Fantasma Real - Juliana

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Eu corro para casa, tentando entender o que acabou de acontecer. Penso em chegar contando aos meus pais, mas esqueço o quão extremista a minha mãe é. Enquanto desacelero o passo, percebo que o que eu acho que acabou de acontecer é impossível, e eu apenas devo estar muito impressionada. Não posso dar o gostinho aos meus pais de realmente ter algo. Mas e se eu tiver? E se eu voltar a ver coisas? Decido que preciso falar com meu pai sobre isso mais tarde.
Entro em casa meio desajeitada e eles estão tomando café, enquanto o Vítor brinca no chão da sala. Eu corro dar um aperto nele. Cumprimento meus pais apesar de ainda estar meio perturbada. A minha vontade é despejar tudo alí, e saber de vez qual é meu problema, mas decido esperar.


Eles perguntam pelo Rafa, o que me faz lembrar que ele está estranho, perguntam sobre como foi na casa de Micha e eu lembro do quadro. O que me causa uma somatória de apreensões. Digo que vou subir trocar de roupa, e deixar as fotos no quarto. Enquanto subo, penso se foi boa a ideia de eu preparar algo na homenagem. Digo que não em casa, mas sou tão passiva de ser afetada por esse tipo de coisa. Mas acho que meus pais sabem disso. Jogo a caixa em cima da cama, troco de roupa e desço pra comer algo. Minha mãe decide tomar banho. É a hora exata de perguntar ao meu pai. Depois do bolo, depois do bolo pergunto qualquer coisa.


- Pai, se alguém ver algo impossível de ser visto, não quer dizer que a pessoa esteja louca, ou com algum problema psíquico? Quer? - Pergunto pensando na resposta.


- Depende de uma série de fatores, de histórico, de frequência. - Ele me fala, com cara de curiosidade. - E se a pessoa tem certeza que viu algo, ou acha que viu, faz muita diferença também. O que andou vendo filha?


- Bom pai, eu não tenho certeza, mas quando estava voltando acho que vi o amigo do Rafa. - Eu falo envergonhada.


Rindo e saboreando seu café, ele diz;
- Você ainda é uma garotinha impressionada. Sua mente está um tanto obcecada com isso, talvez precise de um tempo pra você e seus amigos absorverem isso. Era um lugar com muita gente? - Pergunta.


- Na rua do Passeio Público. Sim, tinha bastante gente. - Percebo mesmo que pode ter sido ilusão.


- Então é isso filha, não é nenhum caso esquizotípico. Só creio que não deva contar a sua mãe, caso queira ter paz.


Eu agradeço, muito. Foi um tipo estranho de alívio. Eu fico mais um pouco e decido subir e assistir um filme pra espairecer. Olho para o celular e nenhuma mensagem do Rafa, isso não é normal, mas tenho que entender. Eu guardo a caixa de fotos não quero mexer com isso agora. Escolho um filme "Vivendo para Sempre", que me parece legal, exceto pelo fato que o ator lembra muito o Micha. Mas não tanto a ponto de eu desistir do filme, que assim que termina me faz ter a sensação de querer viver algo mágico, aquelas coisas de adolescente inconsequente, ou loucos. Sinto que não devo mais fugir da missão e pego a caixa de fotos.

O Micha tem muitas fotos com o Rafa quando pequenos, uma variedade imensa, o que me faz sorrir em pensar num laço tão bonito. Ele tinha uma cara mais feliz quando criança. Vasculhando, em meio a fotos rasgadas que deduzo serem da mãe do Micha, vejo um homem altivo e de farda de policial, segurando o Micha no colo, só então percebo que é o pai dele, que hoje em dia está tão doente. Não dava pra imaginar. Separo algumas fotos pra scanear, irei fazer uma linha do tempo e dar algumas legendas pras fotos. Sei que não o conheço muito, mas posso dizer da amizade dele e do Rafa ao menos.

Mais a fundo da caixa encontro convites de bares, um cartão de um barman chamado Cristian, algumas cartas, amareladas e que assinam pelo nome de Laura e se destinam a Daniel, eu não deveria ler, mas a curiosidade me faz passar os olhos, nada que eu tenha absorvido realmente, sei que são da mãe dele para o pai.

Eu te ViOnde histórias criam vida. Descubra agora