On my way

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Uma forte luz me impedia de enxergar, minhas mãos tateavam a procura de algo, mas nada encontravam. Cobri meus olhos com uma das mãos, mas não conseguia enxergar nada além dos meus dedos.

Uma voz infantil soou em algum lugar próximo me sobressaltando, era uma voz estranhamente familiar. A luminosidade começou a clarear lentamente, um imenso parque se formava sob meus pés, árvores tomavam forma, bancos e brinquedos ganhavam cores fortes e brilhantes, crianças corriam com seus cachorros e construíam castelos nas caixas de areia.

Um menino com uma cabeleira ruiva estava sentado próximo a mim, ele falava algo para outros meninos que não davam ouvidos as suas palavras. Os meninos saíram e deixaram o ruivo sozinho no banco, o sorriso que antes descansava em seu rosto sumiu dando espaço para uma expressão mal humorada.

Olhei novamente para a criança e reconheci os traços que desenhavam seu rosto, seus olhos e seu cabelo, eu estava olhando para mim mesmo 20 anos mais jovem. Sentei-me ao lado da criança calmamente, ela me olhou com olhos inocentes.

- Por que aqueles meninos estavam brigando com você? -perguntei calma e ternamente.

- Porque eu estava tentando convencer eles a fazer outra coisa sem ser jogar bola. -respondeu o garoto inocentemente.

Na minha cabeça passou um rápido filme de tudo que eu fiz depois daquele dia, todas as coisas que eu me senti destinado a fazer, a diferença que eu fiz.

- Eles não sabem o que estão fazendo. -respondi, sem pensar antes de falar.

- Como assim? -perguntou ele com a mesma curiosidade que me colocou no lugar que estou hoje.

- Eles estão apenas seguindo aquilo que é colocado na cabeça deles. -respondi.

- Então eles são obrigados a jogar bola? -perguntou a criança.

- Mais ou menos isso, a sociedade divide tudo em coisas de meninos e coisas de meninas, e eles estão fazendo o que é rotulado como coisas de meninos. -expliquei lentamente.

- Isso parece tão errado. -disse ele pensativo.

As palavras que saíram da boca dele aumentaram a chama que queima dentro de mim, me deram mais um motivo para eu continuar lutando por tudo aquilo que eu tenho lutado até hoje.

- Eu penso da mesma maneira. -disse ao menino.

Ele olhou para mim com interesse, e colocou um pequeno sorriso no rosto. Olhei para ele retribuindo o sorriso.

- Então o que você faz para ser feliz? -perguntou o menino.

- Eu passei alguns anos da minha vida infeliz e com muitos problemas, -apontei para a minha cabeça. - mas eu sempre soube o que queria.

- E você achou o que você queria? -perguntou o menino.

- Não, ainda estou trilhando meu caminho, e concretizando tudo que imaginei para mim. -disse com um sorriso sonhador no rosto.

Ele continuou me olhando interessado esperando eu continuar.

- Eu crio meus filhos com a pessoa que eu amo, moro na cidade dos meus sonhos, e agora estou muito bem. -respondi.

- Sua esposa é bonita? -perguntou ele.

- Não se prenda a rótulos Igor, a vida é maior do que você imagina.

- Como você sabe meu nome? -perguntou ele espantado.

- Um palpite, você parece muito comigo quando era mais novo. -respondi.

- Seu nome também é Igor? -perguntou ele surpreso.

- Isso mesmo.

- Eu nunca encontrei alguém com o mesmo que eu e que pensasse da mesma forma que eu. -confessou-me ele.

- Você encontrará, basta seguir seus sonhos e seu futuro será tudo que você sempre sonhou. -respondi com um olhar sonhador.

- O senhor melhorou meu dia, obrigado. -disse ele educadamente.

- Senhor não, ainda sou muito novo para isso. -disse rindo.

A luminosidade começou a aumentar gradualmente, meu eu mais jovem sumiu lentamente com os bancos, árvores, brinquedos e crianças do parque. Um sorriso tomava conta do meu rosto.

Abri os olhos lentamente alguns minutos depois, ainda com um sorriso no rosto, um belo rapaz de pele bronzeada e cabelos escuros estava deitado ao meu lado em uma imensa cama, a porta do quarto se abriu em um rompante e duas crianças com cabelos e escuros entraram pulando e gritando e pularam entre mim e o rapaz, com o qual eu era casado.

Algo dentro de mim havia mudado, eu não conseguia dizer o que era, mas eu estava diferente, estava mais alegre, mais animado, mais vivo do que jamais me senti em toda minha vida.

- Bom dia filhos. -falei com a voz alegre beijando a cabeça de cada um.

- Bom dia família. -falou meu marido sonolento. - Amor, a primeira copia do seu livro chegou ontem a noite, não quis te acordar.

O sorriso que estava em meu rosto aumentou e eu sabia que tinha escolhido o caminho certo para seguir a minha vida.

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Gente, mais um conto, e esse é muito especial para mim. Espero que gostem e se gostaram não esqueçam de curtir.

See ya! XX

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