Geralmente a gente só se dá conta de que está no fundo do poço quando percebe que não há esperança de um futuro. Talvez ele até exista, mas seja não tão digno como aquele que sonhamos por toda nossa vida. Aos cinco anos de idade eu sonhava em ser astronauta. Meus dias se resumiam em planos mirabolantes e desenhos grotescos, fruto da imaginação de uma garotinha de 5 anos, das astronaves que eu usaria para desbravar vários planetas. Aos 7 eu sonhava em ser jogadora de futebol, e ainda cogitava a possibilidade de jogar futebol em Marte e ensinar a todos por lá a jogar. Vai entender a cabeça de uma criança de 7 anos. Aos 10 eu havia acabado de perder minha avó e eu me sentia sozinha e desolada. E quando a pior parte do luto passou tudo o que eu queria era ser médica para salvar todas as avós do mundo pois acreditava que ninguém deveria perder alguém tão precioso em suas vidas. Aos 13 meus planos haviam mudado novamente e eu sonhava em ir pra faculdade de arquitetura e me tornar uma arquiteta renomada. Esse último durou até quando impensadamente eu decidi fazer a maior burrada de toda a minha vida.
Claro que na época não me pareceu algo ruim, e você deve estar se perguntando o que foi que eu fiz. Mas veja bem, na verdade não havia como eu controlar. Eu me apaixonei. A história foi mais ou menos a seguinte: eu nunca gostei de ir muito em festas, preferia mais ficar em casa com minha família, mas então em uma das festas as quais Verônica havia me arrastado, isso durante o último ano do ensino médio, eu conheci um cara mais velho e cai de amores por ele. Começamos a namorar mas ninguém aceitava nosso relacionamento, e eu não entendia o porquê, pois ele parecia um cara tão legal e atencioso, mas nem mesmo Verônica gostava dele e ela se martirizava a todo momento, chegando a desejar nunca ter me levado para tal festa. Meus pais nem se falem, eu não suportava ficar em casa pois sabia que eles começariam a falar mal do Mark, e hoje juro que queria ter dado ouvido a eles. Mark estava acabando a faculdade de advocacia e em meio a um dos vários momentos íntimos que tínhamos ele propôs a maior burrada de minha vida, e eu como uma adolescente apaixonada aceitei.
Eu fugi. Fugi de tudo, da minha família, dos meus amigos. Logo após a formatura eu fugi com Mark agarrada a promessas, fugi pois achava que minha felicidade estaria ao lado dele. Mas eu não podia estar mais enganada, e agora talvez fosse tarde demais.
- Mamãe? Você não vai me levar pra escola? - ouvir aquela vozinha da única pessoa capaz de me manter em pé me despertou do transe e eu mecanicamente fechei a porta e me ajoelhei a sua frente para ficar a sua altura.
- Vou sim meu anjo. Você comeu as panquecas que mamãe fez? - perguntei e a vi acenar com a cabeça - Escovou os dentes? - ela acenou novamente com um sorriso radiante no rosto e apesar de todos os problemas me peguei sorrindo também. - Ótimo, me espere aqui. Eu só vou tomar um pouco de água.
- Tudo bem mamãe, mas não atrasa, hoje tem aula de artes! – Harper gritou da sala enquanto eu ia até a cozinha pegar um copo e tentar me acalmar, pois eu precisava tentar, não apenas por mim mas por minha filha.
Eu precisava tentar seguir em frente. Há dois dias eu soube que Mark havia sido morto. E eu tentei sentir alguma coisa, tentei chorar, tentei sentir remorso, pena, desespero. Qualquer coisa seria válida. Mas eu não sentia nada, simplesmente nada. Eu já sabia há muito tempo eu deixei de ama-lo, e no fundo eu sabia que ele também não me amava, pelo menos não mais. E apesar disso a gente ainda permanecia junto por causa de Harper. E isso era o que importava. O amor incondicional que tínhamos por ela.
Porém tudo o que eu não havia sentido há dois dias atrás, ameaçava vir com tudo agora. Todos os podres de Mark estavam vindo à tona e agora eu tinha que sair da casa onde morava em dois dias, pois a mesma estava hipotecada. Sem nenhum centavo no bolso. Eu sei que deveria estar nervosa, puxando os cabelos, chorando até as lágrimas secarem. Mas eu sabia que não poderia fazer isso. Isso parecia o fim do mundo, mas eu não deixaria que isso se concretizasse. No fim das contas eu sou uma Jauregui e os Jauregui não desistem de nada, são teimosos e lutam até o fim. Essa era eu colhendo os frutos de um erro que havia cometido há cerca de cinco anos atrás. Isso doía, claro que doía. Eu tinha vontade de chorar, de me trancar pro mundo e nunca mais sair dali. Mas ao invés disso vesti apenas uma máscara e decidi encarar aquilo de cabeça erguida. Era hora de fazer o impossível por mim e minha filha. E que seja o que o destino quiser.
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Sunday Morning
FanfictionGeralmente a gente só se dá conta de que está no fundo do poço quando percebe que não há esperança de um futuro. Talvez ele até exista, mas seja não tão digno como aquele que sonhamos por toda nossa vida. Aos cinco anos de idade eu sonhava em ser as...