Capitulo 2

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Foi tudo rápido, maravilhoso. Os olhos comunicaram fogo, e as palavras trocaram paixão. Foi coisa de alguns segundos. Depois, um beijo que parecia selar amor de vários anos. Ao abandonar o palácio dos Capuleti, Romeu ia absorto, com o coração inquieto. Seus companheiros, Mer-cuecio e Benvoglio, que o haviam acompanhado, gracejavam ainda com êle, a respeito de Rosalina. Entretanto, o jovem levava Julieta no sangue. Sim: Julieta Capuleto. A filha do dono da casa em que se introduzira furtivamente.
Mercuccio mostrava-se falastrão e chistoso. Falava de Romeu ao amigo, e ambos nem perceberam que êle se ia atrasando no passo, e que, por fim, perdiam-no.
***

No jardim dos Capuleti. Um tanque. Talvez o coaxar de uma rã. Perfume de flores. Um repuxo de água sobre o tanque de mármore.
Julieta, em sua sacada, fala consigo mesma. Fala de Romeu... De Romeu, que ela agora sabe ser um Mon-tecchio.
Mas que significa Montecchio? Um nome não é a pessoa. O que chamamos rosa exalaria o mesmo perfume se a designássemos com outra palavra qualquer.
- Romeu, por que és Romeu?
È a voz desejada... A voz do amado, que surge entre os cravos e as rosas, como um acalanto sortílego da noite:
- Chama-me apenas "meu amor", e assim me batizarás de novo! De agora em diante deixarei de ser Romeu! Odeio meu nome, por ser êle o de um inimigo, a teus ouvidos. Se tivesse esse nome escrito em mim, eu o rasgaria.
O diálogo toma asas. As frases são cada vez mais ardentes. É tarde. De dentro da casa chamam Julieta. Ela entra. Torna a voltar, não consegue deixar a sua sacada.
- Não posso continuar aqui, Romeu querido. Só duas palavras. Se queres que eu seja tua esposa, comunica-me, por meio de uma pessoa de confiança que mandarei amanhã procurar-te, onde e a que horas queres que nos unamos pelo matrimônio. Ponho minha sorte em tuas mãos. Hei de seguir-te sempre, como a meu dono e senhor.
O sino do convento repicava, alegre. Chamava para a missa da madrugada. Como estavam felizes as andorinhas, sob os beirais! Uma porta na parte de trás do convento estava aberta. Entrou primeiro um homem. Fidalgo, revelava isso em seu porte. Depois, duas mulheres, uma donzela e sua aia. A igreja estava fechada. Não havia fiéis. Apenas um frade. Na mesa da comunhão, o homem e a mulher. Um tanto afastada, a aia. O frade abençoou-os. Acabava de casá-los.
O sol já estava alto. Era a hora em que o mercado refervia de gente, de gritos de mulheres e vendedores, dos cacarejos de galinhas, zurrar de burros, grunhir de porcos. Era difícil transitar entre os montes de verduras e frutas, de aves e ovos, de cordeiros pelados, de tecidos, de quinquilharias ...
Mercuccio e Benvoglio esbarraram com Teobaldo e alguns Capuleti. Houve troca de palavras. Depois, surgiram os aços. Houve um alvoroço de cestas pelo chão, bater de asas de aves, gritos femininos, correr de crianças. Esta-vam nos primeiros momentos da briga quando chegou Romeu. Coocou-se entre eles. Falava com humildade a Teobaldo. Pedia paz, pedia o fim da discórdia...
- Teobaldo, tenho motivos para apreciar-te...
O Capuleto mais e mais se fazia altivo, diante daquela atitude de Romeu.
Mercuccio, impaciente, surpreendido, humilhado, sal-tou, a espada já fora da bainha.
Romeu se interpôs, e Teobaldo aproveitou justamente a ocasião para ferir Mercuccio.
Romeu teve que sofrer a agonia do fiel companheiro, leve que vê-lo morrer por sua culpa. Pensar que exatamente êle tinha dado oportunidade à arma homicida do inimigo. À dor, juntou-se a ira. Uma sede de castigar o traidor, de vingar Mercuccio. Ainda conseguiu alcançar Teobaldo, que se afastava.. De novo as espadas reluziram.

Romeu E JulietaOnde histórias criam vida. Descubra agora