Por Que Não?

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Eu tenho que dizer que estou me sentindo muito triste por este homem. Sério, ele está aqui chorando faz um tempo. Um bom tempo.

Todos que passam o observam.

Como um homem que a pouco estava tão feliz e nervoso, agora está tão triste?

Como isso pode acontecer em tão pouco tempo?

Vou te contar como, é só alguém aparecer, pisar em toda a sua esperança e pronto. Já está feita uma pequena receita de como fazer uma pessoa triste em tão pouco tempo.

Mas vamos voltar ao que interessa, ao homem aqui sentado.

"O que eu fiz de errado?" Ele diz apreensivo.

Nada. Quero poder dizer. Você não fez absolutamente nada e esse foi o problema.

"Ela era o amor da minha vida." Continua a chorar.

E o tempo passa.

O sol já está quase se pondo quando, bem de longe, vem uma mulher correndo. Ela está correndo rápido.

E é nesse momento que o homem levanta finalmente a cabeça e a vê. Linda e nervosa. Correndo bem rápido em sua direção.

"Miguel!" Ela está arfando. "Sabia que ainda estaria aqui."

"O que faz aqui?" Ele parece bravo.

"Eu trouxe sorvete." Ela estende um pote branco.

"Por que?"

"Minha mãe sempre dizia: tenha sempre no congelador um pote de sorvete." Ela sorri. Um pequeno e leve sorriso. "Nunca havia entendido o que ela queria dizer com isso, mas agora eu entendo." Ela abre o pote de sorvete e pega de sua bolsa duas colheres. "O sorvete sempre está nos piores momentos, nos términos de um namoro, ao assistir filmes deprimentes. E aí eu pensei: por que não nos melhores momentos? E o que melhor do que um pedido de casamento?" Ela lhe estrega uma colher.

"O que você quer dizer?" Ele estava confuso. "Por que você foi embora?

"Sinto muito."

"Eu também."

"Eu só queria tornar o especial ainda mais especial." Ela lhe dá um sorriso fraco.

"Com sorvete." Ele finalmente entende o que ela queria dizer.

"Por que não?"

E aí está. A melhor resposta que qualquer pessoa pode falar. Por que não? Por que não fazer aquilo? O que te impede de fazer qualquer coisa?

"Por que demorou tanto?" Ele realmente quer entender.

"Tive que correr a cidade inteira para achar seu sabor preferido." Ele sorri ao escutar a resposta.

"Então?" Ele pergunta para ter a certeza.

"Sim." E ele pega a colher, voltando a sorrir.

E em um piscar de olhos beijam-se. E a cada parada comiam uma colherada do delicioso sorvete enquanto lentamente anoitecia.

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