Primeira manhã de um longo outono, a primeira folha de Caurad cai graciosamente deslizando-se pelos raios de sol, recurvando-se e girando conforme a brisa seca bata fazendo-a girar de um lado a outro – a primeira folha a cair sempre era a de Caurad e a última também – mas esta pousava graciosamente, levada pelo pouco minuano que batia, em cima de uma pele branca e suja de barro.
Os raios do sol driblavam as folhas verdes das árvores e chegavam suavemente ao solo empoçado poças d'água que vibravam com os trotes pesados dos cavalos. O pelo branco dos cavalos reluzia com o brilho do sol, as armaduras de prata que as montarias usavam brilhavam como se a luz do sol refletisse em um espelho. Dois cavaleiros e ambos usavam uma loriga segmentada branca com o bordado de perfil de um bufalo-cinzento. Logo atrás o som de alguns passos e uma carroça puxada por dois cavalos marrons – ALTO!! – gritou uma voz rouca. Os passos pararam juntamente com a carruagem enquanto que um dos cavaleiros desceu de seu cavalo. Sir. Morgan Fh'reegh, um homem alto, moreno de cabelo longo e solto por cima dos ombros, forte, alto, literalmente uma porta e com cara de cavalo, nariz comprido e fino. Ao por os pés no chão, caminhou até uma poça de lama onde havia um moribundo deitado como se houvesse passado a noite inteira bebendo e estivesse na maior ressaca de sua vida.
- só mais um vagabundo, filho de alguma cadela que deve tê-lo jogado aqui – riu. – Vamos deixa-lo aqui e passar por cima – dizia em santa ignorância enquanto caminhava até sua montaria e montava – assim servirá de exemplo para outros... – com a marca das rodas e das patas em suas costas – foi interrompido por seu companheiro Sir. Devon Jagar. O homem que comandava a "expedição" por assim dizer. Homem de cavalo ruivo e sedoso, olhos azuis, rosto triangular com o queixo dividido, descrito pelas prostitutas como homem lindo e vim e cama.
- Com todo respeito, mas, não! Ponha-o na carruagem com os outros e o venderemos como um escravo, ou poderá ser nossa garotinha. – riu, desceu do cavalo e andou até a pessoa que se embebedava na poça de lama. Pôs o pé sobre o ombro do moribundo e o empurrou para que pudesse ver seu rosto. Um jovem, de seus aparentes dezessete anos, cabelo ondulado e negro, comprido até pouco acima do ombro. Rosto triangular porém, os músculos do maxilar o faziam parecer quadrado, a pouca barba negra que vinha desde a Suiça e formava um cavanhaque com bigode, uma barba não muito cerrada e sobrancelhas não muito grossas. Usava um robe azul-escuro com pelos de lobo-rajado na região da touca até o peito e surrado como se tivesse sido atirado aos cães e depois jogado para este rapaz. Trajava Brunea escamada como escamas de dragão, branca e, que por sinal, estava completamente destruída, com partes faltando como as ombreiras, às braçadeiras e metade do peitoral e cortes por todo o corpo.
- Temos um guerreiro! – Gritou com um sorriso enquanto alisava seu cabelo ruivo e sedoso.
- Há! Ah é?! Então que tal darmos um fim digno de um?
- Não. Ele terá um fim, mas não antes de lucrar. Já que aquele rei-de-bosta não nos paga bem.
- Quer vender esse para as arenas?
- É o que tenho em mente. Certo, traga a carroça mais para frente! – gritou ao cocheiro.
Ao ouvir o comando parou de contar seus Sterlines Reais e os guardou eu uma bolsa de Tempir, um animalzinho pequeno com a cabeça parecida com a de uma capivara mas o corpo era como o de um tatu, é possui a pele mais macia e barato para costura.
Pegou as rédeas e tocou os cavalos para puxarem as quatro carroças. A expressão de desgosto por fazer um serviço sujo era clara em seus negros olhos.- e os outros la dentro Sir.? - exibindo preocupação na voz.
- como? - Sir. Morgan Fh'reegh olhou com por cima do ombro esquerdo, semicerrando o olho direito e levantando a sobrancelha esquerda e engordando a boca num sorriso desgostoso.
- as carroças estão lotadas Sir. Morgan, elas foram projetadas para quinze pessoas cada. E estamos com vinte em cada. Além de que estamos viajando há uma semana, e cinco dos que apanhamos estão com febre. - explicava com cautela e cuidado nas palavras pois, poderia ter sua cabeça separada dos ombros.
