas desviei o olhar não precisava de idiotas como ele na minha vida.

Depois de tanto dançar mais os meus amigos, avisei-os que iria ir embora, não estava muito bem. Minha casa ficava a cinco quadras da fraternidade o que de certa forma era bom, pois poderia ir andando.

A rua estava agitada, tinha universitários por todos os lados. Enquanto caminhava percebi que já estava longe do barulho, olhei para trás não via muita coisa.

No caminho mesmo abaixei perto de uma árvore, em uma rua com pouca iluminação e  comecei a vomitar, não estava nada bem, alguém apareceu  me ajudando, segurando meus cabelos era ele o garoto misterioso, não conseguia me levantar ele falava algumas coisas, mas foram poucas as que consegui compreender, como não deveria beber tanto assim e perguntou onde era a minha casa, expliquei o percurso, de repente caí sobre meu próprio vômito, ele se apresentou como Fabio e me carregou, deixou-me na porta de casa  por fim perguntou como era o meu nome, respondi Eva o encarando envergonhada por aquela situação. De perto vi um piercing  em seus lábios, que eram mais avermelhados do que pude perceber na festa, seus olhos eram esverdeados, Ele era bronzeado. Não continha expressão em seu rosto, Assim ele se despediu e se perdeu na escuridão da noite.

Dias depois o vi passar apressado, vestia uma bermuda azul marinho com uma camiseta branca, provavelmente estava a caminho de sua sala, tentei uma comunicação breve mas não obtive êxito, ele apenas passou por mim sem nem olhar para os lados.

Algumas semanas se passaram e não o via mais, até que em uma quinta feira me atrasei e perdi a carona de Lais, tive que ir andando até o ponto de ônibus que ficava alguns metros da faculdade, a rua apesar de ser dia era deserta só com a movimentação de carros.

Enquanto caminhava fui rendida por três garotos na faixa de dezesseis anos, magros e com olhos avermelhados, vi um relance um deles tinha puxado uma faca e pedia meus pertences, quando ia entregar alguém surgiu e esmurrou os três deliquentes, com toda coragem do mundo para me salvar, era ele o Fabio, fiquei assustada, em estado de choque, o encarei e logo em seguida destravei uma corrida insana de volta a faculdade, ele vinha logo atrás não demorou muito para me alcançar

- Calma, não fui eu que tentei pegar seus pertences garota, só queria ajudar.

-Desculpe, não dei bem o que estava fazendo só estou assustada com toda aquela cena. Respondi sem jeito e ofegante.

-Ok. Meu carro está aqui perto deixo você em casa. Sua corrida parece que a deixou cansada, enquanto falava abria um leve sorriso.

Assenti, não podia ficar no ponto esperando um ônibus, pelo menos por um bom tempo evitaria andar por ali sozinha. Eu tinha dúvidas se era certo pegar carona com aquele homem, apesar de ter me salvado duas vezes não o conhecia tão bem, mas sem escolhas preferi aceitar e ir logo para casa depois de um dia de fortes emoções, só desejava minha cama.

Com o passar do tempo saíamos todas as noites em encontros, apesar de saber que ele não queria nada sério continuava saindo. Até que um dia pressionei, alegando que só continuaria a dormir com ele se levasse a sério, precisava de mais, um relacionamento. Tirei suas escolhas, apesar de ter aceitado depois de me evitar por uma semana tinha dúvidas se o que tinha feito era o certo.

Todos diziam que não iríamos durar um mês, Fabio logo iria me trair. Mas não foi o que aconteceu, no começo ele era inexpressivo mas me ajudou duas vezes com o passar do tempo ele tornava-se mais carinhoso, cuidadoso.

Resolvemos que ele iria jantar na casa dos meus pais, para apresenta-lo a família, já tínhamos dois meses juntos. Meus pais estranharam o garoto no começo, mas logo gostou quando soube que ele cursava direito, minha mãe até perguntou o porque da sua escolha mas ele apenas falou que tinha motivos particulares, até que minha família tocou no assunto dos seus pais ele apenas assentiu com um olhar frio dizendo que não tinha muito o que falar, aos dez anos foi abandonado e levado para um orfanato, fui criado lá até chegar a idade adulta, minha irmã não tinha dito uma palavra no jantar ela apenas o observava.

Ele nunca tinha comentado sobre seu passado, também nunca perguntei e então quando estávamos a sós tentei retomar aquele assunto, ele apenas desviou e disse não gostar de falar sobre o passado.
Aquele garoto era um mistério, eu adorava isso.

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