Capítulo 14.

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Já se passaram duas longas semanas desde que eu e o Harry nos beijámos. Como lhe tinha dito eu não permiti que ele voltasse a fazê-lo, não quero continuar a cavar uma cova para eu me deitar. Ele tem que me merecer a minha confiança de novo. Confesso que ele se tem esforçado, mais do que eu pensava, e cada vez mais a pedra de gelo que se formou à volta do nome Harry estava a derreter.

Os rapazes ainda não sabem o que aconteceu, sinceramente ainda não tive coragem para lhes contar, a nenhum deles mas tenho quase a certeza que o Louis sabe. A Blair sempre que me vê, olha-me mais de lado do que costumava, no fundo até me sinto realizada, como se tivesse vencido a batalha mas ao mesmo tempo tenho medo de perder a guerra. Guerra essa chamada Harry.

Tinha tido furo, era uma sexta-feira estava apenas à espera dos rapazes para ir para casa, estava a ser um dia complicado para mim. Não me perguntem porquê. Apenas estava triste, zangada, não sei.

Sentei-me num banco com os fones postos a ouvir música. Isto sempre foi uma espécie de escapatória para mim, usar as letras das canções como maneira de calar a vozes más dentro da minha cabeça. Começou a dar uma música que significava muito para mim.

"(...) If you could see me now would you recognize me
Would you pat me on the back or would you criticize me
Would you follow every line on my tear stained face
Put your hand on a heart
That was cold as the day you were taken away
I know it's been a while but I could you see clear as day
Right now, I wish I could hear you say
I drink too much and I smoke too much dutch
But if you can't see me now that shit's a must (...)"

Sempre que ouvia esta música lembrava-me do meu avô. Se ele se sentiria orgulhoso de me ter como neta. O meu avô morreu há 11 anos, numa passagem de ano. Foi sem dúvida um dos piores dias da minha vida, embora só tivesse 6 anos lembro-me de tudo como se fosse ontem, o que aconteceu, o que fizeram, todos os pormenores. Este assunto sempre foi algo que mexeu imenso comigo, o facto de não ter tido tempo para o conhecer bem, a vontade de o querer abraçar e a esperança que tinha durante muito tempo que ele iria aparecer a porta de minha casa em Portugal para me dar pastilhas, como ele sempre fazia.

Durante os primeiros anos custava-me imenso entrar no cemitério, ou olhar para campa do meu avô e não chorar. Ou mesmo entrar no quarto onde ele morreu, tudo o que me lembrasse dele custava. Hoje, já vou ao cemitério, saber que ele está ali faz-me sentir perto dele e é algo que me traz um certo conforto, que chega a preencher o vazio que ele deixou em mim.

O meu avô deve ser das únicas pessoas com quem falo mais. Quando estou sozinha ou triste eu falo para o ar, quero acreditar que ele está a ouvir e onde quer que esteja (espero bem que seja o sitio mais bonito que existe) está a olhar por mim. É o meu anjo da guarda. Mas aposto que às vezes mete as mãos na cabeça e começa a dizer "O que é que tu andas a fazer Hope?". Senti as lágrimas a vir. Sorri ao mesmo tempo ao pensar do que ele já me livrou.

Quando as pessoas dizem que com o tempo as coisas ficam mais fáceis, enganam-se. Não ficam mais fáceis, ao fim de 11 anos, ainda não é nem bocado mais fácil, as saudades aumentam. Mas nós habituamo-nos à ausência, com o tempo, sabemos que já não a vamos ver mais e que temos que nos habituar por muito que isso nos custe. E custa, se custa.

O meu avô era das pessoas com o maior coração que alguma vez vou conhecer, embora não me lembre bem, as pessoas contam-me sempre imensas histórias de como ele era extraordinário e generoso. Não sei se ele tem orgulho em mim mas eu sou completamente um neta orgulhosa pelo avô que tive e espero que um dia alguém diga o mesmo de mim.

O que me custa mais, além das saudades é não me lembrar da voz dele. Mata-me não conseguir lembrar da maneira de como ele pronunciava o meu nome, de como se ria. Na minha cabeça existem apenas imagens, como se fosse um filme sem som.

Where do broken hearts go?Where stories live. Discover now