eighty-four

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janeiro, 2014. ☹

"você está em casa?" a voz de london ecoou nos ouvidos de shawn.

eram cinco horas da manhã. o moreno estava dormindo quando o telefone tocou, estampando a foto dele e da garota. blueberry era o nome do contato daquele dia. ele esticou o braço até o bidê e acendeu o abajur, atendendo a ligação.

"é óbvio, london." revirou os olhos. "o que foi?"

um ruído tomou a atenção de shawn. london parecia estar chorando, com a respiração mais pesada que o comum. ele chamou pelo seu nome, mas passos tomaram a ligação. mais ruídos.

"eu já não aguento mais isso, shawn. ele me bateu cinco vezes seguidas só hoje. eu sei que devia ter falado a verdade para você, mas ele está me ameaçando desde o começo. me perdoa, me perdoa." sussurrou com a voz desesperada, seu choro tomando conta de tudo.

o amigo saltou da cama. london não podia ter escondido isso tanto tempo dele, quer dizer, cameron e ela eram namorados há mais de um ano. só de imaginar a cena dele batendo nela, o estômago de shawn revirava.

"se acalma, por favor. você tá machucada?" perguntou desesperado.

"esses machucados saram em uma semana, shawn. mas e os outros machucados? os de dentro, esses nunca vão sarar. eu quero paz!"

os dois amigos choravam, cada qual no lugar que estavam. o relógio apontada quase cinco e dez, uma chuva forte estava para vir. as árvores balançavam do lado de fora e muitos trovões iluminavam o céu, iluminando também o quarto escuro de shawn.

"se acalma, eu tô indo aí. me espera!"

mas era tão tarde. era tarde demais para reconstruir e juntar os pedaços da garota de cabelos verdes. london derramava as lágrimas sobre o soalho, encostada na porta do banheiro. o barulho da água abafava o barulho das árvores.

ela colocou seu vestido branco, herdado da mãe. jurou para si mesma que não desistiria dessa vez. sabia que shawn jamais iria se perdoar, mas ela só desejava paz. estava cansada das galáxias pelo corpo, dos cortes fundos e dos arranhões. ela não queria mais ser um saco de pancadas, uma coisa insignificante na vida de cameron.

apesar de tudo, ela ainda o amava. amava cameron como se acreditasse na cura do câncer, num mundo feliz e colorido. merda, ela o amava mais que a si mesma. estava fazendo isso para ele também. talvez com isso, ele pudesse perceber a grande besteira que estava fazendo.

talvez perdendo london, cameron entendesse a dor de cada soco. cada tapa. cada vez que lhe fez de submissa.

vai ficar tudo bem. é tomar. você vai ter paz, querida.

remangou as mangas do vestido e se arrastou até a pia. a faca estava no canto da gaveta, o cabo branco camuflado com a cor do armário. tirou os perfumes da mãe da frente e agarrou a faca com euforia, seguindo até a sacada.

era certeiro ou apanharia de cameron por fazer isso. por esse motivo, london cravou a faca o mais fundo que pôde nos pulsos. primeiro no esquerdo, depois no direito. a dor estava ali. em carne viva. o sangue melando seu rosto, que era afagado por suas mãos. o piso branco manchava de vermelho.

essa dor não se comparava a dor de ser agredida pelo seu amor. nada faria london se esquecer. do primeiro tapa até o último, que ocorreu no mesmo dia à tarde.

quando sentiu que desmaiaria, deu fim a tudo.

        colocou todos os comprimidos na boca, tomando um grande gole de vodca. ela chorava. esperneava. queria morrer logo.

nunca soube que amar poderia machucar tão bem.

ela sentia que estava perdendo a consciência. estava chegando a hora. ela estava livre. poderia ter paz no céu?

então seis e dois. london estava morta.

shawn foi o primeiro a ver. ele arrombou a porta do quarto e desesperou-se ao ver os pingos de sangue no piso branco. quando ergueu a cabeça, viu o corpo caído atrás da cortina.

london rishtown.

morta.

shawn caiu sobre os joelhos ralados e chorou. chorou até não controlar os soluços. os pais de london olhavam tudo da porta, um consolando o outro.

mas quem consolaria shawn? quem seria capaz de lhe dizer que era tudo uma brincadeira.

não houve um adeus. nada. nenhuma resposta. só os gritos desesperados dele. os pedidos para que a garota de cabelos verdes voltasse. o sangue dela lambuzando a cara dele.

shawn perdia naquele momento um pedaço de si. ganhava uma dor sem tamanho, sem cura. um abismo no meio do peito que sugava seus órgãos, ferindo cada partícula dele.

ninguém conseguiria parar cameron. a sequência era clara; london, shawn. sem a garota, a próxima vítima da doença do rapaz só podia ser o moreno.

e a sequência aconteceu.

ta aí o "segredo" khhkjj eu chorei bastante escrevendo isso, to até desidratada

artwork ♍ shawn [book one]Onde histórias criam vida. Descubra agora