Capítulo 02

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Estacionei o carro em frente ao HCIRGS (hospital infantil do rio grande do sul), com um sorriso no rosto. Somente minha irmã sabe que eu frequento esse hospital. Tem uma energia ali que me faz  querer voltar sempre para visitar meus pequeninos. Eu me apeguei aos casos e as crianças logo após uma visita com a faculdade para conhecer os casos mais críticos e desde então são quatro anos que eu frequento esse hospital, e sempre que estou triste eu volto, e aqui me sinto feliz, pois sei que estou fazendo alguém feliz, e tem uma pessoa em especial, que me enche de amor e alegria, e é pra ela que eu vim fazer uma surpresa.

Como todos ali já me conheciam, não foi difícil conseguir minha liberação para entrar, fui direto para a coordenadora de setor Maria Helena, ela se tornou uma grande amiga para mim e grande conselheira também.

- Olá Helena, posso entrar? – disse batendo de leve na porta que estava entreaberta.

- Rebecca minha menina, quanto tempo! - sorri ao notar que sou eu no batente da porta - E esse novo corte? Ficou maravilhoso! – Helena disse ao vir me abraçar. Como eu adorava aquele abraço. Tao acolhedor. 

Depois que perdi minha mãe para o câncer, Helena foi a pessoa mais próxima que conseguiu me passar a segurança que sentia na presença de minha mãe, vi nela uma mulher forte e de coração imenso, sempre compreensiva e atenciosa, tanto com sua equipe de trabalho, quanto com os pacientes. Depois de minha mãe, Maria Helena foi a unica pessoa capaz de dar um abraço acalorado de mãe.

- É, a correria do trabalho e alguns problemas pessoais - Helena me olha com a sobrancelha arqueada em sinal interrogativo- não se preocupe, agora tudo está resolvido. Ah e, obrigada pelo elogio – disse rindo para ela – preciso que me faça um favor. Lembra da paciente Ana Furtado?

- claro que me lembro, ela é uma princesa, e sempre que você não vem ela pergunta por você. Pelo visto criaram um vinculo muito forte.. mas oque tem ela?

Sorri sentando a sua frente, abri minha bolsa e peguei meu maço de cabelos de dentro e entreguei a Helena.

- Quero que mande fazer uma peruca para minha pequena Ana, com um corte igual ao cabelo que ela tinha antes. Acho que será um ótimo presente de aniversário. Oque acha?

- Tenho certeza que ela vai amar. Deixe tudo comigo, ficará lindo. Assim que ficar pronto eu te ligo, agora vá vê-la. – disse me abraçando assim que me levanto e logo em seguida me empurra para fora de sua sala. Rimos.

Saí de lá sorrindo, eu tinha certeza que Ana amaria, ela sempre elogiou meus cabelos e dizia que queria ter um igual quando crescesse. Aquela pequena vinha lutando contra uma leucemia desde os 2 anos de idade. Hoje ela tinha 8 e em breve, mais precisamente em duas semanas ela completaria 9 anos. Sempre foi uma menina muito forte, com um sorriso lindo em seu rosto, com uma vontade de viver absurda e eu amava isso nela. Ela é uma menina muito carismática. Apesar de ter poucos amigos, devido à vida que leva dentro de um hospital sem muito contato com o mundo exterior, está sempre com um sorriso no rosto e trata a todos muito bem, realmente uma criança especial.

Cheguei a porta de seu quarto e ouvi risadas de dentro, são dela. Olhei pela fresta da porta e vi que ela estava acompanhada pela sua irmã mais velha, Norah. Bati na porta e escutei um simples entra entre alguns risinhos e ouvi um cochicho.

-  Deve ser a enfermeira trazendo meus remédios. Aquela chata.

- Na verdade não sou sua enfermeira e muito menos sou chata. – disse entrando em seu quarto fazendo uma carinha de ofendida. O que a fez rir

- Becca! Você veio me ver! E que cabelo é esse? Cadê seu cabelão ? ele era lindo! Oque foi que você fez com ele? Porque você cortou? Mas você esta linda assim também. Mas eu preferia do outro jeito, mas você ta linda! – Ana disse quase sem parar para respirar, oque me fez rir dela, pois estava com as bochechas um pouco ruborizadas. Sua irmã me acompanhou nos risos.

- eu resolvi mudar de visual e gostei muito do resultado, mas me diz, do que vocês estavam rindo antes de eu entrar?

- estávamos falando sobre meu aniversário. Minha mãe não quer que eu saia do hospital porque tem medo que eu fique mais doente. – Ana disse com um olhar um pouco triste. – mas eu e a Norah estamos falando de fazer algumas brincadeiras por aqui mesmo, já que não vou ter festa como eu queria.

- Ana estava falando de colocar suco de morango na água do hospital pra ficar tudo vermelho, mas eu disse que não era uma boa ideia – Norah disse rindo da ideia e rindo mais ainda quando viu minha cara de espanto

- Mas isso é maldade meu amor – eu disse rindo dela

- é só uma brincadeira tia Rebecca – ela disse fazendo bico, e como ela fica linda com esse brilho travesso nos olhos.

- vamos fazer assim, não faça nenhuma atrocidade dessas ok? Eu virei te visitar no dia do seu aniversário, eu prometo.

- E vai trazer presentes ?! – ela disse quase ficando de pé em cima da cama do hospital de tão animada que ficou com a ideia.

- vou pensar no seu caso. Se você se comportar direitinho posso trazer sim. – eu disse com cara de difícil. Ela mal podia imaginar oque ela irá ganhar.

- vai trazer um lencinho novo para mim? esse que você me deu é lindo mas já ta ficando velho – Ana disse se referindo ao lenço rosa que dei para ela no mês passado.

- Ora bolas, como já está velho? Mas não tem nem dois meses que te dei esse e a senhorita já quer um novo? – disse com as mãos na cintura fazendo cara de brava. Mas caí na gargalhada logo em seguida. E dei inicio a um ataque de cocegas nela.

Nossa tarde foi de muitas risadas e brincadeiras, na medida do possível,  afinal, estávamos em um hospital. Chamaram nossa atenção algumas vezes pelo barulho, mas logo em seguida caíamos na gargalhada novamente. Estar com a Ana fazia com que me sentisse criança novamente. Ela é a parte mais preciosa da minha vida, tão pura e inocente, não merece passar por tudo isso, toda essa dor e sofrimento. Faço de tudo para vê-la feliz, mesmo nos dias mais difíceis do tratamento.  Já até deixei meu numero de telefone com o hospital como um dos contatos de emergência, claro que com o consentimento dos pais de Ana que por sinal são pessoas maravilhosas, nunca perderam as esperanças, até mesmo quando Ana teve uma de suas piores, senão a pior recaída durante o tratamento,  Marta e Ricardo nunca perderam a esperança de que ela ficaria bem, a força deles me enche orgulho, pois não são todos os pais que continuam e continuam a lutar. já vi casos de pais que abandonaram a criança no hospital por não aguentar o sofrimento. é triste, mas infelizmente acontece.


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