Narizinho sempre teve o costume de ir até o Ribeirão sempre dar miolos de pão para os peixinhos, e no momento que estava a dar comida aos peixes adormeceu.
Mas nesse dia aconteceu algo muito estranho, sentiu passos no seu rosto e quando abriu os olhos, não acreditava que um peixinho bem arrumado cheio de pose como se fosse um nobre e um besouro que usava um terninho, conversavam e discutiam o que era o rosto de narizinho.- Príncipe Escamado, muito boa tarde! O que traz vossa majestade a essas bandas? - Disse o besourinho bem elegante, retirando sua cartola da cabeça para cumprimentar o príncipe.
- É que lasquei duas escamas do filé e o doutor Caramujo me receitou ares do campo. Vim dar um passei neste prado que é muito meu conhecido, mas encontrei este morro que me parece estranho! - falava o principe enquanto bateia com a ponta do guarda-chuva bem na ponta do nariz de Narizinho e disse:
- Creio que é de mármore — observou.
Os besouros são muito entendidos em questões de terra, pois vivem a cavar buracos. Mesmo assim aquele besourinho de sobrecasaca não foi capaz de adivinhar que qualidade de "terra" era aquela. Abaixou-se, ajeitou os óculos em seu nariz, examinou o nariz de Narizinho e disse:
— Muito mole para ser mármore. Parece antes requeijão.
— Muito moreno para ser requeijão. Parece antes rapadura pois a cor lembra bastante. Retrucando disse o príncipe.
O besouro provou a tal terra com a ponta da língua.
- Muito salgada para ser rapadura. Parece antes...
Mas não concluiu, porque o príncipe o havia largado para ir examinar as sobrancelhas.
- Serão barbatanas, mestre Cascudo? Venha ver. Por que não leva algumas para os seus meninos brincarem de chicote?
O besouro gostou da idéia e veio colher as barbatanas. Cada fio que arrancava era uma dorzinha aguda que a menina sentia — e bem vontade teve ela de o espantar dali com uma careta! Mas tudo suportou, curiosa de ver em que daria aquilo.
Deixando o besouro às voltas com as barbatanas, o peixinho foi examinar as ventas.
Que belas tocas para uma família de besouros! — exclamou.
Por que não se muda para aqui, mestre Cascudo? Sua esposa havia de gostar desta repartição de cômodos.
O besouro, com o feixe de barbatanas debaixo do braço, lá foi examinar as tocas. Mediu a altura com a bengala.
Realmente, são ótimas - disse ele. — Só receio que more aqui dentro alguma fera peluda.
E para certificar-se cutucou bem lá no fundo.
Hu! Hu! Sai fora, bicho imundo!...
Não saiu fera nenhuma, mas como a bengala fizesse cócegas no nariz da menina, o que saiu foi um formidável espirro — Atchim!... e os dois bichinhos, pegados de surpresa, reviraram de pernas para o ar, o príncipe tentando usar o guarda chuva para amortecer sua cadê, mas acabou sendo em vão e assim foram caindo em um grande tombo no chão.
Eu não disse? — exclamou o besouro, levantando-se e escovando com a manga a cartolinha suja de terra.
- É, sim, ninho de fera, e de fera espirradeira! Vou-me embora. Não quero negócios com essa gente. Até logo, príncipe! Faço votos para que sare e seja muito feliz.
E lá se foi, zumbindo que nem um avião. O peixinho, porém, que era muito valente, permaneceu firme, cada vez mais intrigado com a tal montanha que espirrava. Por fim a menina teve dó dele e resolveu esclarecer todo o mistério.
Sentou-se de súbito e disse:
Não sou montanha nenhuma, peixinho. Sou Lúcia, a menina que todos os dias vem dar comida a vocês. Não me reconhece?
Mesmo tentando de todo modo ser suave em suas falas, fez a maior expressão que o peixinho não soube identificar se era raiva ou apenas um questionamento!
- Era impossível reconhecê-la, menina. Vista de dentro d'água parece muito diferente...
Ficaram a conversar por uns instantes, isso enquanto ele observava a bonequinha toda torta recostada na árvore que Narizinho tinha adormecido.
- Quem seria esta senhora que carrega consigo? - veio a questionar o peixinho.
- essa é Emília minha melhor amiga!
- saudações senhorita Emília!
Sem obter uma única resposta apenas uma tentativa de expressão facial da boneca, o príncipe volta a questionar a menina.
- falei algo que a ofendesse?
- não Emília tem essa cara emburrada, por ser muda de nascença, nunca pronunciou uma palavra.
- queira me desculpar a indelicadeza! Mas não falo por mal, quero dizer que em meu reino temos um médico e cientista que é capaz de curar e tratar qualquer coisa! Soube até mesmo que ele fez um peixinho falar graças a uma fórmula para uma pílula que ele criou. Talvez a senhorita Emília queira experimentar?
- isso seria ótimo! Se a Emília falasse, seria a maior novidade lá no sítio! - indagou a menina.
- pois venha conhecer meu reino, lhe apresentarei a todas as maravilhas do fundo dessas águas.
E assim rapidamente os três seguiram entre as pedras e as águas até uma gruta e foram seguindo cadê vez mais fundo.
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Reinações De Narizinho
FantasyBaseado na obra de Monteiro lobato, Baseado no livro reinações de narizinho e no episódio o picapau amarelo 1977 da 1° versão do Sítio do Picapau Amarelo na Rede Globo.