05 de Junho de 2060
03:25 p.m, Sul de Pandora, área bombardeada.
[...]
Porcaria. – resmungava enquanto tentava andar e arrastar o saco de suprimentos que "achei", sabia que supostamente ele era de alguém e eu estava roubando, mas quem liga pra isso hoje em dia? Além disso eu me julgo muito pior que a pessoa que escondeu isto, minha perna latejava de dor por conta do ferimento ainda coberto por ataduras velhas banhadas de sangue seco, meu estomago está quase se alto digerindo. Faz exatamente cinco dias que eu não como nada, além disso, preciso sair dessa zona, faz um tempo que ela foi bombardeada mas ainda consigo sentir a radiação do local e eu não quero ficar doente à essa altura do campeonato, não depois de tudo que já passei.
Ergo um dos braços para tapar o sol que queima meu rosto, por um segundo observo o ambiente em que me encontro; escombros, prédios quase desabados (ou totalmente), casas abandonadas e carros inutilizáveis pela rua, o típico cenário apocalíptico.
"Talvez seja porque estamos vivendo um maldito apocalipse." – imaginei Makena berrando no meu ouvido com seu ar irônico/raivoso e achei graça.
O que me fez lembrar também que era só questão de tempo, não poderia mais me distrair se não nunca mais a teria de volta. Senti meu joelho travar varias vezes pedindo um pouco de descanso, me forcei a continuar.
O fato de estar quente e eu estar fraco só dificultavam as coisas, podia simplesmente ligar o foda-se mas eu queria sair logo dali, o local me cheirava a encrenca e morte, não queria imaginar o que teria acontecido às pessoas que antes moravam ali, ou de que forma elas morreram.
Barulho de passos e ruídos alarmaram todos os sentidos do meu corpo. Calculei a distância mentalmente, estavam vindos de um beco à minha esquerda, poucos metros, eu tinha menos de um segundo. Poderia ter me escondido? Sim.
Eu me escondi? Não.
Mandei os suprimentos à merda e comecei a correr, sentindo cada passada como uma facada em meu machucado, meu maior medo era que fossem guardas da patrulha federal. Vez ou outra eles são mandados para áreas como essa para levar os poucos resistentes que sobraram ou recolher armas e afins.
Coloquei todas as minhas forças à prova quando saltei sobre uma mureta pelo caminho, senti o sangue escorrer pela perna e mordi a língua ao oprimir um grito de dor.
- Peguem o moleque. – um deles gritou a distância e após isso houve uma sequência de outros gritos e passos.
Ainda estava mordendo a língua, poucos aguentariam correr como estou correndo, os passos começaram a se aproximar muito rápido, não pareciam ser de militares já que os mesmos possuem as pontas das botas metálicas que os denunciam quando correm ou andam muito rápido.
Virei o rosto por questão de segundos, o sujeito a minha esquerda carregava um rifle nas costas, parecia estar carregado e a distancia entre nós lhe dava bons ângulos de um tiro certeiro, porém ele não o fez. Mas que diabos... Se não eram da guarda de Pandora e não queriam me matar qual o motivo disso tudo?
Parei bruscamente e girei os calcanhares indo com meu cotovelo na direção do mesmo, pensei que iria atingi-lo, mas ele interceptou meu golpe facilmente. Depois disso seus movimentos me cegaram e quando dei por mim estava de caído de lado com a mão em meu ferimento urrando, ele havia me dado um chute no joelho e me jogado no chão.
Maldito.
Dessa vez não hesitou em sacar o rifle e apontar diretamente para minha cabeça.
- Filho da puta. - gemi enquanto me contorcia e sentia as mãos húmidas sobre as ataduras encharcadas novamente, o cara simplesmente terminou de quebrar meu joelho.
Ele curvou as sobrancelhas e se preparou para me dar uma coronhada mas o resto do seu grupo se juntou à nós e o que me pareceu ser o líder se manifestou.
- Wes, Já chega! – sua autoridade fez tanto efeito sobre todos que até eu parei de me contorcer um pouco para me concentrar em seu rosto. Apesar disso o olhar que ele me lançou foi de compaixão misturada com uma pitada de desconfiança. Tentei me sentar enquanto me afastava. Seus cabelos eram brancos porem ele parecia ter a mesma idade que eu, ou pelos menos seus vinte e poucos anos, seus olhos eram azuis quase acinzentados, sua expressão cansada e preocupada o fazia parecer realmente um velho somado ao cabelo.
- O que querem de mim? – Fui direto, já estava ferrado mesmo.
Ele ficou me encarando por alguns segundos até sua expressão ficar indiferente de novo. – Nada, só oferecer nossa ajuda.
- Quebrando meu joelho? - ironizei de forma hostil– Não obrigado.
- Olhe.- ele suspirou. – temos água, comida, e atendimento médico para tratar do seu joelho, tudo o que precisamos é que você aceite vir conosco, precisamos de você e você precisa de nós, sabe há quanto tempo não vejo um jovem correr dessa forma? – ele se aproximou ainda indiferente. – sabe a quanto tempo Não vejo um jovem vivo?
- E pra que precisam de mim? –
Ele sorriu brevemente. – Já pensou em servir um exercito?
Meus músculos ficaram tensos instantaneamente ao me lembrar do meu passado e ao lembrar que a pouco tempo atrás uma pessoa me fez a mesma pergunta, a ironia que essas palavras me trazia faziam meu estomago revirar.
- Sim. –falei atônito.
- Que bom, por que eu estou recrutando. – ele estendeu a mão rígida porem com uma expressão amigável. – Sou Caleb.
Estiquei a minha sem hesitar, se tivesse condições de levantar para fazer isso, o faria. – Bastian Stryder.
- Pois bem Bastian espero não estar envolvido com o governo. – dessa vez seu tom foi de brincadeira, ele riu brevemente de novo se se virou para falar alguma coisa com um dos garotos do grupo.
Sorri sem humor e olhei para meu ferimento, havia me esquecido dele, mas olha-lo foi o suficiente para a dor voltar.
– É...eu também. – falei para mim mesmo, ou talvez eu apenas tenha pensado. Se era possível que minha vida tenha mudado tanto em tão pouco tempo, talvez fosse fingir ser apenas um adolescente perdido.
Pelo menos por enquanto.
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Anarquia
General Fiction2060,mais conhecida como a era da extinção humana. O mundo está passando pela quarta guerra mundial onde a terceira já havia eliminado grande parte da população por meio de bombas e armas biológicas, agora os poucos sobreviventes extremistas que sob...