Capitulo 5 -Final

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Romeu quis evitar a luta, mas Paris cortou-lhe a passagem, desembainhando a espada. E o jovem esposo de Julieta só veio a saber quem era aquele seu inimigo ocasional quando Paris já estava estendido no chão, dentro de um charco de sangue, morto.
Romeu, porém, parecia insensível ao próprio espetáculo da morte. Febril, tomado por uma obsessão invencível, pôs-se a trabalhar com frenesi para levantar a pedra do panteão.
Ao retirá-la, a cavidade que deixava o subterrâneo a descoberto retumbou, com um ruído ôco, profundo. Exalações mefíticas saíam do fundo do sepulcro.
Romeu desceu, sem vacilar. A lâmpada que levava na mão ia mostrando as paredes despidas, úmidas, o corpo em decomposição de Teobaldo... e Julieta também ali estava. Intacta, como uma figura de cera.
Quando Frei Lourenço chegou, presumindo já desgraças irreparáveis, encontrou primeiro o corpo ensangüentado de Paris. Na cripta estava Romeu junto do catafalco de Julieta. O jovem também já não tinha vida. Bebera a morte, num frasco de veneno.
Julieta começava, justamente, a despertar. Terminavam os efeitos da droga absorvida.
- Onde está o meu amado Romeu?
O frade quis levá-la dali, para impedir que chegasse a ver o seu querido que jazia ali ao lado. Apressava-a. Urdiu uma escusa momentânea para conseguir que ela dali saísse enquanto ainda sob o estonteamento que a droga lhe produzira, mas tudo foi inútil.
Julieta precipitou-se sobre o cadáver de Romeu. Mostrava tal serenidade, expressava-se com uma tranqüilidade tão grande, que Frei Lourenço alarmou-se mais do que se a visse reagir com pranto e gritos desconsolados.
- Beijarei teus lábios! Talvez ainda exista neles um resto do veneno, para matar-me com seu conforto...
Os lábios de Romeu ainda estavam quentes.
Sem que o frade percebesse, ao mesmo tempo que os beijava, Julieta tirava o punhal que estava no cinto de seu amado, e, inclinada sobre êle como estava, apertou com fôrça a ponta da arma contra o próprio coração.
Todos os sinos dobram em tom plangente, lúgubre. A população em peso se aglomera, consternada, ao presenciar a passagem da procissão fúnebre. Pela primeira vez
Capuleti e Montecchi iam ao lado uns dos outros, em paz. E ninguém pensava em vinganças, em ódios. Seus resultados estavam ali, patentes demais, e de tal maneira se impunham a dor e o arrependimento por uma obsessão mantida cegamente durante tanto tempo, que em todos os corações floresciam idéias de paz e concórdia.
Ao chegar à frente do lugar em que o príncipe dispusera que se desse sepultura aos amantes, aquele fidalgo, diante dos representantes de ambas as famílias e do povo que assistia, comovido, à cerimônia, expressou em palavras o sentimento que já dominava a todos: a urgência de acabar com aquela luta fatal, o exemplo inegável em que se transformavam aquelas mortes e aquele amor dos dois jovens, vítimas do ódio.

Romeu E JulietaOnde histórias criam vida. Descubra agora