- Vamos mata-los. Simples assim - solução encontrada por Sir. Devon. - pegue as chaves e os retire, vamos enforca-los nús.
- Certo Sir. - o coração do pobre homem chamado Morrigan se condoia, não pelos homens ou por suas famílias ha muito esquecidas, mas pela maneira desonrosa e vergonhosa de morrer. A maioria dos homens que estavam em "posse" de Sir. Devon Jagar e de Sir. Morgan Fh'reegh eram alguns escravos fugitivos que estavam a beira da estrada que foram ludibriados com palavras de liberdade e promessas de vida na capital com uma carreira próspera na guarda da cidade ou do estado, até mesmo do país ou, se dignos, como Platinas Douradas, a guarda real. Com tantas promessas é fácil um homem se iludir. Mas o mundo é um lugar cruel, principalmente em época de crise financeira no país.
Os olhos de Morrigan eram amendoados e possuia bolsões abaixo deles com várias olheiras, o que marcava bem as expressões de pena que exalavam apenas de seus olhos. Agarrou as chaves que estavam presas à cintura e desceu da carroça.O breu cegava, o cheiro de urina, suor, sangue e doença estava pelo ar. Além de não se poder enchergar nada e o cheiro desagradável, ainda era necessário ficar contra a parede de madeira. Sentar-se era impossível, o menor contato com o chão seria suficientemente grande para adoecer, é ficar de pé seria ainda pior, pois, a altura que se podia chegar de pé era de aproximadamente um metrô e meio. Totalmente desconfortável. E, como se não pudesse piorar, o tempo todo a "estadia" pipocava. Alguns ja estavam li ha mais tempo que outros. De repente um balanço forte sacode a todos.
Um homem que estava dormindo ha um tempo significativo acordou com um salto e velocidade, bateu a cabeça na madeira que fechava o recinto.- O que é isso?! - perguntou a voz grossa, apavorada e ofegante.
- Relaxa amigo, estamos todos no mesmo barco - respondeu uma voz mais velha. - só não se assute.
- O que? Quem...? Não estou vendo nada.
- Claro, eles fizeram questão de que isso fosse desconfortável o suficiente pra não podermos descansar direito ou enxergar algo pra poder fugir. - retrucou uma outra voz um pouco mais jovem.
- O que é isso tudo??
- O Governo. É isso. Guardas de Jades nos puxaram aqui e sabe-se lá Kroatoz o que farão conosco. - respondeu uma terceira voz, só que esta parecia doente.
- Estamos sendo levados para a Capital de Jades nesta linda, imensa e luxuosa carruagem - sarcasmos aparte da voz mais jovem.
De repente a carroça parou com um solavanco nada confortável, fazendo com que àqueles que estavam de cócoras caíssem sentados em cima do chão com urina seca, vômito e encardido. A porta abriu-se para cima e a luz do Sol entrou por entre a copa das árvores, para dentro da carroça, pela primeira vez, depois de uma semana.
- Todos vocês! - gritou Sir. Morgan - Virem-se! E quem tentar alguma gracinha eu furo! E deixo aqui mesmo, nesta imundícia!
Todos os homens que estavam na carroça viraram-se enquanto Morrigan jogava o recém-capturado para dentro e puxava com força um rapaz que aparentava ter quinze anos e idade. Cabeça rapada, olhos inchados e mal conseguia mover-se.
- Este é um deles? Indagou Sir. Devon.
-S-sim senhor.
- Quais são os outros?
- Há um velho mais para o fundo aqui e os outros três estão na outra carroça.
Sir. Morgan subiu à carroça e retirou as algemas que estava prendendo o velho, um homem careca e enrugado. Ao ser jogado para fora da carroça o velho balbuciou algo para o homem de voz grossa com quem conversara anteriormente, um negro extremamente alto e careca, literalmente uma montanha escura - não olhe -, e estas foram as últimas palavras do homem.
Sir. Devon despiu os dois homens de duas túnicas e os pôs ajoelhados. Sem dar-lhes sentença ou dizer-lhes qualquer palavra, Sir. Devon Jagar cortou-lhes a honra seguido de Sir. Morgan que passava por entre seus pescoços uma corda, que passava por cima de um galho alto, suspenso logo acima de duas cabeças e acabava amarrado em uma das carroças.