04/06, terça-feira | Um horrível começo.

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"Você tem uma nova mensagem".

Ouvir essas poucas palavras da caixa eletrônica me fazem morrer de curiosidade e correr desajeitada pela casa, esbarrando em objetos que eu não sabia que estavam ali até ao telefone para ouvi-la, porém também me deixa hesitada em apertar o botão pois pode ser mensagem da mamãe.

"Ariel, aqui é a mamãe. Como você está? Nunca mais me ligou ou deu notícias, esqueceu de mim? Tudo bem no trabalho? Tenho uma notícia maravilhosa para te dar: o Gabriel saiu da clínica para, finalmente, ser cirurgião! Agora só falta você, querida. Confio em você e sei que vai conseguir. Um beijo!"

Eu disse que era a mamãe. Argh, quão odiosas são essas mensagens da mamãe. Calma, sei que posso parecer amarga em relação a isso, mas quando ela me liga é sempre para falar sobre o Gabriel, o meu primo formado em medicina, o sonho que ela queria que eu realizasse. Como sempre, sem um eu te amo ou um tenho orgulho de você. Para a mamãe, ser uma das advogadas mais jovens com maior número de casos ganhos e pertencer ao escritório de maior importância do estado não basta, eu deveria ter feito medicina e fim. Não posso agrada-la quanto a isso.

"Ice-age heat wave, can't complain. If the world's at large, why should I remain? Walked away to another plan, Gonna find another place, maybe one I can stand..."

Mais uma vez esta música no despertador... de minha música favorita passou para a mais odiada de sempre, mas eu não irei tira-la. É uma estratégia. Quando toca, levanto super rápido para desligar o despertador e me livrar dessa melodia irritante, me fazendo despertar e ter um mau humor que irá perdurar o dia inteiro.

Mas nem sempre essa estratégia funciona. Mais cinco minutos, por favor!

Com os cabelos parecendo um ninho de pássaro e sem um pé do par de meias, me certifico que não havia nenhuma pimenta na minha cama pois meus olhos ardiam como se tivessem várias dentro. Me lamento da vida por uns dez segundos antes de finalmente levantar da cama e me arrumar para o meu único rumo esta manhã: biblioteca.

"Me arrumar" se resume em uma calça, um tênis e um moletom. Não é por que eu sou advogada que uso roupas sociais o tempo todo, acreditem.

***

– Bom dia, Ariel – me cumprimentava em um tom vibrante a velhinha que administrava a biblioteca com um largo sorriso.

Ela me inspira. Tem 79 anos, sem filhos, seus dois amores morreram e mal consegue lembrar o seu próprio nome. Isso não é o suficiente para tirar o sorriso do seu rosto enquanto eu, jovem e com uma qualidade de vida ótima, tenho problemas com depressão e transtorno de personalidade. Mas como dizia Charlie Brown, "cada um tem a sua história eu estou aqui para aprender, não para julgar".

– Bom dia, dona Flor – respondi com o mesmo entusiasmo. Pelo menos tentei.

Olhei ao redor e a biblioteca parecia vazia. Não sei se isso me deixa alegre ou triste. Pela janela dava para observar uma das melhores baladas da cidade que ficava a uns três quarteirões da biblioteca e, como sempre, estava super lotada, tendo festa até essa hora, e a biblioteca vazia. Essa geração nunca vai entender o quão maravilhoso é o cheiro dos livros da biblioteca.

Desliguei o meu celular para ficar longe do mundo Hi-Tec e me focar apenas na Jane Austen, uma das minhas autoras favoritas. Não vou em estender muito pois minha história de amor por essa mulher é super chata e entediante, porém considero-a a escritora do melhor romance de todos os tempos: Orgulho e Preconceito.

Um barulho de 300 livros caindo ao mesmo tempo interrompeu a minha concentração e me deu um puta susto, me fazendo soltar um grito fino que me fez rir logo após. O barulho veio de três prateleiras atrás de mim, corri para saber o que era. Sou curiosa mesmo.

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⏰ Última atualização: Dec 09, 2015 ⏰

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Ariel and JustinOnde histórias criam vida. Descubra agora