Prólogo

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No princípio havia o caos, a escuridão e Ele. Ele ainda não era O Criador, nem era chamado de Deus, pois só havia o nada. Vagando pela extensão vazia de um espaço infinito, eis que Ele decidiu não estar mais sozinho. Então, eis que houve a criação. Logo houve a luz, e o céu e a Terra estavam em perfeita harmonia com o que logo foi chamado de universo. Os anjos, seres de energia e luz, feitos a partir da própria essência do criador eram encarregados de cuidar desse equilíbrio. Cada um executava uma função única, tecendo e mantendo atados os fios do equilíbrio. Não existia desigualdade, e essa paz durou por muitas eras, até que o sentimento de revolução e rebeldia nascia de um dos anjos mais poderosos: Lúcifer, o portador da luz.

Lúcifer acreditava que os anjos deveriam ter o direito de escolher o que queriam fazer de suas existências, para ele, ser apenas uma peça na engrenagem do universo estava muito abaixo de tudo aquilo que os anjos eram capazes. Ele queria que os anjos tivessem livre arbítrio. Logo suas ideias audaciosas se espalharam por todo o paraíso, enquanto legiões de anjos se viam em um dilema: Continuarem sendo os pilares daquele equilíbrio, obedecendo sem questionar, ou tomar partido pelas ideias de Lúcifer e entrar em guerra por elas caso fosse necessário.

Obviamente, muita coisa estava em jogo. Logo as pequenas revoltas não puderam mais ser contidas, e o que veio em seguida mudou todo o rumo do universo. Lúcifer declarou guerra ao Trono, juntamente com a terça parte dos anjos. Naquele momento ele também se tornava um criador. O criador da guerra, da revolução e da rebelião. Houve uma luta épica entre os anjos rebeldes e aqueles que decidiram serem fieis ao paraíso. Até então, o maior pecado e o mais imperdoável era o de que um anjo matasse um semelhante, o que não era possível até que por um golpe do acaso, Lúcifer, na linha de frente da batalha, descobriu que, retirando e destruindo a auréola de um anjo, ele se tornava vulnerável, podendo assim ser morto com espadas celestiais.

Foi uma batalha árdua que não pôde ter sua duração medida devido à ausência do tempo no reino celestial. Milhares de anjos foram dizimados em meio ao fogo cruzado, até que o arcanjo Miguel assumiu o comando das legiões de anjos fiéis portando sua espada feita da essência do próprio caos, que cria e destrói. Os anjos vingadores foram convocados e ao lado dos outros arcanjos; Gabriel, Rafael, Uriel e Azrael. Estavam todos ali, todos menos um. Nathaniel, um guerreiro do Trono que agora lutava ao lado de Lúcifer, juntamente com Efrain, um dos anjos conselheiros do Trono que agora portava uma espada.

_ Não podemos permitir que tomem o controle! – Miguel bradou. Façam o que for preciso! Protejam o paraíso, expulsem todos aqueles que escolheram o caminho de Lúcifer. Vamos vencê-los usando exatamente o truque descoberto por nosso irmão traidor: Arranquem suas auréolas, façam deles seres mais fracos, arranquem suas asas e os lancem na Terra. Aqui não é mais o lugar deles.

A batalha continuava hostil e devastadora e nenhum dos lados queria recuar. Então, sendo seguidas as ordens dadas por Miguel, foram destruídas as auréolas de milhares de anjos e arrancadas suas asas, sendo atirados sobre a Terra como estrelas cadentes. Após um longo combate, Lúcifer foi vencido. Ele queria reinar, então lhe foi dado um reino. Sua punição foi ser lançado não sobre a Terra, mas abaixo dela. Nas profundidades mais inalcançáveis e escuras foi criada sua prisão. Lá ele reinaria absoluto. Sua auréola foi destruída por Miguel, mas suas asas foram mantidas. Um lembrete eterno de tudo aquilo que ele havia perdido em nome de seus ideais de revolução.

Em tempo terrestre, a queda dos anjos durou nove dias. Ao perceberem que seu líder havia sido exilado, aqueles que o apoiavam decidiram reinar com ele, fugindo do paraíso e se atirando por livre escolha no interior das trevas. Estes, ao passarem os limites do céu, logo tiveram suas asas deterioradas, suas penas se tornaram negras e envelhecidas, e suas auréolas deram lugar a chifres de variadas formas e tamanhos. Assim nasciam os demônios. Aqueles anjos que foram lançados na terra, sem auréola ou asas, se tornaram o que hoje chamamos de anjos caídos. Seres sem poderes, mas dotados da imortalidade.

Efrain, o anjo conselheiro, aquele que foi tão amado e respeitado no paraíso escolheu o primeiro destino. Ao se ver sozinho na linha de frente, comandando a legião de Lúcifer após este ter sido banido, abandonou aquela batalha interminável e mergulhou na escuridão, se tornando um demônio ao romper as barreiras do céu. Nathaniel; o traidor dos arcanjos, teve o segundo destino. Sua auréola foi destruída e suas asas cortadas pela espada de Miguel, sendo lançado na Terra juntamente com os outros anjos caídos e condenado a vagar eternamente. Imortal e sem descanso.

Assim a batalha chegava ao fim. Tendo sua linha de frente exterminada, as legiões de anjos rebeldes não resistiram por muito tempo e caíram. O paraíso foi trancado e seus portões foram escondidos para que nenhum daqueles demônios jamais conseguissem retornar. Como consequência, o equilíbrio do universo foi alterado. Não existia apenas a luz, mas também as trevas. A paz e a guerra. O divino e o profano. E com a balança cósmica pesando os dois lados, o rumo do universo e o curso da existência foram mudados para sempre.

O Diário do Arcanjo - Da Queda à RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora