Hospital branco

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Senti minhas pálpebras leves e tremeluzentes. Levantei-as, devagar. Não sabia onde estava, era uma confusão de branco, bipes irritantes, tosses,  conversas baixas e canetas arrastando no papael.

Ergui meu tronco e olhei em volta. Estava no que parecia ser um hospital, atada a um soro e a uma máquina que monitorava meus batimentos cardíacos.

Instantaneamente, senti uma fome horrível, como se eu não comesse a um mês. Minha garganta estava seca e minha voz, falha e rouca. Repeti a mesma palavra várias vezes até que saísse normal.

Minhas articulações estavam rígidas, como se enferrujadas por uma prolongada falta de uso. Dobrei meus braços e pernas repetidamente até que o movimento saísse mais natural e confortável.

Passei então a realmente observar onde estava. Olhei em volta, vendo cadeiras brancas vazias, algumas flores em um vaso ao meu lado esquerdo. "Que flor é essa?" Pensei, em mais um de meus devaneios inconvenientes. "Tenho certeza que conheço de algum lugar"

Fui interrompida com um som estranho vindo da beirada da cama. Era algo estrangulado, como uma presa amedrontada, encolhida contra a parede ao ser  encontrada pelo impotente predador.

Me deparo então com Castiel, com a cabeça deitada na cama por cima dos braços. Ele se remexia, suava, balbuciava palavras desconexas. Parecia estar em algum tipo de pesadelo. "Eu devia ter notado que tinha UMA PESSOA aqui antes"

Compadecendo de sua agonia, mexo-o levemente e chamo seu nome, na esperança de acordá-lo sem muito alarde. Como se tivesse acionado um mecanismo, ele acorda, jogando seu tronco para trás em um impulso, movimentando os braços num ato involuntário de proteção ao medo inexistente que sua mente atentou.

Assustada, me afasto rapidamente, batendo a cabeça em um ferro da maca, produzindo assim um som agudo e ligeiro. Esfrego o local agredido com o polegar e o médio, dirigindo minha atenção para Castiel. Este me encarava surpreso, ainda um pouco aturdido, como se não pudesse crer que eu estava ali.

- Seu idiota, você me assustou - Falei com fingida raiva - Onde estamos?

Ele ficou alguns segundos me olhando, e eu quase pude ouvir as engrenagens de seu cérebro sofrendo em processar  informação. Mais um pouco e começaria a sair fumaça de seu ouvido.

Até que ele finalmente respondeu:

- Você não se lembra? - Neguei com a cabeça, curiosa- Você estava no parque comigo quando caiu de repente. Disse que não estava bem. Aí eu te trouxe pra cá.

As lembranças daquele dia foram voltando em flashs e, pouco a pouco, meus rosto começou a queimar lembrando do modo como fui carregada e das palavras que eu o disse em meu momento de debilidade. Só podia ser isso, por que em perfeito estado jamais diria aquelas...mentiras, isso. Mentiras.

- O-o que aconteceu comigo? - O constrangimento não me permitiu manter a voz firme e acho que ele percebeu, pois deu um sorriso debochado de lado, que me fez corar mais.

- O médico disse que você levou uma picada de cobra - O olhei incrédula - E que foi muita sorte você ter sobrevivido.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, horrorizada, minha cabeça funcionando a mil. " Uma COBRA?! No meio de um PARQUE?! Como... Que tipo de ANIMAIS eles estavam criando lá dentro?!?!

- Uma... cobra? Mas... -Balbuciei, tentando colocar meus pensamentos em ordem. Castiel pareceu perceber minha confusão, pois explicou calmamente.

- Sabe aquele prédio atrás do parque? Aquela faculdade de veterinária? Bom, algumas cobras que tinham sido trazidas pra estudo acabaram fugindo pela aparente falta de cérebro dos funcionários. Ao que parece, não conseguiram recuperar todas.

Nosso Cão Do Amor(fic Castiel)Onde histórias criam vida. Descubra agora