If They Only Knew.

23.

NARRADOR POV

Dois dias haviam se passado desde o dia que Lauren foi ameaçada por Austin, e o mais importante, desde o dia que Lauren havia sido obrigada a deixar a única pessoa que fazia seu coração bater rápido por conta da felicidade que ela sentia quando estava com Camila.

"Só mais um" Ela disse enquanto a lâmina afiada passava mais uma vez em uma linha grossa no pulso de Lauren, seu rosto estava palido e sua boca seca por conta da quantidade de sangue que ela já havia perdido.

Aqueles olhos verdes brilhantes já não se encontravam lá, tudo que se via era pura dor, angustia e sofrimento, ela gostaria de ter sua pequena lhe beijando e dizendo que tudo iria ficar bem, mas não, ela não podia.

Depois de ter se certificado que a porta do banheiro estaria trancada e que seu braço estaria enfaixado para não sujar suas roupas ou os lençóis da cama quando fosse se deitar, Lauren adormeceu lá mesmo, naquele chão que ela já havia passado milhares de noites por conta de momentos como esse.

"MAS QUE INFERNO!" Camila gritou e jogou suas duas mãos contra as teclas de seu piano, ela estava tentando inutilmente tocar uma de suas músicas favoritas, mas os pensamentos perturbadores sobre Lauren estavam a assombrando.

Camila estava com nojo de si mesma, mas não nojo de deixar uma pessoa que seus pais sempre ensinaram a nunca se meter com gente desse tipo, mas sim nojo de ter sido tola o bastante para acreditar em Lauren e em suas palavras, de ter prometido para si mesma que iria cuidar de Lauren com todo o carinho e amor que ela parecia merecer, ela estava apaixonada, fazer o que?

Passos foram ouvidos vindo da escada, Camila fechou os olhos com força e torceu o nariz, se lembrou de como havia gritado alto um palavrão que nunca deve ser dito em sua casa e que provavelmente um dos seus pais iriam ao seu quarto.

"Camila, me deixe entrar agora." Voz feminina, era sua mãe. E para sua má sorte, a mais rígida.

Camila foi com calma e abriu a porta encontrando sua mãe com as mãos na cintura e seu pai com os braços cruzados atrás dela, chegava até ser engraçado o jeito que eles ficavam da mesma forma há anos quando estavam bravos, eles eram o típico casal que se encaixavam perfeitamente e Camila por um momento pensou se poderia ter sido assim com Lauren.

Não pense isso Camila, absolutamente não.

"O que eu lhe digo desde criança sobre palavras de baixo calão dentro de casa? E até fora, Camila. Por Deus, você ve o pecado carregado na palavra que você acabou de berrar?" Sua mãe começou.

"Desculpa mãe."

"Só isso que tem a dizer para sua mãe?"  Agora foi a vez de seu pai dizer, ele a encarava e Camila se encolhia cada vez mais.

Camila pensou que já havia apanhado e aprendido coisas da pior forma possível com seus pais por motivos que qualquer criança entende ou já passou por isso, imagina se um dia eles encontrassem sua adorada filha com uma pessoa como Lauren?

Só de imaginar a dor que ambas passariam, seu coração se apertou.

"Eu estava brava, disse a palavra sem pensar, desculpa"

"Não quero saber de desculpas, não quero esses tipos de palavras e ponto. Da próxima vez, não vai ser só um aviso."

Camila estava cansada. Além de estar exausta sentimentalmente e mentalmente, ela estava casada da vida que ela havia levado durante todos esses anos.

Todas as regras, os sermões, e as manipulações. Camila sentia que tudo o que ela fazia de bom, seus pais a retribuiam com dinheiro e não com o que ela sempre deveria ter tido desde sua infância, amor de mãe e pai.

"Talvez viver na pele de uma pessoa que não se importa com absolutamente nada além de se divertir por uma noite, não deve ser tão ruim assim." Camila pensou, e automaticamente se lembrou da primeira festa que foi onde se encontrou com Lauren, quando os castanhos estiveram nos verdes pela primeira vez.

É isso, ela precisava de uma fuga daquele mundinho pequeno, e só quem a fazia fugir desse caos era Lauren e ela não podia ter mais, nunca mais.

Então por que não uma festa?

Talvez porque Camila fosse inocente demais para ir sozinha a uma festa onde ela não pensaria malícia nenhuma sobre nenhuma pessoa, pois era boa e pura demais. Mas isso nem passou pela sua cabeça e quando viu já estava ligando para Julian.

"Juli?"

"Hmm.. Camila, oi?" A pessoa no outro lado da linha respondeu com uma voz sonolenta.

"Hoje e sexta e bem... Sei que vai em alguma festa."

"Tá, agora você me acordou, fala aí." Julian respondeu e Camila fechou os olhos e deu um longo suspiro.

"Quero que me leve para essa festa."

"Mas-"

"E se negar, que sei que iria fazer isso, eu conto para seus pais tudo o que sei." Antes de Julian formular sua frase, Camila o cortou, o ouvindo murmurar um "sim" fazendo-a sorrir, vitoriosa.

"Te pego às 22h. Inventa algo esperto para seus pais, porque provavelmente vamos dormir fora. E ah... Vai ser na casa do Austin, tem problema?"

Austin. Camila lembrava exatamente de cada cena do dia em que Lauren provavelmente quebrou o nariz do garoto, por sua causa.

"Não, problema nenhum." Ela respondeu e se despediu de Julian, vai ser sua primeira festa sem Lauren e Camila se sentia extremamente vazia antes mesmo de ter chegado a hora da festa, mas nada que alcool não resolva, não é mesmo?